O Brasil na Universidade Harvard — Filantropia e voluntariado

A Dra. Ruth Cardoso fez uma palestra no dia 15 de abril deste ano, como parte da Série sobre Filantropia — Primavera 2002 “Cidadãos, Empresários e ONGs: Setor Privado e o Bem Público no Brasil”, na Universidade Harvard, em Cambridge, Estados Unidos. Essa série foi organizada pela Dra. Cynthia Sanborn, professora visitante de Filantropia na Universidade Harvard e Diretora do Programa sobre Filantropia, Sociedade Civil e Mudança Social nas Américas (PASCA), em cooperação com o DRCLA — Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos e o Centro Hauser para Organizações Sem Fins Lucrativos, ambos da mesma Universidade. Apresentamos abaixo excertos do que foi dito em Harvard.

Apresentação — Dra. Cynthia Sanborn

“Nas últimas duas décadas, a América Latina presenciou o surgimento de sociedades civis cada vez mais ativas e diversas, incluindo movimentos sociais populares, grupos de interesses diversos, e associações cívicas, bem como fundações privadas e comunitárias. Essas organizações se tornaram importantes meios para estimular a participação dos cidadãos, bem como uma política social melhor em países com instituições democráticas fracas e desigualdades sociais profundas.

Nenhum outro país expressa melhor essa situação que o Brasil. .. uma nação com enormes problemas sociais. Entretanto, é uma das ‘sociedades civis’ mais dinâmicas, com fortes movimentos sociais da população pobre, tanto rural como urbana, de organizações de trabalhadores, estudantes e mulheres de todas as idades, diversos grupos religiosos e ONGs profissionais. O Brasil também possui líderes empresariais internacionalmente reconhecidos pelos seus esforços em incentivar a responsabilidade social corporativa, em nível nacional e global. E o governo brasileiro lidera a promoção de parcerias com o setor privado, para reduzir a pobreza e a desigualdade.

O Programa PASCA visa a promover uma compreensão maior desse fenomeno...”.

Dra. Ruth Cardoso — A Comunidade Solidária e alguns resultados

A Dra. Cardoso foi convidada por ser presidente e fundadora da Comunidade Solidária. É membro do Conselho da Fundação das Nações Unidas, doutora em antropologia, pela Universidade de São Paulo e fez pós-doutorado na Universidade Columbia, NY, EUA. Dedicou-se também à pesquisa e ao ensino em universidades no Brasil, nos Estados Unidos, na França e Inglaterra. Publicou inúmeros artigos sobre antropologia urbana, movimentos sociais e o Setor Terciário.

Fundada em 1995, a Comunidade Solidária pôde tornar-se o eixo de uma rede de programas e parcerias voltados ao desenvolvimento social devido a funcionar numa sociedade cada vez mais aberta e num Estado cada vez menos impositivo. Aumentaram os investimentos de recursos privados dirigidos ao bem público.

Dos programas voltados à juventude, a Capacitação Solidária ofereceu treinamento profissional a 100.000 jovens de 14 a 21 anos por intermédio de 2.500 ONGs locais. A Alfabetização Solidária ensinou 2,6 milhões de estudantes em mais de 1.200 municipalidades por somente US$14/mês/estudante envolvendo 300 universidades. A Universidade Solidária oferece assistência técnica nas áreas de educação, saúde e desenvolvimento comunitário a crianças, mulheres e líderes locais em 900 municipalidades pobres com a ajuda de 8.000 estudantes e 700 professores de 250 universidades.

Uma pesquisa desenvolvida separadamente pela Profa. Leilah Landim, do Setor de Estudos Comparativos de Organizações Sem Fins Lucrativos, da Universidade John Hopkins, mostra que um em cada quatro brasileiros dedica seu tempo e talento a atividades voluntárias. Anna Maria Peliano, em pesquisa sobre Ação Social por Companhias Privadas, constatou que a grande maioria das empresas privadas do sudeste do Brasil participa de alguma atividade social.

Mensagem da Dra. Ruth Cardoso

Ao entrar na sala reservada para a imprensa, a Dra. Ruth Cardoso começou a falar com voz calma e segura. Expôs o programa da Comunidade Solidária, irradiando uma atitude positiva, consciente dos resultados obtidos e do bem que existe no Brasil, como meio para obter sucesso nos passos a serem dados.

Katharina Helmick: Qual mensagem a senhora gostaria de dar aos leitores do O Arauto da Christian Science?

Dra. Ruth Cardoso: Gostaria de dizer que é um grande prazer estar aqui para partilhar com os Estados Unidos, país que tem uma tradição de solidariedade, tudo de bom que vimos acontecer no Brasil. O aumento do trabalho voluntário em nosso país foi uma mudança muito favorável. Hoje, estou contente por dizer que no Brasil também existe um espírito de solidariedade por parte do setor privado, o qual está trazendo excelentes resultados.

KH: Além do amor ao próximo, como a Sra. define o voluntariado?

RC: O voluntariado está baseado também na conscientização dos problemas sociais que temos de enfrentar. É uma relação, uma generosidade individual, mas é também parte da consciência de que temos de participar da nossa comunidade.

Em seu discurso, a Dra. Ruth definiu o voluntariado como “um hábito do coração e uma consciência cívica. Longe de ser uma relíquia nostálgica do passado, a solidariedade em conjunto com a cidadania, fortalece a constituição moral de nossa sociedade”.