o ator mais versátil de sua geração, estudou arte dramática em Nova Iorque e tem uma carreira artística variada, de grande êxito. Trabalhou também em Batman Eternamente, O Santo, Azes Indomáveis e outros. No desenho animado de grande sucesso no momento, O Príncipe do Egito, ele faz a voz de Moisés. Channing Walker, redator contribuinte do Christian Science Sentinel, o entrevistou e aqui estão suas observações:
Channing Walker — A história de Moisés já foi contada inúmeras vezes no cinema. Por que é que ela sempre agrada tanto?
Val Kilmer — É uma história muito humana, que inclui milagres gigantescos. Sempre me interessou, pois oferece muita esperança. Devido à sua total humildade, sinceridade e sua busca da Verdade, ele é incumbido da tarefa mais solene de sua época. Esta frase de Mary Baker Eddy deixa claro seu significado: “Moisés fez progredir uma nação até a adoração de Deus em Espírito, em vez de na matéria, e ilustrou as grandiosas capacidades humanas do ser, concedidas pela Mente imortal” (Ciência e Saúde, p. 200). Moisés é um homem absolutamente honesto e sincero em sua busca da verdade. Aí reside a força de sua história. Havia nele algo que não permitia que seus erros derrotassem seu propósito mais nobre. Seu temperamento apaixonado o levou a matar um homem. Mesmo assim, ele realiza algo mais grandioso e extraordinário do que tudo que ocorre em nossos dias. No momento de receber a revelação dos Dez Mandamentos, devido a seu temperamento apaixonado, ele fica tão desesperado com o mau comportamento do povo, que quebra a tábua de pedra em que eles estavam escritos! Mas não desiste e Deus lhe aparece de novo, dizendo: “Vou escrevê-las novamente.” Moisés retoma o trabalho, ele tenta de novo. Parece que ele estava sempre lutando para ter autocontrole, mas ele persiste.
CW — Pode-se considerar Moisés a primeira pessoa que teve de elaborar sua salvação em público. Talvez ele preferisse mais sigilo sobre seus erros. Na sociedade de hoje, afogada pela invasão da mídia, muitas personagens públicas, principalmente os políticos, talvez se sintam assim. A vida de Moisés serve de exemplo para os dias de hoje?
VK — Sim. Na primeira etapa de sua experiência, Moisés leva uma vida privilegiada, que nenhum cidadão egípcio comum poderia imaginar. Morava no palácio real, era tratado como membro da realeza. Aí, desse alto nível social ele cai ao simples status de pastor. Temos muito a aprender, desse período de crescimento em humildade. Ele teve de ver de frente quem ele realmente era, teve uma coragem extraordinária para sair do deserto, de Midiã, e voltar ao Egito para ajudar seu povo. Sempre me surpreendo um pouco com o incentivo que a Sra. Eddy faz, de que nos retiremos “do ambiente do mundo material” e nos conservemos “separados dele”. Pode acontecer muita coisa, quando a gente toma uma posição firme, de separar-se do que a maioria dos outros faz. Mas é aí que temos de redobrar nossos esforços e confiar. Creio que foi isso que Moisés pensou nessa etapa inicial, quando começou a surgir como líder. Ele não tinha nada físico para mostrar a Faraó ou ao seu próprio povo, só um cajado, que representava o poder que ele passara a compreender, uma maneira de curar que ele levava consigo. Ele não apresentou uma plataforma política, ou alguma interpretação. Sua liderança vinha do mais profundo do seu ser, algo que despertava o povo e o impressionava.
CW — Como estudioso da Bíblia inteira, há no Novo Testamento algo que você tenha tentado introduzir nesse papel?
VK — Sim, transparece na narrativa de Príncipe do Egito. A biografia de Moisés não trata de como se realizavam os milagres, mas sim do reconhecimento e confiança de que a cura é possível. Moisés renova constantemente sua fé. Na busca pela terra prometida, por exemplo, sua fé se apóia na confiança em algo que ele não podia ver (ver Hebreus 11:1). Por isso pôde ser líder, mesmo sem ser dotado de qualificações materiais visíveis. A Bíblia diz que Moisés era “pesado de boca” (Êxodo 4:10). Não se sabe se ele tinha dificuldade para falar, ou se não sabia como falar ao povo. Talvez fosse incrivelmente tímido. Contudo, triunfou por meio da fé em Deus.
CW — Como foi que lidaram com a questão da voz de Deus?
VK — A idéia original era representar a voz de Deus por meio de muitas vozes. Mas não funcionou, soava desagradável. Então optaram pela idéia de que Deus fala numa voz que se ouve e se compreende e me pediram que a gravasse. A voz de Deus soa a Moisés como algo que ele conhece bem.
CW — Você já representou astros de rock, caçadores de leão, um herói vestido com uma capa de morcego, e até um santo. Existe algo singular, em representar uma personagem da Bíblia?
VK — Claro, pois tem a ver com a história. Moisés é uma figura importante, tanto para a fé muçulmana, como para a cristã e a judia. A maior responsabilidade de um contador de história é proporcionar distração, seja cômica ou dramática. O ator precisa de inspiração, para poder transmiti-la. Se a gente começa simplesmente a contar uma história bíblica como repetição, poderia parecer que o texto das Escrituras é sem graça, sério, solene. Mas haverá algo mais dramático do que a história de um bebê cuja mãe se rebela a tal ponto contra uma lei injusta, que põe em risco a vida da família inteira? A história é cheia de drama, desde o primeiro fôlego desse nenê.
CW — Alguns dos acontecimentos parecem fantásticos, como a abertura do Mar Vermelho. Mas não é fantasia. Estamos falando de acontecimentos aceitos como reais por milhões de pessoas. Como é que se pode transmitir com realismo uma história épica como essa?
VK — A companhia queria muito que fosse contada como uma história humana. Ela contém alguns dos maiores milagres do mundo, mas é acessível. Moisés é de família simples. A percepção inspirada sobre a mãe dele é que começa a despertar a atenção. É a história de um homem comum que se eleva a altitudes inspiradas. Chega o momento em que ele se depara com o Mar Vermelho e está por fazer algo impossível. Mas a voz de Deus vem a ele, e ele não sente medo. É por isso que a história é tão clara.
Muitas vezes pensei neste comentário da Sra. Eddy: “Nós hoje, reunidos nesta sala de aula, somos suficientes para converter o mundo, se tivermos uma Mente só; pois assim o mundo inteiro sentirá a influência dessa Mente” (Miscellaneous Writings, p. 279). Para mim, essas palavras dão uma idéia do que estava acontecendo com Moisés.
    