O Natal mais memorável que eu já tive foi o de 1944, o primeiro passado longe de casa, quando eu estava na Alemanha, servindo numa companhia de infantaria do Exército dos Estados Unidos. Havíamos terminado recentemente a Batalha das Ardenas, em que a nossa companhia sofrera pesadas baixas. Fazia um frio terrível.
Na véspera do Natal, eu e um outro soldado, que era meu amigo chegado, fomos enviados em patrulha de reconhecimento para observar qualquer movimento de tropas no dia de Natal, num cruzamento de rodovias em poder dos alemães. Teríamos de deixar nossas posições antes do amanhecer e voltar depois que escurecesse. Era impossível fazer um reconhecimento aéreo devido às condições do tempo.
Após receber a incumbência, entrei rastejando na minha trincheira e fui invadido por um sentimento de solidão e medo quanto ao que poderia acontecer, nessa terra de ninguém para onde me haviam enviado. A perspectiva de um Natal feliz parecia muito pouco provável, para não dizer nula.
No escuro, com o auxílio de uma lanterna improvisada, consegui volver-me para a Bíblia e para Ciência e Saúde. Eu também levava comigo alguns artigos tirados dos periódicos da Christian Science e num deles havia a seguinte citação: “Lembra-te, não podes ser levado a nenhuma situação, por mais grave que seja, na qual o Amor não tenha chegado antes de ti e onde Sua terna lição não esteja te aguardando. Portanto, não te desesperes, nem murmures, porque aquele que procura salvar, curar e livrar, guiar-te-á se buscares essa direção” (The First Church of Christ Scientist, and Miscellany, de Mary Baker Eddy, pp. 149-150). Ao ler isso, compreendi que Deus estava comigo naquela trincheira. O Seu amor estava cuidando de mim e eu não podia estar em lugar algum onde Ele não estivesse. Ao sentir, de maneira mais profunda, a minha relação com Deus, pensei nos meus assim chamados “inimigos”. O mesmo Deus, que eu considerava ser meu, era Deus para os soldados alemães, também. Não havia uma “terra de ninguém” a nos separar, porque Deus estava em todo lugar. Passei a sentir calma e paz.
Um pouco mais tarde, comecei a ouvir música. Os sinos da igreja, no vilarejo aonde nós iríamos pela manhã, tocavam hinos de Natal. Era meia-noite e o dia de Natal tinha chegado. Fiquei muito alegre ao ouvir aqueles hinos conhecidos. Um senso de calma substituiu a ansiedade e o medo, quando compreendi que todos os homens são irmãos, que adorávamos o único Deus, e que este mesmo Deus amava cada um de nós como Sua imagem, como Sua idéia espiritual. A celebração do nascimento do menino Jesus não podia ser ofuscada, nem mesmo naquela noite de neve, numa trincheira.
Algumas horas mais tarde, meu amigo e eu, com roupas de neve, saímos a fim de chegarmos às nossas posições enquanto ainda era escuro. Tivemos um dia sem ocorrências. Os alemães estavam tão desinteressados quanto os nossos homens em fazer manobras, naquele dia de Natal; com isso, voltamos para as nossas fileiras depois que escureceu, sem incidente algum.
Assim terminou o Natal mais memorável de minha vida — memorável por várias razões, mas principalmente porque eu senti Deus perto de mim e consegui compreender mais claramente o que significa amar o meu próximo. Nos seis meses seguintes, até o término da guerra, eu tive muitas outras oportunidades de pôr em prática a minha crescente compreensão da proximidade e do amor de Deus.
 
    
