Certa vez minha mãe contou uma história chamada: “O Leilão do Diabo”. A história é mais ou menos assim: O diabo estava realizando um leilão para liquidar todos os seus utensílios pelo lance mais alto. As ferramentas incluíam coisas como ódio, fraude, ciúme e vingança.
Contudo, havia uma ferramenta especial que ele colocou de lado. Era uma ferramenta pequena, em forma de cunha, aparentemente inofensiva, mas era mais cara do que todas as outras. Alguém perguntou ao diabo: “Que ferramenta é essa...e por que seu preço é bem mais alto do que o das outras ferramentas?”
“Ah! Essa é o desânimo”, respondeu o diabo. “Com essa ferramenta, posso penetrar na consciência de qualquer pessoa e fazer quase tudo o que quero”.
Então, uma outra pessoa perguntou ao diabo: “Existe alguém em quem essa ferramenta não funcione?”
“Sim...uma pessoa com um coração cheio de gratidão”.
Por que a gratidão pode nos impedir de ter pensamentos maus ou desanimadores? Ser grato ilumina o que é bom em nossa vida. Ao reconhecer o que é bom, estaremos acalentando a vida e percebendo a beleza da criação de Deus. Nem sempre é fácil se sentir grato, principalmente quando nos sentimos por baixo e as coisas não dão certo para nós. Mas, usar as ferramentas da gratidão e reconhecer a bondade de Deus em nossa vida nos eleva acima do desânimo.
Quando eu era criança, minha mãe me ensinou a buscar o bem em minha vida. Sempre me lembrarei das três perguntas que ela fazia, enquanto me colocava na cama para dormir. A primeira pergunta era: “Diga-me uma coisa boa que aconteceu hoje?” Em seguida, perguntava: “Quem fez algo realmente bom?” Então, no final: “Pelo que você é grata?” Saber que essas perguntas seriam feitas à noite, fazia-me procurar pelas respostas o dia inteiro. Eu respondia coisas como: “consegui ser a primeira da fila na escola hoje”. “Jed (meu irmão) fez um desenho para mim”. “Sou grata por ter uma cama aconchegante para dormir”. Parecem simples respostas de criança, mas vinham do coração e significavam muito para mim. Esse hábito de buscar o bem e me sentir grata por ele continuou sendo muito útil.
O último ano do ensino médio é muito importante. É o ano em que podemos sair da escola nos horários vagos e é o apogeu de todo o trabalho árduo feito ao longo dos anos. Além disso, nos Estados Unidos, é um ano repleto de expectativa pelas cartas de aceitação das universidades.
Estava muito animada para entrar na universidade, portanto apressei-me a preparar pedidos de admissão para minhas faculdades favoritas. Utilizei os fins de semana para escrever profundas dissertações e apresentar meus créditos arduamente ganhos. Acabei enviando cinco pedidos dentro do prazo da admissão antecipada (antes de 1° de novembro do último ano do ensino médio), dessa maneira, eu saberia, em meados de dezembro, se havia sido aceita. Como a maioria dos estudantes, eu estava muito ansiosa para saber a decisão da comissão de admissões de cada faculdade. Estava quase certa de que receberia pelo menos uma carta de aceitação.
À medida que os dias e as semanas passavam, procurava coisas pelas quais ser grata. Também, deixei que minha certeza de que Deus tinha um plano perfeito para mim, dominasse minha ansiedade.
Dezembro chegou e era uma alegria saber que meus colegas de classe eram aceitos por faculdades. Finalmente, chegou a minha vez. Contudo, meus envelopes eram todos muito finos e leves. As cartas continham palavras gentis como: “Obrigado por sua solicitação...neste momento, não estamos prontos para tomar uma decisão”, ou “Lamentamos informar que não podemos lhe oferecer admissão para o próximo ano letivo”. Fiquei arrasada e completamente desalentada. Era muito desanimador pensar que não recebera qualquer recompensa por ter estudado dia e noite para obter boas notas e dedicado meu tempo ás atividades escolares. Sentia-me abandonada.
Pouco tempo depois, encontrei um versículo na Bíblia que dizia assim: “Eis que eu envio um Anjo adiante de ti, para que te guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado” (Êxodo 23:20). Deus disse a Moisés que tivesse completa confiança em Sua orientação, como também que Ele cuidaria, governaria e conduziria Moisés e os filhos de Israel à Terra Prometida. Depois que li e compreendi esse versículo, o anotei em um pedaço de papel e o anexei ao meu quadro de lembretes. Sabia que aprenderia muito com essas palavras se pensasse nelas nos momentos de desânimo.
À medida que os dias e as semanas passavam, procurava coisas pelas quais ser grata. Também deixei que minha certeza de que Deus tinha um plano perfeito para mim, dominasse minha ansiedade. Ao invés de me sentir humilhada e desanimada, empenhei-me em preparar e enviar pedidos de admissão para outras faculdades, durante o prazo. Compareci a entrevistas, fiz, por duas vezes, exames de seleção e marquei algumas audições vocais nas faculdades de música de algumas universidades, uma vez que gosto muito de cantar e esperava ser aceita em algum programa.
Durante todo esse tempo, dei o máximo de mim e confiei no cuidado e na orientação de Deus, especialmente quando fui para a audição na faculdade de música de uma universidade. Momentos antes de sair, minha mãe partilhou comigo um versículo de Jó, que diz: “Pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito...” (23:14). Cantei com todo o meu coração porque sabia que era o que Deus designara para mim. Minha imediata aceitação na faculdade de música me encorajou e fiquei grata pela oportunidade que me fora dada. Entretanto, decidi que esse não era o lugar certo para mim.
Aprendi que começar com Deus e agradecer-Lhe, de todo o coração, por todo o bem que se desdobra em nossa vida, percebendo-o tanto nas grandes como nas pequenas coisas, nos abençoa.
Havia ouvido certa vez que circunstâncias e oportunidades não geram gratidão, mas que a gratidão colabora muito para adequá-las. Por que então, às vezes, falta gratidão em nossa vida? Talvez porque não achamos que seja merecida, como quando recusamos a pôr óleo no carro que não está funcionando bem, sendo que é exatamente de óleo que o carro precisa. A gratidão tem a qualidade maravilhosa de criar a expectativa do bem que ainda está por vir.
Conseqüentemente, o bem veio. Ligava diariamente da escola para casa para ver se alguma correspondência havia chegado das faculdades. Certo dia, minha mãe não atendeu ao telefone. Ao invés disso, encontrei-a esperando por mim no estacionamento da escola com um envelope na mão, que desta vez era bem grosso. Era uma carta de aceitação da universidade que eu freqüentaria no ano letivo seguinte.
Toda essa experiência faz lembrar um hino de que gosto:
“Um puro e grato coração
É um jardim de amor,
No qual a graça divinal
Floresce em esplendor”.
(Hinário da Ciência Cristã, 3).
Aprendi que começar com Deus e agradecer-Lhe, de todo o coração, por todo o bem que se desdobra em nossa vida, percebendo-o tanto nas grandes como nas pequenas coisas, nos abençoa. Traz o tipo de otimismo que nos ajuda a abrir os olhos para o bem que já está presente e para o bem que ainda está por vir.
