Recentemente, li uma reportagem num jornal, falando das muitas guerras, atuais e passadas, que tiveram início com pretextos religiosos. Parece que o gênero humano considera a guerra como um meio de estabelecer a verdade e conseguir a paz. Já se falou, no passado, de “uma guerra para acabar com todas as guerras”, uma guerra para alcançar a paz!
Esse mesmo raciocínio contraditório toma forma muitas vezes em nossa vida pessoal. Brigamos para fazer valer a nossa “verdade”, acreditando que com isso conseguiremos a nossa paz para determinada situação.
Entretanto, todos os anos, pela época do Natal, ouvimos falar com mais ênfase em paz e fraternidade entre os homens. Mas o que é a “paz”? O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa diz, entre outras coisas, que paz é: “harmonia, tranqüilidade de alma”. Com certeza, essa harmonia e tranqüilidade jamais serão alcançadas pela guerra, seja de armas, de palavras, ou de pensamentos.
A esse respeito, encontramos uma lição interessante na Bíblia, no primeiro livro de Reis. O profeta Elias estava, de certa forma, em “guerra” com a rainha de seu país e os adoradores de Baal. Refugiara-se numa caverna, em busca da paz. De acordo com a história bíblica, Deus o chamou e disse: “Sai e põe-te neste monte perante o Senhor.” O trecho continua: “Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranqüilo e suave” (19:11, 12).
O Senhor não estava no vento, nem no terremoto, nem no fogo, ou seja, não estava naquilo que o mundo considera poderoso. Foi no “cicio tranqüilo e suave” que Elias encontrou a paz.
A Christian Science, com seus ensinamentos baseados na obra de Cristo Jesus, traz até nós o “cicio tranqüilo e suave” da Verdade. Ela nos ensina a verdade de que somos idéias espirituais, filhos de Deus e herdeiros de um patrimônio que não pode ser medido quantitativamente, porque é infinito. Assim como temos à disposição infinitos algarismos para fazer nossas contas, assim também temos à nossa disposição o bem infinito que Deus criou e mantém. Ninguém sequer sonharia brigar pela posse dos números. Da mesma forma, não precisamos lutar contra ninguém para termos todo o bem e a paz. Não há limites para nós utilizarmos todas as maravilhas herdadas de nosso Pai-Mãe, Deus. A consciência desse fato nos possibilita sentir fraternidade em relação ao nosso próximo.
Todas as nossas ações têm início no pensamento. Sendo assim, devemos cuidar dos nossos pensamentos, purificá-los, para que sejam semelhantes aos de Cristo Jesus. Sempre que damos um passo de progresso nessa direção, estamos realmente comemorando o Natal, pois esse será o “nascimento” de uma nova idéia dentro de nós, será a “vinda” do Cristo em nossa experiência.
Em certa ocasião, eu estava no escritório de um amigo e falávamos de negócios. Eu notei, porém, que ele não estava de bom ânimo e perguntei-lhe o que estava acontecendo. Ele prontamente se pôs a contar o motivo de sua angústia. Estava muito desgostoso com as atitudes de sua filha e do namorado dela e sentia-se coberto de razão nesse ressentimento. Contou-me em detalhes o que ele e sua esposa estavam dispostos a fazer para castigar o jovem casal. Foi um longo desabafo e, depois disso, ele perguntou: “O que você acha?”
Fiz-lhe ver que a reação dele e de sua esposa estava sendo ditada pelos valores sociais e não pelo amor ao próximo — amor que Jesus tanto valorizava. A filha e o namorado dela também eram “o próximo” e estavam precisando de amor. A violência, ainda que meramente verbal, não iria trazer a paz na família. O amor sim, traria paz a ele e a todos. A misericórdia que Cristo Jesus demonstrou em seu exemplo, era o que realmente restauraria a harmonia que Deus nos dá. Meu amigo ouviu e prometeu mudar seu modo de pensar com relação a sua filha e ao namorado.
Passado algum tempo, um dia ele telefonou para me agradecer. Disse que a família havia voltado à harmonia e que a filha e o rapaz haviam marcado o casamento. Reconheceu que o amor havia restabelecido a paz.
A Sra. Eddy afirma, em Ciência e Saúde: “Cabe ao sentido espiritual governar o homem” (p. 206). Se nossas ações são governadas por pensamentos de orgulhi, crítica, amor próprio ferido, ou pela crença de que o bem seja limitado e pode acabar, então somos levados à guerra. Quando, porém, nos deixamos governar pelo sentido espiritual, pela consciência de que o Amor, e portanto o bem, é infinito, onipresente e inclui a todos, então sentimos a paz que o mundo almeja, aquela paz que desejamos uns aos outros nos cartões de Natal.
É o sentido espiritual que nos faz viver um Natal de paz e fraternidade, todos os dias.
 
    
