Em sua despedida, antes da crucificação, Jesus fez uma oração profunda e comovedora que ficou conhecida como "oração sacerdotal". Nela, dirigindo–se a Deus, o Mestre afirmou, entre outras coisas: "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja" (João 17:26). Em outras palavras, Jesus afirma que seu trabalho se resumiu em "fazer conhecer o nome de Deus" aos seus discípulos.
Por que foi isso tão importante? A palavra 'nome' no Antigo Testamento, tinha um significado especial para o povo hebraico. Na Bíblia, o nome não é simples rótulo, mas representa a verdadeira natureza e personalidade daquele a quem pertence. Todos os nomes próprios têm um significado que reflete o caráter da pessoa. Por isso, a obra de Jesus foi, segundo sua própria avaliação, fazer conhecer quem é e como é realmente Deus.
É muito revelador examinar o nome, ou os nomes, que a Bíblia usa para se referir a Deus.
Os textos originais mais antigos do Velho Testamento só tinham consoantes; as vogais eram transmitidas, através dos séculos, apenas pela tradição. Só no século VI ou VII (D.C.) é que sábios judeus colocaram vogais no texto hebraico. Por isso, o nome de Deus era originalmente indicado por quatro consoantes que correspondem a YHVH. Ninguém sabe ao certo como a palavra se pronuncia. É que em alguma época antes da Era Cristã, para não sujar com lábios humanos o nome do seu Deus, talvez numa interpretação supersticiosa do terceiro Mandamento, os israelitas deixaram de pronunciá–lo, e assim as vogais desse nome foram esquecidas. Por ocasião da leitura pública dos rolos, nas sinagogas, ao chegar ao nome YHVH, uma nota marginal dizia: "Está escrito, mas não se lê". E ali mesmo era indicada a palavra que deveria ser lida: "Leia–se ADONAY". Essa palavra significava "Senhor", derivada de ADON (proprietário, dono).
Entre 1200 e 1520 (D.C.), a palavra YHVH passou a ser escrita com as vogais do título ADONAY, transformando–se em YEHOVAH (Jeová). Acontece, também, que em algumas passagens do Antigo Testamento YHVH foi pontuado com as vogais de ELOHIM (como Deus é chamado no primeiro capítulo do Génesis), resultando na forma JEHOVIH (JEOVI).
Na Bíblia, o nome não é simples rótulo, mas representa a verdadeira natureza e personalidade daquele a quem pertence.
SEPTUAGINTA
O costume de usar "SENHOR" para indicar YHVH começou com a Septuaginta, a primeira tradução do Antigo Testamento, a qual foi feita entre 285 e 150 A.C. O texto hebraico foi traduzido em Alexandria, no Egito, para a língua grega. Nesse texto, os tradutores da Septuaginta colocaram por escrito uma tradição oral das sinagogas, onde geralmente se lia "ADONAY" (Senhor) toda vez que ocorria o nome YHVH. Eles passaram a escrever diretamente "Senhor" em grego. Essa foi a Bíblia de Jesus, dos apóstolos e da Igreja Primitiva.
Seguindo o costume que começou com a Septuaginta, a grande maioria das Bíblias atuais emprega o título "SENHOR" (todo em maiúsculas) como correspondente de YHVH. O título "Senhor" (com minúsculas) é tradução da palavra ADON, que em hebraico quer dizer "senhor" ou "dono".
TRADUÇÃO DE ALMEIDA
No Antigo Testamento traduzido por João Ferreira de Almeida e publicado em dois volumes quase sessenta anos após sua morte (1748 e 1753), é empregada a forma JEHOVAH onde no texto hebraico aparece YHVH. Almeida o fez baseado na tradução espanhola de Reina–Valera (1602). Na versão Almeida conhecida como Revista e Corrigida lançada no Brasil em 1898 e que ainda hoje é usada, a comissão revisora da Sociedade Bíblica do Brasil substituiu JEHOVAH por "SENHOR" nas passagens em que esse nome ocorre.
De acordo com Êxodo 3:14, Deus se apresentou a Moisés como AQUELE QUE É, o Deus absoluto e imutável. A forma Yahveh em hebraico corresponde ao verbo 'ehyeh, repetido em Ex. 3.14: EU SOU O QUE SOU ou, numa tradução mais exata, EU SOU AQUELE QUE É. Justamente nesse significado de Yahveh é que fica mais patente a natureza de Deus. O verbo "ser" em todas as suas formas, tinha um significado muito mais vasto do que em nosso português. Ele transmitia a idéia de: acontecer, sair, ocorrer, tomar lugar, vir a ser, vir a acontecer, vir a existir, tornar–se, erguer–se, aparecer, vir, ser instituído, ser estabelecido, ser, estar, existir, ficar, permanecer, continuar, estar em, acompanhar, estar com, estar pronto, estar concluído. Isso nos faz compreender como o nome "EU SOU AQUELE QUE É" expressa a natureza infinita e absoluta de Deus.
O hebraico era um idioma que se baseava em verbos, o significado de todos os nomes próprios continha um verbo. O próprio nome de Jesus significa "YHVH é Salvação". Para nós a palavra Deus pode parecer apenas um nome próprio, estático. Para a Bíblia, o nome de Deus é um verbo, expressa ação. Quando lemos em Isaías 52:6: "...o meu povo saberá o meu nome", ou em Jeremias 16:21: "Saberão que o meu nome é YHVH", ou nos Salmos 9:10: "Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome" vemos imediatamente que conhecer o nome de Deus é algo bem diferente de se conhecer as sílabas que o compõem. É saber por experiência que Deus realmente é aquilo que Seu nome declara, significa compreender a idéia que o nome expressa. Foi essa idéia que Jesus deu a conhecer, por palavra e por demonstração.
Bibliografia: Estudo Perspicaz das Escrituras, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados; Dicionário do Strong's Exhaustive Concordance of the Bible; Revista A Bíblia no Brasil, da Sociedade Bíblica do Brasil, julho/setembro de 2000; Revista Scripture Forum, PACE, Volume 5, N 3.
