Vamos supor que alguém descubra um enorme ralo no fundo do oceano e que puxe a tampa desse ralo de maneira que todo o oceano se escoe por ele. Já imaginaram a força de sucção? Essa seria uma boa hora para abandonar imediatamente o alto mar e ir para a praia, para não sermos sugados junto com a água.
Agora, pensemos em outra sucção, sendo que esta não é hipotética. Refirome ao entretenimento que não tem nenhum outro propósito a não ser fazer dinheiro com a atração pelo medo: filmes, músicas e vídeo games repletos de violência gratuita. Muitos espectadores, ouvintes e jogadores são apanhados nessa correnteza e se afogam em imagens violentas, assustadoras. Às vezes, apesar de estarem se afogando, eles parecem não se interessar por salvar-se.
Qual seria a mudança de pensamento e de comportamento que ajudaria a ir para o solo seco, a limpar o lixo e o lodo do nosso pensamento e a restaurar uma concepção mais saudável da vida? Para alguns, poderia ser um repentino despertar espiritual — uma compreensão de que a morte e a destruição despedaçariam a própria textura da vida, caso o permitíssemos. Para outros, poderia ser a experiência de ficar face a face com a violência e descobrir que, na vida real, não é tão fácil colocá-la de lado, como fazemos com um filme ou um jogo.
A melhor mudança acontece pela substituição, baseada na oração, dos nossos gostos mentais, procurando imagens do bem e não do mal. Essa espécie de mudança mental faz com que nos volvamos para novas direções, em busca daquilo que é verdadeiramente interessante e até mesmo divertido, propiciando percepções novas sobre quem somos.
Muitos produtos da mídia só têm o propósito de assustar o espectador.
A oração, que é a comunhão com o Criador divino, traz à luz nossa verdadeira natureza, satisfeita e completa, à semelhança do nosso Criador. Isso nos prepara para fazer escolhas melhores. O mais importante de tudo talvez seja o fato de que a oração nos leva a avaliar as escolhas que fazemos. Tornamo-nos mais alertas quanto às influências a que nos expomos, quanto à cor com que colorimos nossa visão da vida. Quando a oração é regular e sistemática, quando fazemos dela um projeto diário, o pensamento desperta e se reaviva. Diminui a atração por imagens assustadoras e sangrentas, que muitas vezes viciam. Nossa identidade incorpórea é única, dependente de Deus, mas independente de estímulos artificiais.
A violência em filmes, músicas ou jogos nem sempre é dirigida a um propósito mau. Uma obra significativa como "O resgate do soldado Ryan", por exemplo, dificilmente poderia ser comparado a outros filmes violentos. Os filmes e as músicas respeitáveis podem incluir seqüências violentas necessárias ao desenvolvimento do tema. Mas os muitos produtos da mídia, destituídos de qualquer mérito, são como um redemoinho que suga, como o único propósito de aterrorizar o espectador. Resultado? Na pior das hipóteses, em casos raros, o espectador se identifica de tal maneira com as imagens, que passa a imitar o que vê e ouve, com resultados terríveis. Na melhor das hipóteses, os espectadores se tornam insensíveis às belezas pacíficas da criação de Deus.
No mundo de hoje, em que os jogos e os filmes violentos parecem fazer parte do nosso cotidiano, expor-nos às suas influências mortais parece um comportamento normal. Talvez todos os da "nossa turma" estejam fazendo isso. Como podemos ficar à parte? Reconhecendo que ninguém da nossa turma precisa aceitar essas influências.
Não se consegue nada de bom aceitando a morte no pensamento. As imagens violentas são estranhas à nossa verdadeira identidade. Uma mudança de pensamento, em espírito de oração, desperta-nos para a nossa natureza espiritual. Assim,nos alinhamos com o que é vivificante, estimulante e sanador. Esse vivificar é a atividade do Cristo na consciência humana, o impulso espiritual da Vida e do Amor divino que o Mestre Cristo Jesus viveu. A ação do Cristo nos sacode de um sentido amortecido de nós mesmos para um reconhecimento da nossa verdadeira identidade — dinâmica, desperta, ávida da capacidade artística da Vida e do Amor. Essa atividade do Cristo anula todo e qualquer domínio entorpecente que possa ter tomado conta de nosso pensamento.
Uma amiga minha certa vez comentou que, não importava o que lhe acontecesse, ela nunca mais estaria tão morta quanto estivera num período anterior em sua vida. Ela estava se referindo a um período em que adotara um comportamento materialista, voltado exclusivamente para si mesma, no qual nunca estava satisfeita — sempre à caça de novas emoções fortes e novos sobressaltos. Mas isso havia mudado. Ela estava purificada e renovada. Ela fora tão radicalmente transformada pelo Cristo que sabia que estaria para sempre mais sensível às maravilhas da Vida e do Amor, que são o próprio Deus.
A ação do Cristo, que procede de Deus, anima-nos a pensar e a agir com independência, ao invés de seguir os outros. Graças a ela, podemos cultivar um discernimento incisivo e a capacidade de avaliar por nós mesmos o que tem valor verdadeiro e merece nossa atenção. A atração degradante por aquilo que é macabro e destrutivo, diminui, assim como o redemoinho daquele enorme ralo, no fundo do oceano, cessaria de nos sugar assim que alcançássemos a praia.
É natural ser atraído para tudo o que deriva do conhecimento e da inspiração provenientes de nosso Criador. Esse é o fato espiritual a nosso respeito, não a ficção sangrenta. Embora cenas de carnificina sem sentido possam agir de maneira a moldar nosso pensamento — dando forma a uma visão extremamente violenta da vida — elas não podem reformular nossa verdadeira identidade. Comprovamos isso, quando escolhemos sabiamente as influências que deixamos entrar na nossa consciência. Nenhuma influência é mais poderosa e mais sanadora do que a do Cristo.
Uma única folha de relva pode ser o prenúncio de que um terreno árido voltará a verdejar. Um único indivíduo inspirado pelo Cristo pode iniciar uma fermentação mais ampla do pensamento como um todo. Sinais promissores já estão aparecendo. Embora a violência, como entretenimento, possa parecer às vezes estar predominando, é possível que, em realidade, ela esteja diminuindo. O jornal Los Angeles Times publicou recentemente uma reportagem intitulada: "Será que a violência ainda é o artigo de exportação mais importante de Hollywood?" A reportagem abordava a distribuição dos filmes americanos no exterior. Descobriu-se "uma redução significativa, nos últimos anos, na demanda por filmes cheios de carnificinas" (Sunday Calendar, edição de 8 de agosto de 1999, p. 25). As escolhas impelidas por Deus, que cada um de nós faz, abençoam a nós e àqueles ao nosso redor.
As imagens violentas são estranhas à nossa verdadeira indentidade.
Mary Baker Eddy escreveu certa vez, referindo-se a Cristo Jesus: "Fui a auto-imolação de nosso Mestre, seu amor vivificante, que cura tanto a mente como o corpo, que ressuscitou a consciência amortecida, paralisada pela fé inativa, para um senso mais elevado das necessidades dos mortais — para o poder e o propósito de Deus de atendêlas" (Pulpit and Press, p. 10).
Assistir a filmes, bons ou maus, não é uma necessidade. É, porém, uma necessidade saber quem nós somos. Conhecer o reino dos céus que está dentro de nós, para usar uma frase bíblica, é uma necessidade.
Poderia, algumas vezes, a escolha de filmes, músicas, e assim por diante, ser mais do que simplesmente a escolha de um entretenimento? Poderia, às vezes, ser um pequeno gesto para a definição de si mesmo? Não poderia ser uma tentativa de identificar-se com um determinado grupo? De encontrar um lugar de que possamos fazer parte? No esforço de definir quem somos e a que grupo pertencemos, freqüentemente não nos damos conta da parte mais importante de nossa identidade, a saber, nossa espiritualidade e bondade inatas.
Quando colocamos a espiritualidade em primeiro lugar, somos guiados a lugares seguros e bons, a um sentido mais profundo de integração, que jamais poderíamos alcançar uma simples mudança no cenário humano. Descobrimos que é o Pai que verdadeiramente nos dá identidade, que satisfaz nossas necessidades, que provê nosso bem-estar, que diz: "Você não está excluído!" e "Você é muito amado!" É o Pai que nos capacita a conhecer nossa própria identidade, a conhecer nossa verdadeira natureza imortal.
A maneira pela qual o Pai supre essas necessidades é através da ação vivificante do Cristo, que nos desperta de uma identidade amortecida ou insensível. O Cristo nos dá uma conscientização preciosa sobre quem somos e por que existimos. Nossa percepção se abre para a satisfação verdadeira e a aventura genuína. Alcançamos o discernimento que nos deixa cheios de energia, despertos e apreciadores do verdadeiro valor, quer o encontremos em filmes, músicas ou na própria vida.
