Skip to main content Skip to search Skip to header Skip to footer

O Evangelho de Marcos em nossa vida

O ensino por meio de parábolas — Marcos 4:1–13 (Quinta Parte)

Da edição de maio de 1999 dO Arauto da Ciência Cristã


Com as multidões se aglomerando à sua volta aonde quer que ele fosse, Jesus designou colaboradores, para que o seu ministério pudesse expandir-se. Essa atitude gerou novas divisões. Enquanto os discípulos e as multidões se aglomeravam à sua volta, sua família e os escribas mantinham-se à distância. Até agora ouvimos muito pouco sobre os seus ensinamentos. Mas isso vai mudar nesta e na próxima parte desta série.

4:1–9 Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E... entrou num barco, onde se assentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia.

Neste primeiro versículo Marcos certamente quer que percebamos uma mudança de local. Além do contraste espacial, porém, as implicações metafóricas entre terra e mar têm uma longa história no conceito judaico. A terra, prometida por Deus, representava o domínio seguro e natural. O mar era sempre perigoso, ameaçador e caótico. Ao colocar Jesus assentado no barco sobre o mar, Marcos nos apresenta uma cena em que Jesus atrai as pessoas para a praia, estimulando-as a expandir seus conceitos, convidando-as a refletir sobre algo novo, a ir além do certo e seguro.

Essa figura metafórica é importante para nós também, à medida que prosseguirmos na leitura. Assim, lhes ensinava muitas cousas por parábolas...

Qualquer que fosse a sua forma, os estudiosos concordam que o propósito das parábolas era sempre comunicar uma idéia. Jesus começa assim: Ouvi. .. Essa ordem determina que o que for dito seja ouvido com atenção. As palavras seguintes são importantes, e vão exigir algum esforço para serem entendidas.

Assim, antes de começar a transmitir seus ensinamentos, Marcos mostra Jesus compondo a cena, chamando a atenção de todos de uma forma tradicional: “Prestem atenção!”

Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.

É interessante observar que na Palestina antiga o ato de lavrar a terra vinha após a semeadura; assim, independente do sentido de desperdício e de falta de cuidado que possa denotar, o procedimento desse agricultor não deve ser considerado totalmente absurdo ou sem sentido.

E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.

A semente que caiu no caminho transformou-se imediatamente em refeição para os pássaros famintos. Essa semente não teve nenhuma chance. A semente que é comida não pode crescer!

Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, ... Saindo, porém, o sol,. .. secou-se.

O adjetivo rochoso caracteriza muito bem o solo da Galiléia. O calor destruiu essa semente. E, embora tenha havido um pouco de crescimento, ela também nunca teve muita chance.

Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.

Outra semente caiu entre os espinhos e foi sufocada por eles. Apesar dessa progressão na situação das sementes – do desaparecimento imediato a um certo crescimento antes de ser sufocada – esse agricultor contabilizou três experiências de fracasso.

Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto,. .. produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.

Assim como houve três fracassos progressivos, houve também três colheitas, cada uma maior do que a outra. O produto dessas colheitas é surpreendente. Registros antigos sugerem que uma grande colheita produzia a cerca de dez; a média ficava em sete, ou mesmo quatro por um.

E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Essa história termina da mesma forma como começa: com uma advertência a que se ouça o que é dito. Prestem atenção! Até agora, nenhum problema. Mas a advertência significa que algumas pessoas não terão ouvidos para ouvir e não ouvirão. Ela nos faz lembrar da divisão que houve entre os que eram próximos de Jesus e os que se distanciavam dele, com suas qualidades divergentes. Mas aqui ele está falando para as multidões, para aqueles que eram receptivos, entusiásticos e suas testemunhas leais. Faz alguma diferença se eles entendem ou não? Vamos continuar a leitura.

4:10–12 De novo a cena muda abruptamente.

“Quando a multidão foi embora, os que ficaram ali foram junto com os doze discípulos para falarem com Jesus e lhe perguntaram: Que quer dizer essa comparação? Jesus respondeu: A vocês Deus mostra o segredo do seu Reino.” Conforme A Bíblia na Linguagem de Hoje.

Ao invés de responder as suas perguntas, Jesus lhes diz que a eles é revelado o segredo do Reino de Deus. Que segredo é esse? Será que eles têm alguma informação ou conhecimento especial que os outros, inclusive nós, os leitores, não temos? Não nos lembramos de nenhum segredo. Desfrutamos de alguns momentos especiais, momentos em que nos aproximamos bastante do autor e tomamos conhecimento de certos eventos dos quais as personagens da história não estavam a par. Ver Marcos 1:10–13. Mas nada foi dito a respeito de segredos. Não nos sentimos próximos com respeito a nenhum segredo.

Mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas. . .

Ele está falando sobre nós; as parábolas são dirigidas a nós. Vamos continuar excluídos do segredo. Mas por quê? Para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles.

Espere aí, o que significa isso? Os comentaristas modernos do livro de Marcos escolhem uma dentre as três opções seguintes. Alguns simplesmente ignoram esses versículos. Sem comentários! Outros argumentam que deve haver algum erro de tradução neles, o que não é comprovado pelos manuscritos antigos. Outros os interpretam de forma literal, observando que Deus é Deus. É bem verdade, dizem eles, que as palavras podem ser ofensivas, mas Deus é, apesar de tudo, Soberano. Elas sugerem que Deus tem o direito de determinar quais ouvidos ouvirão e quais não. Que essas decisões são exclusivamente de Sua alçada, e quem somos nós para questioná-Lo? E que, ao agir sob a orientação de Deus, Jesus falava por meio de parábolas, para que alguns jamais percebessem ou entendessem.

Esses estudiosos dizem que, se para nós é difícil entender esses conceitos, podemos nos consolar com o pensamento de que isso é parte do mistério divino que simplesmente temos de aceitar. Eles freqüentemente acrescentam que o problema não é o fato de alguns ficarem excluídos; devemos esperar por isso. O verdadeiro milagre é de alguém ser escolhido. Esse é o fato pelo qual deveríamos nos regozijar!

Contudo, como pode alguém regozijar-se a respeito de uma teoria em que Deus deliberadamente impede alguns de ouvir Sua Palavra? Vamos tentar uma quarta explicação. Para entender os versículos 10–12 temos de ler o versículo 13, em que Jesus lhes pergunta: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?

Sem mudança de cena, é lógico concluir que Jesus está se dirigindo aos que ficaram ali e aos doze discípulos que possuem o segredo do reino, ou seja, aos que lhe são mais próximos. Mas, nesse exato momento, eles não parecem muito próximos de Jesus. Sua falta de entendimento recebe uma reprimenda severa: “Se vocês não entendem isso, como entenderão outras coisas?” À luz dessa exclamação irritada, as palavras anteriores também soam diferente. Teriam sido proferidas com um toque de ironia?

Jesus já demonstrou um conhecimento intuitivo dos pensamentos daqueles que o rodeavam. Será que ele não sabia que os discípulos haviam entendido pouco e que não haveria muito progresso no futuro? Que, afinal, eles tinham sido incumbidos de levar avante um ministério que não seria entendido?

Pensando nisso, reconsideremos o versículo 12. Nele lemos que Jesus utilizava-se de parábolas unicamente para impedir que algumas pessoas entendessem aquilo que ele estava tentando ensinar a elas. Em outras palavras, se elas tivessem entendido, elas teriam acreditado, se arrependido, modificado suas vidas e teriam sido perdoadas. E quem haveria de querer isso? Não seria Jesus? Por acaso não era o propósito autoproclamado de seu ministério o de procurar o que estava “perdido”, pregar que o reino de Deus estava “próximo”, não limitado a um grupo selecionado de pessoas, mas disponível a todos? Ele já havia cruzado limites tradicionais, tornando suas “boas novas” disponíveis a todos que talvez não tivessem sido incluídos.

Assim, se tomarmos literalmente os versículos 10 a 12 teremos um absurdo; eles afirmam o exato oposto do que Jesus pretendia e do objetivo de seu trabalho. Quando os lemos sob essa luz podemos facilmente concluir que eles estão carregados de ironia. As palavras dizem o exato oposto do que querem dizer, mas temos de ler o versículo 13 para entender o quanto elas são incongruentes. Os mais próximos mencionados no versículo 11 não são nada próximos; eles entendem pouco. Sua proximidade de Jesus e o tempo em que ficam com ele ainda teriam de abrir seu pensamento ao significado mais profundo de seus ensinamentos. Eles têm de continuar a atender à ordem de Jesus para que ouçam.

O versículo 13, por sua vez, apresenta um momento dramático na história quando isso se torna evidente. Repentinamente percebemos que essas palavras não se referem a um grupo destinado a ser deliberadamente mantido à distância de Jesus, pelo fato de que esse grupo não existe.

Não queremos com isso dizer que não haverá diferenças entre as reações das pessoas que ouvirem as boas novas. Já vimos a inquestionável falta de receptividade e de entendimento expressa por algumas pessoas. E agora, seus seguidores mais próximos são repreendidos por sua falta de entendimento. Assim, essas palavras a respeito dos que se mantinham à distância tinham a intenção de punir e desafiar, para fazê-los pensar! Repetidas vezes eles provarão que não são realmente próximos. E nós, que nos sentimos distantes, não nos sentiremos tão distantes assim!

Os ensinamentos continuarão. Apesar dessa repreensão aos discípulos, Jesus pacientemente interpretará a parábola, outra prova que rejeita a noção de que ele não se importava se as pessoas o entendiam ou não.

Para conhecer mais conteúdo como este, convidamos você a se inscrever para receber as notificações semanais do Arauto. Você receberá artigos, gravações em áudio e anúncios diretamente via WhatsApp ou e-mail.

Inscreva-se

Mais nesta edição / maio de 1999

A missão dO Arauto da Ciência Cristã 

“...anunciar a atividade e disponibilidade universal da Verdade...”

                                                                                        Mary Baker Eddy

Conheça melhor o Arauto e sua missão.