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Matéria de capa

Vice-governadora

Da edição de março de 2000 dO Arauto da Ciência Cristã


Arauto — Na sua opinião, qual é o verdadeiro potencial da mulher?

Benedita — Observando o quanto a mulher avançou socialmente, vemos que seu potencial é grande e que ela o tem usado de forma muito séria. A mulher tem, às vezes, uma tripla jornada de trabalho: como mãe, dona de casa e profissional. Hoje, as mulheres estão nos esportes, na política, no Senado e no Governo do Estado. Esperamos ter uma mulher na Presidência da República, um dia. A mulher tem condições de usar todo seu potencial em prol do género humano e pode ajudar para chegarmos a um mundo mais justo, menos sexista, menos racista, que considere o cidadão e o seu bem-estar como o pilar do progresso.

Arauto — A Sra. acha que a mulher está em condição desfavorável no mercado de trabalho?

Benedita — Sempre cito a mulher negra como um exemplo de situação desfavorável no mercado de trabalho. Acima dela está o homem negro, depois a mulher branca e o homem branco. Mas a mulher em geral tem uma grande capacidade de organização. Possui também um forte espírito de solidariedade. Isso a ajuda a vencer as condições desfavoráveis.

Arauto — Como poderíamos encarar a igualdade entre homens e mulheres sob uma perspectiva espiritual?

Benedita — A força espiritual está disponível para todos aqueles que acreditam nela como força de mudança. Nisso há igualdade. Conheço homens e mulheres que estavam sem trabalho, sem direção, e que encontraram nessa força espiritual não só alento, mas também inspiração, e se transformaram. Eu sou uma testemunha viva dessa força espiritual que mudou radicalmente a minha vida e me permitiu atuar na vida pública.

Arauto — A leitura da Bíblia a ajuda a enfrentar os desafios da mulher profissional e mãe de família?

Benedita — Certamente. A leitura da Bíblia me mostrou que minha capacidade vem de Deus. Existem, nas Escrituras, exemplos do encontro de Jesus com mulheres em várias situacões: a mulher doente, a mulher adúltera que estava sendo perseguida, a mulher em todos os momentos. A Bíblia não é apenas o instrumento do cristão. Precisa ser lida por todos, porque ela é nova a cada momento, do Gênesis ao Apocalipse. Lendo a Bíblia, vejo a mulher, não feita para ser submissa, mas criada para a glória de Deus. Há ali vários exemplos de mulheres que trabalharam, tiveram um papel importante. Eu procuro seguir esses exemplos.

A Bíblia será um livro sempre moderno, porque acompanha o cotidiano. Nela, encontramos todas as respostas e aprendemos a construir a família. Quando olho para a minha vida, percebo como superei muita coisa. Não é mérito meu, é o que está no meu interior, essa forca divina, Deus operando na minha vida. Quando enfrento grandes dificuldades, vou conversar com Deus e invocar aquele carinho, aquele amor, do meu Companheiro, Esposo e Amigo fiel.

Arauto — Como a Sra. se interessou pela política?

Benedita — Sempre me envolvi com a comunidade. Estava nos comitês da favela, das mulheres, dos adolescentes e dos negros. Com essa militância intensa, sempre na associação de moradores, fui eleita vereadora em 1982.

Arauto — A Sra. encontrou muita resistência para chegar onde chegou, dentro de uma sociedade como a nossa?

Benedita — Tive uma infância muito difícil e a perspectiva era a morte ou a marginalidade. Mas, felizmente, fui criada por uma família que tinha muita esperança e muito afeto. Muito cedo senti na pele o que é ser mulher negra e pobre, mas senti a ajuda espiritual e da família. Sempre tive a atenção dos meus pais e isso me permitiu ter mais consciência e não enveredar para o caminho do crime.

O fato de ser pobre, morar na favela e ser negra, impõe grandes dificuldades. Encontrei o obstáculo da "boa aparência" — que significava ser branca — e o obstáculo da "inteligência" — que significava não ser pobre. Convivi com o preconceito e a discriminação desde cedo. Por exemplo, eu precisava de dinheiro para ajudar em casa. Fui trabalhar na feira, mas aí escolhiam os meninos para carregar as compras. O que se vê hoje na vida dos meninos e meninas de rua, foram momentos da minha vida e foram obstáculos que fui superando.

Arauto — Como a Sra. vê o seu papel como mulher, exercendo um cargo importante?

Benedita — A mulher, em geral, é mais desprendida e não se deixa levar pelo poder do cargo. Tenho uma expectativa muito grande na área social, pelo trabalho que estamos fazendo com os jovens das comunidades carentes, com drogados, com as crianças, contra a prostituição infantil. Trabalhamos a questão do gênero, etnia, desenvolvimento econômico do estado, com uma visão muito espiritual, como a de José no Egito, onde no "tempo das vacas gordas", teve de encher os celeiros para que, quando viesse o "tempo das vacas magras", tivesse alimento para o povo. É com esse sentimento que aceitei o desafio de ser Vice-Governadora, compreendendo que ainda é preciso enfrentar a discriminação, o preconceito, a falta de visão que considera a mulher como concorrente, supostamente tirando o lugar do homem, e não como filha de Deus, criada para Sua glória.

Arauto — Por que trabalhar no governo? Por que dedicar-se à vida pública?

Benedita — Faz parte da vida. Sou uma pessoa sem ambição política. Sempre tive um motivo correto para contribuir com o coletivo. Não quero fortunas. Sempre vi a vida pública como uma missão e, felizmente, não fui "picada" pela ambição. Como sou assistente social e servidora pública, estou a serviço do coletivo, representando os interesses de muitos. Eu sei que estou a serviço de Deus, que me tirou do "fundo do poço" e que me colocou em pé Então, por que não colocar todo esse meu vigor a serviço da humanidade? Uma das coisas mais marcantes da minha vida foi quando entrei no palácio presidencial da França, com aqueles tapetes e a guarda dos lados. Quando voltei, subi as escadas para a minha casa, no Chapéu Mangueira, com o mesmo orgulho com que passei por aqueles tapetes vermelhos.

Arauto — Como concilia a vida profissional e a particular?

Benedita — Vou conciliando as atividades. Vou à igreja porque ali é o meu lugar. Procuro fazer sempre uma reunião com todos os meus familiares. Também arrumo tempo para mim mesma. É claro que, no meu cargo, não tenho tanto tempo para sair com os netos, com o marido, mas vou conciliando. A família é muito importante.

Arauto — Será que a espiritualidade pode ajudar as pessoas a encontrar o verdadeiro valor da mulher?

Benedita — Tenho certeza absoluta disso! Quando lemos a Bíblia e vemos a mulher ali apresentada, vemos que ela tem uma missão, uma dádiva de Deus. Por isso, tenho certeza de que nós, mulheres, precisamos buscar cada vez mais nossa identidade. E a espiritualidade ajuda muito. A espiritualidade é o caminho do qual tiramos esperança para a vida.

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