VIDA
Devido à minha altura, há coisas que são mais difíceis para mim do que para os outros ou que tenho de fazer de forma diferente. Por exemplo, quando faço compras não alcanço as prateleiras superiores, mas peço a ajuda de alguém e depois lhe agradeço.
Organizei minha vida para que tudo funcione. Se pensar bem, não há muito que ocorra comigo que não aconteça com os outros, pelo menos é o que me parece. Claro, há o fato de que organizamos os armários da cozinha de maneira que o que preciso todos os dias, como xícaras, pratos, copos, panelas, etc., esteja bem na frente.
Um versículo dos Salmos que me tem ajudado bastante é: "Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem" (139:14). Na Escola Dominical aprendi que há uma diferença entre o que os olhos vêem e o que a alma sabe.
Mas, tudo ficou bem mais simples quando reconheci que não podia justificar tudo o que não gosto em minha vida somente pelo fato de ser mais baixa do que o "normal". Só então parei de me sentir tão desamparada e à mercê do destino. Comecei a perceber que há muitas razões pelas quais minha vida é diferente do que eu gostaria. E essas razões não só afetavam a mim, mas às outras pessoas também.
Foi aí que reparei que sou capaz de fazer o que outros não fazem tão bem. Por exemplo, aprender sempre foi fácil para mim. Nunca tive problemas na escola e na faculdade. Sempre me foi muito fácil conversar com outras pessoas, o que é muito importante em minha profissão.
Foi ótimo aprender a me alegrar com as habilidades dos outros, sem sentir inveja. Quanto melhor aprendo isso, mais alegre e satisfeita me sinto e mais habilidades descubro em mim mesma. Também é muito gostoso ajudar os outros a descobrir o que fazem bem.
Mary Baker Eddy escreve em seu livro, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, em resposta à pergunta sobre o que é o homem: "O homem não é matéria; não é constituído de cérebro, sangue, ossos e de outros elementos materiais. As Escrituras nos informam que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. A matéria não é essa semelhança. A semelhança do Espírito não pode ser tão dessemelhante do Espírito. O homem é espiritual e perfeito; e por ser espiritual e perfeito, tem de ser compreendido como tal na Ciência Cristã. O homem é idéia, a imagem, do Amor; não é físico. Ele é a idéia composta que expressa Deus e inclui todas as idéias corretas; é o termo genérico para tudo o que reflete a imagem e a semelhança de Deus; é a identidade consciente do ser, tal como ela é revelada na Ciência, na qual o homem é o reflexo de Deus, ou a Mente, e portanto é eterno; é aquilo que não tem mente separada de Deus; aquilo que não tem uma só qualidade que não derive da Divindade; aquilo que não possui vida, inteligência, nem poder criador próprios, mas reflete espiritualmente tudo o que pertence a seu Criador" (p. 475).
Partindo desse conceito, passei a não mais olhar para o corpo, mas a procurar as qualidades que vêm de Deus. Fiz isso não só em relação a mim, mas também a todos ao meu redor. Então, descobri qualidades maravilhosas em mim e nos outros, tais como receptividade, alegria, amor, inteligência, paciência, criatividade, moderação, um senso de justiça, humor e espontaneidade.
Ser feliz é fácil para mim, porque sei que a alegria vem de Deus. Ele me dá a alegria que sinto. Isso é algo que estou entendendo mais e mais. Há uma infinidade de coisas pelas quais podemos ser felizes. Você só precisa encontrá–las e estar disposto a se regozijar. Percebi que a alegria não é só uma obrigação que Deus requer de nós, mas é também uma promessa de que sempre podemos estar contentes e sempre podemos orar.
Às vezes, é fácil pensar que, se não precisasse mais trabalhar, poderia ir à praia com meus amigos, seria feliz automaticamente e tudo seria ótimo. Mas, as coisas não são tão simples assim. Já me aconteceu fazer exatamente o que eu imaginava ser divertido, mas só acabou sendo mais ou menos ou nem um pouco divertido. Também houve situações em que me senti muito feliz sem nenhuma causa exterior, no entanto, senti profunda alegria.
Minha alegria não depende mais de pessoas ou circunstâncias. A princípio, posso estar alegre onde quer que esteja. Naturalmente, sinto alegria quando estou com outras pessoas também, mas não fico esperando que a alegria venha delas. Estou ciente do fato de que Deus criou a todos e, ao desenvolver o relacionamento com Ele, é natural ser feliz.
Aprendi uma lição enorme sobre a alegria, com uma criancinha. Aconteceu durante uma época em que tinha de estudar bastante para minhas provas e não estava nem um pouco animada para fazê–lo! Observei uma criança que ficou felicíssima porque conseguiu engatinhar e abrir uma porta. Ela se sentou no chão, ficou abrindo e fechando a porta e rindo de alegria por ter descoberto algo novo. Percebi que eu poderia ficar feliz por estar aprendendo muitas coisas novas. Tinha decidido estudar Direito e fiquei contente pela oportunidade de estudar para me tornar juíza. A partir daí, eu me empenhei em estudar com alegria e nunca mais me senti irritadiça e fiquei grata por essa decisão. A situação exterior não havia mudado, ainda precisei estudar muito para a prova, mas a minha atitude era completamente diferente.
Sempre tento fazer tudo com muita alegria. Nem sempre consigo e, às vezes, fico aborrecida ou sem ânimo. Mas agora já aprendi que Deus me deu o direito de sentir alegria e reivindicar esse direito para mim mesma, da mesma maneira que conheço meus outros direitos e os reivindico.
Às vezes, acontece de alguém que não me conhece, numa festa, por exemplo, perguntar qual a minha profissão e depois se surpreender com a resposta. Muitas vezes é uma combinação de surpresa e respeito. A maioria das pessoas fazem naturalmente uma imagem diferente de um juiz. Entretanto, aprendi a rir e dizer: "É claro que sou juíza, conduzo audiências, converso com as pessoas, leio pleitos e faço julgamentos". Aí as pessoas riem comigo.
Sei que quem me vê pela primeira vez pára para pensar. Não fico aborrecida. Tento agir normalmente e transmitir aos outros a sensação de que podem me tratar normalmente. Sei também que aqueles que trazem uma pendência à corte e aparecem perante mim, os advogados ou as partes, todos ficam espantados. Mas, como vou direto ao procedimento e converso sobre o caso, percebem rapidamente que conheço o meu trabalho como qualquer outro juiz. Depois disso, eles precisam agir e não têm mais tempo de se espantar.
Eu já tive, porém, de lidar com um tipo diferente de preconceito, os preconceitos que tinha contra mim mesma: coisas que eu achava ser incapaz de fazer. Precisei superar essas restrições que me faziam ter inveja dos outros, pois acreditava que eles eram capazes de fazer o que eu não era. Por exemplo, dançar, caminhar nas montanhas ou ser conselheira num acampamento.
Aconteceu o seguinte: há uns anos, uma amiga me telefonou e perguntou se poderia substituí–la num acampamento de verão. Concordamos em que eu teria alguns dias para pensar sobre o assunto. Orei e me senti muito contente. Devido a essa alegria, concordei, sem imaginar o que esse trabalho requeria.
Sabia que a alegria era o melhor ponto de partida. O resto ficaria claro e foi o que aconteceu. Foi um período maravilhoso o que passei com as crianças e os outros conselheiros, e durante o resto das férias continuei a sentir essa conexão com Deus e a alegria inicial. Quando surgiam problemas, sempre pudemos resolvê–los com a ajuda de Deus.
Muitas vezes, as crianças vinham ter comigo para me perguntar diretamente: "Por que você é tão pequena?" Antes eu tentava dar uma explicação longa e complicada, mas agora tenho o costume de responder: "Porque parei de crescer". E as crianças sempre ficam satisfeitas com essa resposta curta e simples. Às vezes, até acham muito prático não precisar olhar muito para cima para falar com um adulto.
Uma das crianças no acampamento, depois de alguns dias, disse: "Sabe, muitas vezes eu esqueço que você é pequena". É claro que fiquei muito feliz ao ouvir essas palavras, pois é exatamente o que quero: que as pessoas ao meu redor me tratem normalmente.
Sim, sou feliz e gosto de minha vida do jeito que ela é. Sou grata a Deus por uma família amorosa, muitos amigos e uma profissão que me satisfaz. Isso não quer dizer que eu não pense em como as coisas ainda podem mudar. Mas, agora sei que é possível contar a Deus minhas esperanças e ainda assim estar satisfeita com o que tenho.
Ajuda muito pensar em tudo que tenho, tudo pelo qual posso ser grata. E geralmente é muita coisa.
