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A verdadeira igualdade entre os homens

Da edição de maio de 1999 dO Arauto da Ciência Cristã


DURANTE MINHA INFÂNCIA no Brasil eu sempre estivera a par das atividades de minha família a favor de maior justiça na sociedade e igualdade entre as raças. Meu bisavô, há mais de um século, era um ardente abolicionista e exerceu bastante influência, em sua época, para a libertação dos escravos e para proporcionar-lhes uma vida mais digna.

Se bem que o Brasil tenha sido um dos últimos países da América a abolir a escravatura, sua história não está impregnada de ódio racial violento, como ocorreu em outros países escravocratas, e não apresenta formas evidentes e acirradas de segregação. Mas seria ingenuidade pensar que o problema da discriminação racial está na iminência de desaparecer.

Há muitos anos, quando fazia pouco tempo que eu morava nos Estados Unidos, tive um vislumbre da grande distância que ainda faltava percorrer nesse terreno. Durante um jantar, de repente me dei conta de que, pela primeira vez na minha vida, eu estava sentada ao lado de um comensal que era negro. Foi um surpreendente despertar, pois percebi que apesar de todos os sentimentos de amizade que eu sentia pela raça negra, eu estivera inconscientemente rodeada de uma sutil desigualdade social que se traduzia em discriminação racial. Fiquei chocada ao reconhecer que as diferenças sociais dessa natureza eram tão insidiosas quanto a segregação legal.

Os valores de cada indivíduo são espirituais, não dependem de raça ou passado

Esse incidente me despertou e me fez encarar a história sob um prisma diferente. Compreendi que, para ajudar a resolver o problema racial, minha oração, minha maneira espiritual de pensar, tinha de incluir tanto o passado quanto o presente.

A história das desigualdades não é nova e não começou com o tráfico de escravos negros da África para as Américas. Ela tem origem na pretensão de que alguns indivíduos podem tratar seus iguais de forma desigual, em benefício próprio. Um trecho do livro Cântico dos Cânticos, na Bíblia, relata com tristeza: (1:5, 6): “Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.”

A sociedade de nossos dias apresenta complexidades muito além do simples cuidar de uma vinha. Mesmo assim, em todas as situações, a oração ainda é a forma mais potente de curar feridas, por mais antigas ou profundas que sejam. Estou me referindo à oração científica e cristã, uma oração que afirma que cada um dos filhos de Deus herda todo o bem diretamente dEle, e que todos têm o mesmo direito ao bem infinito que Deus outorga. Ela se aplica não somente aos cidadãos de hoje em dia, mas também à identidade real de todos os indivíduos, através dos séculos. Essa oração ajuda a pôr a descoberto e a silenciar o argumento de que o bem que vem de Deus é mais acessível a algumas pessoas do que a outras.

Essa maneira de orar traz modificações. Por exemplo, a revista Veja publicou uma interessante série de artigos sobre a história da escravidão negra no Brasil, sob o título: O passado que o Brasil esqueceu (Maio de 1996). O texto corajosamente desmascara mais de quatrocentos anos de um passado obscuro. O mero fato de esses artigos haverem sido publicados indica enorme progresso. Significa que se está trazendo à memória dos cidadãos de hoje esse capítulo da história, e que esses sentimentos precisam ser conhecidos e curados. O povo já se dispõe a tomar conhecimento desse fato.

Mas ainda precisamos da oração de todos. O fato de que a injustiça se repete, através de várias gerações, em diferentes países, não a justifica. A injustiça não tem o direito de apresentar-se insistentemente, como se tivesse autoridade. Nossas orações ajudam a modificar atitudes arraigadas e a derrubar paredes de ignorância e de ódio.

Mary Baker Eddy escreve em seu livro Message to The Mother Church for 1900: “Certos elementos da natureza humana pretendem fazer deteriorar os direitos civis, sociais e religiosos e as leis de nações e povos, e isso também em nome de Deus, da justiça e do humanitarismo! Esses elementos atacam até mesmo as doutrinas novas e antigas dos profetas, de Jesus e de seus discípulos. A história mostra que o erro se repete, até ser exterminado” (p. 10).

O mero passar do tempo ou o esquecimento não contribuem para exterminar as injustiças cometidas anteriormente. A transformação só ocorre quando despertamos para a realidade espiritual do homem como filho de Deus. Esse despertar está despontando. O erro de julgar as pessoas pela aparência física está cedendo ao reconhecimento das qualidades espirituais do homem, que ele herda de seu único verdadeiro ancestral e criador, seu Pai-Mãe, Deus. É um despertar que precisa ocorrer de ambos os lados, não só por parte daqueles que fazem discriminação, mas também por parte das vítimas. Todos têm de ser vistos como geração de Deus, todos igualmente merecedores de Seu amor, igualmente capazes de expressar Aquele em quem não existe ódio, ou seja, Deus.

O consentimento mental da sociedade a favor da verdadeira igualdade entre os povos abre o caminho para o progresso por meio do crescimento espiritual, não da violência. Esse consentimento, que já está se tornando evidente, inclui o apoio incondicional a todos os esforços feitos pelos negros para obter melhor educação e realização profissional.

A revista Veja também publicou uma série sob o título Do preconceito ao sucesso, (24 de junho, 1998), onde muitos negros relatam como superaram o preconceito e a discriminação, conseguindo se estabelecer na sociedade. O interesse que está surgindo em trazer à tona esse assunto e em informar sobre esse progresso é sinal de que o despertar está acontecendo.

Por meio do Cristo, por meio da compreensão da relação harmoniosa e permanente que existe entre Deus e o homem como Pai e filho, pode-se realmente encontrar a verdadeira condição do homem. A obediência aos princípios do cristianismo eleva toda a raça humana.

Embora ainda reste muito trabalho a fazer até que a discriminação racial seja completamente erradicada em todo o mundo, é animador reconhecer que houve progresso. Continuando nossa oração, constataremos cada vez mais que os valores de cada indivíduo são espirituais, não dependem de raça ou passado. Cada um de nós tem uma herança que nos vem de Deus, a qual contribui ricamente para o bem-estar de nossa sociedade e da humanidade.

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