É horrível sentir-se culpado por algo de ruim que aconteça a outra pessoa, mesmo quando a culpa é só parcial. Vem o desejo de fazer alguma coisa para eliminar os efeitos maus, tanto na outra pessoa como em nós mesmos. Entretanto, o pensamento: "Foi culpa minha", às vezes nos bloqueia. Para nos vermos livres desse sentimento de culpa, talvez fiquemos tentados a colocar a culpa em alguém mais, ou em alguma outra coisa.
Há alguns anos, minha filha ficou doente durante sua estada em casa de parentes. Eu comecei a me embrenhar nesse processo de culpar alguém e sentir que a culpa era minha. Ao orar pela menina, no entanto, percebi que esse sentimento era uma espécie de contágio mental, fazia parte da crença de que as pessoas possam passar para outras o mal, a má vontade, a falta de responsabilidade, assim como a doença. Vi que eu estava me culpando por ter deixado minhas filhas ir passar uns dias com os parentes. Estava culpando os familiares por não terem orado como deveriam pela criança. Também me culpava por achar, erroneamente, que eu não era uma Cientista Cristã à altura da necessidade, pois a cura não havia ocorrido imediatamente.
Aí veio-me ao pensamento uma frase de Ciência e Saúde, da Sra. Eddy: "A intercomunicação se faz sempre de Deus para Sua idéia, o homem."Ciência e Saúde, pp. 284–285. Entendi com clareza que eu não precisava aceitar a noção de que o ser existe na matéria e que portanto a vida é uma espécie de interação entre uma enorme quantidade de seres humanos e elementos materiais. Essa premissa, embora amplamente aceita, é claramente refutada na afirmação que acabei de citar e não corresponde ao que a Bíblia revela sobre a vida.
A começar pelo Gênesis, e na Bíblia toda, até o Apocalipse, somos levados a ver que a vida espiritual é que é a verdadeira, a vida que se origina em Deus. O relato da criação, no primeiro capítulo do Gênesis, mostra que a vida é o desdobramento espiritual e mental das idéias de Deus, da Mente. Essas idéias mantêm uma relação de inseparabilidade com a Mente. Esse capítulo descreve o homem como a imagem e semelhança de Deus, tendo relação direta e imediata com Ele, assim como uma imagem no espelho tem relação direta com o original. As idéias que estão na Mente nunca podem, é claro, cair fora da Mente, nem podem ter uma influência negativa umas sobre as outras, porque tudo o que Deus criou é "muito bom". Ver Gênesis 1:31.
Os pensadores espiritualizados, nos tempos do Antigo e Novo Testamento, deram incontáveis provas de que a vida do homem é a expressão direta, o resultado imediato, de Deus, e de que essa verdade é uma lei do bem, que anula a atividade prejudicial, mortalmente "colateral". Moisés foi um desses pensadores. Liderando os filhos de Israel para fora do Egito, levou-os em solo seco através do Mar Vermelho, muito embora, de acordo com o raciocínio material, as águas devessem submergi-los. Cristo Jesus deu provas da existência dessa lei de Deus quando curou as multidões, alimentou milhares de pessoas com alguns pães e peixes, acalmou tempestades e ressuscitou mortos. Como diz a Sra. Eddy: "A lei de Deus está em três palavras, 'Eu sou Tudo'; e esta lei perfeita está sempre presente para reprovar qualquer pretensão de outra lei."Não e Sim, p. 30.
Em realidade, o adversário contra o qual temos de lutar, nos problemas humanos, é justamente esse erro básico de se crer que a vida se desenrola na matéria, entre seres mortais. Essa noção errônea diz que nós passamos e repassamos a doença de uns para os outros. Ela nos faz atribuir a culpa uns aos outros pelo suposto contágio e espalhar a má notícia, ampliando ainda mais o medo e o sentimento de vulnerabilidade. Todavia, como Deus é Vida e todo o ser é o desdobramento que Deus faz de Suas próprias idéias, tudo o que atinge as idéias dEle vem dEle mesmo e é bom. A doença não pode ser espalhada pela matéria e pelas mentes mortais. E o medo da doença é silenciado quando abandonamos o falso senso de culpa e cedemos ao governo direto de Deus sobre todas as coisas, governo esse que desmascara a irrealidade da doença.
A crença de que a vida é interação e reação mortal se apresenta de diversas maneiras. Por exemplo, diz que ao nos movermos como corpos mortais entre outros elementos materiais, não podemos evitar certa dose de impacto e prejuízo acidentais. Como, porém, a existência é, em realidade, aquilo que a Mente sabe de sua própria criação, as idéias da Mente estão em segurança nessa mesma Mente e não podem se separar de Deus nem colidir umas com as outras. O pecado também tem suas raízes na noção de um ser colateral. Os mortais acham que precisam interagir com outros mortais e outros elementos materiais para conseguir felicidade e satisfação. Dessa forma, tornam-se viciados, dependentes, aprisionados e até mesmo fatalmente afetados pelos elementos e ações nos quais se embrenharam. Na realidade, porém, Deus é a fonte de bênçãos incessantes e bondade infinita, e Suas idéias não carecem de nada. Elas são inseparáveis da fonte de todo o bem, Deus. Não existe nenhum anseio pecaminoso ali, onde todas as necessidades são satisfeitas diretamente por Deus.
Como é libertadora a proclamação espiritualmente radical, que a Ciência Cristã faz, de que a vida real não é um emaranhado de moléculas mortais, mas sim a manifestação infinita de Deus, a Mente. Nós somos as idéias do próprio Deus. Estamos seguros em Seu amplexo, totalmente sustentados, regidos e gloriosamente governados.
A luz do ser real transforma, progressivamente, nossa atual compreensão diminuta, à medida que damos lugar a Deus e paramos de asseverar um senso pessoal de mente e de existência separadas de Deus. Isso traz consigo um amoldar-se a Deus, o que redunda em cura na experiência humana, como aconteceu com minha filha no caso mencionado anteriormente.
Naquela noite, ao orar, senti um senso renovado de que o ser real é espiritual, procede de Deus e é um com Ele. Foi silenciado todo sentimento de culpa e toda tendência de culpar outros. Fui levada a estudar novamente a Lição Bíblica daquela semana, constante do Livrete Trimestral da Ciência Cristã, que incluía a história de Hagar e Ismael, prestes a morrer de sede no deserto, após terem sido expulsos do clã de Abraão. Li um versículo que trouxe a cura completa a meu coração: "Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o anjo de Deus chamou do céu a Hagar e lhe disse: Que tens Hagar? não temas; porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está." Gênesis 21:17. Eu pensei: Deus atendeu à necessidade da criança diretamente, não através de Hagar. Então Deus está cuidando diretamente de minha filha e ela não precisa de mim nem de outra pessoa para encontrar o ser harmonioso. Minha responsabilidade era ficar firme nesse fato espiritual da relação direta do homem com Deus. Senti, com certeza absoluta, que a menina estava em segurança. No dia seguinte tive notícias dela. Estava tudo bem. Nunca mais foi mencionado o problema. O mal-estar passou e todos os sintomas desvaneceram-se rapidamente.
A oração, a comunhão com Deus, eleva progressivamente e para sempre nosso sentido de vida, acima da barragem constante de uma suposta existência material, para a Vida divina. Aprendemos mais a respeito do domínio que temos, aqui e agora, e passo a passo percebemos a lei divina do bem, que expulsa o senso de mal de nossa experiência. Isso elimina a tendência de culpar os outros ou a nós mesmos, remove o que quer que pareça dar causa, origem, lei e realidade a qualquer forma de contágio. Sentimos a libertação que cura e que vem da consciência de que todas as idéias de Deus são inocentes. O ser é a expressão direta das idéias da Mente e Deus somente é responsável pela bondade infinita do ser.
