Descobrir aquilo de que realmente podemos depender na vida, às vezes exige que contrariemos nossos mais profundos sentimentos. Um exemplo disso me vem à mente, fruto de uma curta experiência em alpinismo. Ficar à beira de um precipício, agarrada a uma simples corda, pelo menos para mim, vai contra o instinto de sobrevivência. Mas, meu instrutor insistia para eu me inclinar para trás, para afastar o tórax da superfície da rocha e me apoiar na corda, quando o que eu queria era apoiar-me em algo firme e não me inclinar para trás, sobre o abismo. O resultado foi que fiquei sem apoio para os pés, pendurada pela corda, batendo repetidas vezes contra a rocha. Finalmente, fui obrigada a seguir as instruções e inclinei-me para trás. Meus pés tocaram naturalmente a superfície da rocha, como era o certo, e então desfrutei o prazer de deslizar rocha abaixo.
Deixar de se apoiar corretamente é também um erro comum no âmbito das relações humanas. Apegarse a uma outra pessoa, ou a um relacionamento ideal imaginário, como resposta aos nossos anseios por amor, segurança e mesmo auto-estima, pode nos deixar pendurados, batendo contra as rochas. Mas nunca é tarde para nos apoiarmos em Deus, para dependermos apenas do infinito Amor. A Bíblia está repleta de confortadoras instruções para nos guiar. Em Salmos, lemos: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará” (37:4, 5).
Quando estamos ansiosos ou decepcionados a respeito de como está indo nossa vida, textos bíblicos como esses nos dizem que podemos confiar em algo superior ás oportunidades e esforços humanos, para conseguir que as coisas se acertem. A Bíblia declara que há uma presença muito maior do que a humana a qual satisfaz nossos anseios. Deus tem a visão de tudo, é o Princípio todo-sábio, que ama cada um de nós mais do que se possa dizer. Como podemos sentir esse amor? Nós o sentimos mais diretamente através das idéias inspiradas que Deus nos comunica. As idéias espirituais a respeito do nosso propósito e valor como reflexo de Deus, nos dão mais alegria do que qualquer outra coisa. Deus nos mostra Seu amor através da beleza que vemos, da bondade e coragem que testemunhamos. Deus nos compreende e nos sustenta porque Ele é nossa verdadeira substância e Mente. Mary Baker Eddy escreve em Unity of Good (Unidade do Bem):“[Deus] mantém minha individualidade. Não, mais ainda — Ele é minha individualidade e minha Vida. Porque Ele vive, eu vivo” (p. 48). Não há relação mais íntima do que a que temos com Deus, pois estamos em união com Ele.
Não surpreende que as pessoas que vislumbraram a intimidade desse relacionamento o tenham descrito, ás vezes, como um casamento. O profeta Oséias apresenta a Deus, dizendo: “Desposar-te-ei comigo para sempre” (2:19). E em Isaías, lemos: “Porque o teu Criador é o teu marido” (54:5). Nós somos o objeto querido do terno e fiel amor de Deus. Como Deus é nossa verdadeira substância e individualidade, nós também expressamos Seu amor, tão inevitavelmente como um raio de sol traz luz. Uma das maneiras de expressá-lo é através do afeto humano. Outra forma é através da apreciação de tudo o que é puro e bom. Talvez a maneira mais significativa de expressarmos o amor de Deus seja através da dedicação em curar os outros. O Amor divino nos cura eliminando completamente toda e qualquer ilusão de que possamos ser excluídos do bem.
Muitas pessoas consideram um casamento feliz como a maior das bênçãos que receberam. Certamente esse é um tesouro pelo qual devemos nos sentir profundamente gratos e satisfeitos. Porém, se o casamento não for bom para alguns, ou se alguém, por opção ou não, ficar solteiro, suas chances de usufruir as mais completas alegrias da vida não diminuirão de forma alguma. Isso porque a felicidade não está nas condições humanas. A felicidade, tal como a saúde e a beleza, é uma condição do ser que Deus mantém universalmente. Ao reconhecermos a presença dessas qualidades e ao nos esforçarmos para obedecer às leis morais e espirituais, sentimos cada vez mais paz e autoestima.
Apoiar-nos no infinito Amor, em busca de orientação, também expande nossa percepção das possibilidades existentes. Vemos oportunidades de dar e amar que antes não conseguíamos ver, ou que simplesmente antes não apreciávamos tanto. Certa vez, durante uma reunião na igreja, uma senhora disse o quanto era grata pelo casamento. Na verdade, ela não estava casada com ninguém, mas tinha começado a perceber muitas manifestações de satisfação e estabilidade em sua vida, que normalmente estariam associadas ao casamento. Lembro-me de que ela citou três aspectos em particular — seu emprego, sua igreja e suas amizades — nos quais ela via semelhanças com um relacionamento matrimonial. Ela deixou claro que podia expressar qualidades tais como responsabilidade, fidelidade e constante desprendimento em todas as suas atividades. Fazer isso com relação ao emprego, por exemplo, não implicaria uma exclusão desequilibrada de outros interesses, assim como o casamento não exclui outras atividades. Isso quer dizer que encontramos mais alegria em nosso trabalho, um propósito mais profundo em servir e facilitar as tarefas dos outros, fidelidade em fazer bem as coisas. Esses são os componentes essenciais de uma carreira satisfatória, amizades felizes, uma vida realizada, que todos podem desfrutar.
Francamente, às vezes pode parecer difícil mudar de um desejo humano para a verdadeira confiança na provisão do bem de Deus em nossa vida. Contudo, uma vez tomada essa resolução, o poder de Deus nos conduz irresistivelmente para a compreensão de que somos completos agora, completos em toda qualidade divina. O Amor divino nos eleva para fora da visão errada de que somos seres mortais carentes de bem, precisando encontrar a realização. A desolação ou o sofrimento não têm lugar em Deus, que é nossa individualidade e nossa Vida. A verdade mesmo é que somos amados, estamos em segurança, cheios de alegria, e sabemos disso. Ter essa correta postura mental, mesmo enquanto estivermos ainda nos esforçando para compreender essa verdade, resultará naturalmente em uma situação mais estável, não importa que tipo de montanha estejamos escalando.
Quando nos apoiamos no infinito Amor, não estamos inclinados sobre um abismo. Os braços de Deus estão ao nosso redor. Sua fiel verdade, a infinita e maravilhosa verdade do ser, está nos sustentando. Ela está nos posicionando e equipando para qualquer tipo de progresso que necessitemos fazer agora. Estamos ligados a Deus por uma união inquebrantável que nos traz alegria estável e uma riqueza incomparável, em todos os aspectos da vida.
