Quando Saulo "Viu a luz" no caminho de Damasco Ver Atos 9:1—20., experimentou o que hoje em dia poderia chamar-se uma reviravolta. Em pouco tempo a meta que dominava sua vida mudou: em vez de tentar esmagar o cristianismo, passou a promover seu firme crescimento. Até aquele momento, ele fizera o que lhe parecia certo, com um conceito de justiça baseado na instrução religiosa que recebera como judeu altamente instruído, ou seja, como fariseu. Agora, porém, tomado de um conceito irresistível e mais elevado daquilo que era certo, submeteu suas letradas opiniões à Mente do Cristo.
Saulo, porém, não foi o único que sofreu uma reviravolta. A luz que temporariamente o cegou foi a repentina iluminação de sua consciência, pelo Cristo, a Verdade imparcial, que, como Cristo Jesus exemplificou, destrói a doença, destrói o pecado e age no sentido de abolir toda forma de servidão que o conceito material de existência pretenda impor à humanidade. O Cristo, a Verdade, que levou Saulo a submeter-se com humildade ao renascimento de objetivos, também deve ter agido poderosamente sobre os cristãos daquela época, causando uma reviravolta nas opiniões que eles tinham acerca dele, pois estavam acostumados a reconhecer nele um perseguidor.
Ananias, sob o impulso divino de ir ao encontro de Saulo, primeiro hesitou. Os outros cristãos, seus companheiros, também devem ter sentido essa relutância. Aí estava um homem que três dias antes era um temido inimigo do movimento cristão, empenhado em capturar e processar todos os que seguiam os ensinamentos de Jesus. Tendo Saulo causado tanto sofrimento aos cristãos, deveria agora Ananias ir socorrê-lo? Tudo indicava que esse homem poderia, a qualquer momento, recomeçar a perseguição. No entanto Ananias, transformado também pelo Cristo imparcial a quem servia, obedeceu e foi ao encontro de Saulo e este foi curado da cegueira. Com o tempo, até as diferenças entre Saulo e os líderes cristãos foram sanadas. E os cristãos aceitaram, como irmão e líder de missões junto aos gentios, esse ex-inimigo deles, que agora adotara o nome de Paulo.
A história da conversão de Paulo, além de ser exemplo dramático do poder do Cristo para vencer a justificação própria em nível individual, é portadora, outrossim, de uma importante mensagem sobre a natureza universal do Cristo. Elevando o pensamento acima de perspectivas facciosas que parecem tão naturais aos mortais, o Cristo leva-nos a um nível mais alto: rumo ao verdadeiro conceito do homem como imagem e semelhança espiritual de Deus, a Verdade e o Amor divinos. Uma reviravolta impelida pelo Cristo, um afastar-se da facciosidade em obediência às exigências mais elevadas do Amor universal, nunca se confina ao indivíduo mais diretamente afetado. A Verdade, aceita e compreendida, pode não só regenerar um indivíduo, como também auxiliar a despertar espiritualmente os que são alcançados por seu pensamento, chegando a abençoar, assim, nações e até mesmo gerações por vir.
É incomensurável o benefício que a transformação de Paulo trouxe à humanidade. Este tornou-se o mais eficiente missionário de seu tempo, quando aquiesceu a um sentido mais espiritual de justiça. Seus escritos e atos, vibrando com o vigor dessa visão inspirada, agiram como poderosa influência para o bem, em todas as épocas.
O que podemos nós aprender hoje, da lição que Paulo e seus colegas cristãos aprenderam há tanto tempo? Em um mundo visivelmente mais fragmentado do que nunca, devido a pontos de vista facciosos, a necessidade de se conhecer o Cristo aparece nítida, pois o Cristo age imparcialmente para o bem de todos. Sentindo a impropriedade da negociação humana para resolver grandes diferenças, muitas pessoas no mundo inteiro estão volvendo-se a Deus em oração pela paz, tal como os primeiros cristãos devem ter orado por alívio da perseguição que lhes era infligida pela justificação própria que havia incitado Paulo, antes de sua conversão.
A oração que reconhece o poder do Criador para manter a criação em sintonia com Sua lei universal, capacita-nos para perceber, tal como Paulo escreve, que "todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." Romanos 8:28. No entanto, a oração que reconhece o poder total do Criador tem de rejeitar a facciosidade, a fim de levar a experiência humana a estar de acordo com a justiça de Deus e reconhecer a imparcialidade absoluta da lei divina, ou seja, da Ciência divina.
A Sra. Eddy escreve: "As modificações nas crenças podem ocorrer indefinidamente, porém não são mais do que mercadorias do pensamento humano, e não produtos da Ciência divina." No parágrafo seguinte, ela continua: "Na Ciência divina, em que as orações são mentais, todos podem valer-se de Deus como 'socorro bem presente nas tribulações'. O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas."Ciência e Saúde, pp. 12—13.
O Amor infinito, que é Deus, não sabe de misturas entre pontos de vista certos e errados. Para ser infinito, Deus pode ser apenas um. Ele só pode conhecer e defender Seu próprio ponto de vista: Seu conhecimento absoluto de que a criação é perfeita. Sua onipotência, invocada e reconhecida, remove da experiência humana a falsa evidência de estarmos separados de Deus e de Sua harmonia universal, essa falsa evidência que os mortais chegaram a aceitar, erroneamente, como real. A cura vem quando temos confiança implícita na manifestação da capacidade dessa verdadeira idéia da natureza e do poder de Deus. Essa confiança solapa e, por fim, destrói o falso conceito de uma realidade na qual as coisas não "cooperam para o bem": uma "realidade" mortal que divide, polariza e resiste a tentativas de harmonizar e unir. Conquanto a salvação seja individual, essa oração e a regeneração por ela inspirada preparam o caminho para transformações em nós, nos outros, em líderes mundiais e em nações, reviravoltas que trarão verdadeiras mudanças, levando a justificação própria a ceder à vontade de Deus.
A mortalidade é uma imagem falsa e invertida da realidade imortal de Deus. A Sra. Eddy explica: "Deus cria e governa o universo, inclusive o homem. O universo está cheio de idéias espirituais, que Deus desenvolve, e elas obedecem à Mente que as cria." E, logo adiante: "Os mortais não são, como os imortais, criados segundo a própria imagem de Deus; mas como o Espírito infinito é tudo, a consciência mortal cederá finalmente à realidade científica e desaparecerá, e o conceito verdadeiro acerca do ser, perfeito e para sempre intacto, aparecerá."Ibidem, p. 295.
A regeneração exige de nós muitos sacrifícios à medida que nos despojamos da mortalidade em troca da imortalidade. Mas, com toda a certeza, nenhum sacrifício é mais valioso ou frutífero do que a imolação de nossa própria autojustificação, a rendição dessas meras opiniões humanas sobre motivos, intenções e desejos dos outros, pois embora pareçam tão justificadas, no entanto, podem estar completamente equivocadas.
À medida que os nossos próprios preconceitos cedem ao ponto de vista do Cristo universal, nossa consciência purificada ajudará a promover aquelas reviravoltas, ou renascimentos de perspectivas e propósitos espirituais e lutas por reformas, as quais levarão progressivamente a humanidade a despertar para a realidade espiritual. À medida que o real se tornar mais e mais visível, estaremos prontos a perdoar os erros e facções do passado, nossos e de outros, e a acalentar o desenvolvimento de qualidades cristãs naqueles que um dia julgáramos serem nossos inimigos.
