O martelo da justiça não se faz ouvir em demasiados lugares hoje em dia e, às vezes, o som é amortecido pelos passos pesados da tirania e da injustiça. Porém, a justiça é a essência da lei, especialmente da lei divina. E a lei divina é o que guia a cada um de nós sob o governo bom de Deus.
Se nosso coração está em sintonia com nossos irmãos e irmãs no mundo inteiro, instintivamente ansiamos por responder a seus apelos de socorro onde quer que a injustiça, o abuso e a opressão pareçam reinar.
Quando era adolescente, vivia na Argentina e pensava muito pouco em lei e justiça. Passava o tempo aproveitando a escola, meus amigos e a cidade linda onde morávamos. De repente, porém, me defrontei com a injustiça e seus efeitos dolorosos, quando o irmão de uma colega da escola desapareceu depois de participar de uma manifestação estudantil. Não soubemos de seu paradeiro por aproximadamente seis meses. Seus pais estavam aflitos. Não tinham a menor idéia do que poderia ter acontecido com o filho, embora estivessem cientes dos muitos raptos políticos ocorridos na época.
O acontecimento serviu como forte cotovelada ao meu conceito imaturo de lei, justiça e seus opostos. Posso dizer que desenvolvi rapidamente um certo grau de maturidade. Eventualmente, o irmão de minha amiga reapareceu, mas nunca emitiu uma palavra sobre o que havia se passado com ele. Tinha sido silenciado pelo medo e pelas ameaças.
Intimamente, protestei contra a injustiça e a crueldade sofridas pelo irmão de minha colega, contra a falta de auxílio e o medo impostos à família de minha amiga e até contra o meu sentimento de desamparo. Ainda levei muitos anos para começar a compreender que eu nunca estava sem recursos, porque a oração é uma ferramenta poderosa para trilhar um caminho na estrada que leva a vencer a injustiça, a desigualdade, a falta de esperança e a opressão. A oração é uma ferramenta eficaz, com a qual desarraigamos esses males, para nós mesmos e para os outros, e semeamos, em seu lugar, a verdadeira justiça.
Quando li na Bíblia as experiências de bons homens e mulheres, vítimas da crueldade e do ódio, que triunfaram sobre suas circunstâncias, pensei no personagem do Antigo Testamento, José. Foi vendido como escravo por seus irmãos, acusado falsamente, condenado e preso, mas continuou fiel à lei divina da justiça. Percebi que, apesar de toda essa injustiça, José nunca se rendeu a sentimentos de retaliação, vingança ou mesmo desespero. Pelo contrário, ele praticou ativamente a compaixão, o perdão e o amor, cumprindo assim a lei de Deus. Com essa história aprendi que a lei divina de justiça e misericórdia alcança muito além das falhas e caprichos da lei humana. Essa lei divina, estabelecida e mantida por Deus, o Princípio divino do universo, sempre opera em nosso benefício, nunca é sujeita a nenhuma vontade humana inferior e pode restaurar o bem que parece ter sido tirado de nós, seja ele saúde, liberdade ou o direito de fazer escolhas acertadas.
Ainda mais tarde, quando me familiarizei mais com as Escrituras, descobri um pequeno versículo do Antigo Testamento que resume a natureza da suprema justiça de Deus. O profeta Isaías disse: "...o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso Rei; ele nos salvará" (Isaías 33:22). Ler essas palavras, pela primeira vez, foi como encontrar um riacho de água gelada após uma longa caminhada nas montanhas. Em meio aos gritos de injustiça e sofrimento, somos consolados e curados ao lembrar que é Deus, o infinito misericordioso, quem guia nossos pensamentos e ações rumo à justiça e à paz. Ele é o Legislador; Suas leis são justas e imparciais. Não pode haver oposição a elas, pois Ele é o único poder que existe.
Foi Jesus quem, muitos séculos depois, ofereceu a prova prática das palavras de Isaías. E o fez com amor compassivo: restaurando a saúde dos que estavam doentes e sofriam; restabelecendo a pureza e a inocência onde a culpa parecia dominar; amando, apreciando e alimentando aqueles que se sentiam abandonados e privados de algo. Ele falava da lei e da misericórdia de Deus como um recurso eficaz, mas nunca desculpou ou concordou com o comportamento errado. Em vez disso, ensinou seus ouvintes a cumprir a graça da lei divina, que restaura e cura. Para muitas pessoas, isso se resume nas palavras penetrantes de Jesus que hoje conhecemos como A Regra Áurea: "Tudo quanto... quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles..." (Mateus 7:12), uma regra que, por sinal, é praticada atualmente por muitas religiões, no mundo inteiro.
Mais recentemente, Mary Baker Eddy, outra defensora incansável dos direitos humanos, lutou contra várias formas de injustiça em sua própria vida. Mas fez mais do que isso. Defendeu os direitos divinos de mulheres, homens e crianças em toda parte: saúde, inteireza, liberdade, um lugar na sociedade. Em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, ela usa palavras fervorosas para falar do direito que cada um tem de ser livre, por ser filho amado de Deus. Sempre desejosa de ajudar as vítimas da tirania e da opressão, ela escreveu da necessidade de "Um cristianismo mais elevado e mais prático, que demonstra justiça e atende às necessidades dos mortais, tanto na doença como na saúde..." (p. 224).
Com a obra de sua vida, a fundadora desta revista provou para o mundo inteiro que, quando a doença é curada por meios espirituais, a justiça é cumprida. Quando uma família em perigo é fortalecida e reunificada, a justiça é cumprida. Quando o futuro de uma criança é redimido pelos esforços de pessoas altruístas, a justiça é cumprida. Quando, em sua cela, um prisioneiro sente o conforto do Cristo, a justiça é cumprida.
Este mês o Arauto lança uma série de artigos e entrevistas que abordarão o tema da justiça. Essa série convida cada um de nós a pensar profundamente sobre nosso direito divino à saúde, ao propósito, à inteireza, à justiça e à liberdade. A equipe do Arauto espera que esta série de artigos desafie seu pensamento e o eleve.
