Todos nós, em algum momento, precisamos enfrentar situações de sofrimento profundo, quando alguém próximo de nós, ou mesmo um conhecido distante, falece. O que parece muito difícil, às vezes, é que, embora talvez digamos que alguém "passou" desta para outra vida, no fundo pensamos ou sentimos que a pessoa realmente morreu. Contudo, os termos significam duas coisas completamente opostas.
Mary Baker Eddy escreveu: "Na ilusão da morte, os mortais despertam para tornarem-se conscientes de dois fatos: primeiro, de que não estão mortos; segundo, de que apenas transpuseram o limiar de uma nova crença" (Ciência e Saúde, p. 251). Por conseguinte, enquanto a palavra morte se refere a uma ilusão dos sentidos materiais, os mesmos sentidos que nos comunicam todos os tipos de truques visuais e fraudes, a palavra "passar" sugere vida contínua, ininterrupta. O pesar discorda do conhecimento de que a vida é puramente espiritual e que, portanto, continua para sempre.
Ao orar sobre esse tema ao longo dos anos, quando me defronto com o pesar, lembro-me freqüentemente de uma aula que dei na Escola Dominical para uma turma de sete e oito anos de idade.
Uma aluna da classe, que estava sempre alegre, chegou um domingo de manhã, visivelmente desolada. Ela se inclinou em minha direção, antes do início da aula, e me sussurrou entre lágrimas: "Minha avó faleceu ontem". Busquei em Deus uma resposta sanadora para a necessidade dela.
Quando a aula começou, decidi pedir aos alunos que descrevessem uma das alunas, Louise, sem se referirem aos seus atributos físicos. Entre outras coisas, eles reconheceram a generosidade e a doçura de Louise, que ela sorria com facilidade e era uma menina. Claramente, eles reconheceram em Louise as qualidades espirituais que ela irradiava de Deus, seu Criador.
Então, pedi que Louise saísse da sala, longe da vista deles, e perguntei para a classe o que pensavam de Louise agora. Naturalmente, eles disseram que sentiam o mesmo de antes. Se Louise tivesse se mudado para um país distante, será que eles ainda a reconheceriam e a amariam? "Sim!", responderam. Se nunca mais a vissem de novo, eles ainda a reconheceriam e a amariam? "Claro que sim!" Quando acabamos nossa conversa, todas as crianças saíram da classe felizes e confiantes.
O que os sentidos materiais, ou testemunhas da mortalidade, observam, não é absolutamente o que a pessoa que morreu vivencia. Ao contrário, essa pessoa precisa vivenciar a continuação da consciência, que é inseparável de Deus, a Vida sempre-presente.
Em sua obra principal, Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy associa as palavras morte e ilusão, pelo menos 13 vezes. No Glossário do livro há a definição de morte: "Uma ilusão" (p. 584). Em outra parte, ela escreve: "A Vida é real e a morte é a ilusão" (P. 428). Isso indica que o que os sentidos materiais, ou testemunhas da mortalidade, observam, não é absolutamente o que a pessoa que morreu vivencia. Ao contrário, essa pessoa precisa vivenciar a continuação da consciência, que é inseparável de Deus, a Vida sempre-presente. Dessa maneira, a vida da pessoa não pode terminar, uma vez que ela é o reflexo eterno de Deus. Ao invés de limitação e finidade, é o progresso ilimitado que está à frente daqueles que "passaram", exatamente da mesma forma que está, para mim e para você, agora mesmo.
Há alguns anos, por ocasião do falecimento de meu pai, refleti muito sobre a Regra Áurea: "fazer aos outros o que desejamos nos façam", como também sobre o lugar significativo que essa regra ocupa nos ensinamentos da Christian Science. Compreendi que jamais desejaria que alguém pensasse em mim como se eu estivesse "morta" ou que falasse de mim no passado, sepultando-me, de fato.
Conseqüentemente, fiz disso uma questão de honra, nunca pensar em meu pai como se ele tivesse vivido no passado. Ao invés disso, penso nele no presente, caminhando com passos firmes, juntamente com Deus. Eu não o "enterrei", mas continuo a apreciar sua identidade espiritual, mantida por Deus, em progresso contínuo. Desse modo, tenho mantido um senso muito vívido de meu pai e jamais deixei de amá-lo ou de me regozijar em sua constituição espiritual e em sua continuidade. Como resultado, não existe nenhuma razão para tristeza ou pesar.
Contudo, descobri que o pesar pode encontrar maneiras de penetrar no pensamento de formas sutis e de se manifestar de forma menos evidente. Por trás dele, está a premissa fundamental da mente mortal de que a vida é, no final das contas, material, conhecida por meio do sentido material, frágil, que pode nos faltar e, por isso, precisa ser lamentada. Algumas vezes, essa premissa errônea pode parecer um pouco com um esquilo no gramado. Quando você acha que identificou o lugar onde ele talvez possa surgir, ele encontra outro para aparecer. É necessário estar sempre alerta e vigilante e fazemos isso quando reconhecemos nossa união com o Cristo, a verdade de Deus, que não pode ser hipnotizada ou manipulada. A consciência do Cristo nunca consente que haja vida na matéria, porque essa consciência se origina em Deus e é inseparável dEle. À medida que enchemos nossa consciência com o bem, nos tornamos mais atentos à sugestão de pesar em situações insuspeitas, tais como: uma oportunidade perdida, um emprego perdido, a perda da auto-estima ou da confiança, a diminuição do amor ou da fé em Deus como o bem sempre presente.
Quando novamente fui atingida intensamente, por um sentimento de perda, vi que nutria alguns pensamentos bastante desanimadores. Sabia que precisava lidar com isso por meio da oração e, quando me volvi a Deus, percebi que esses pensamentos representavam uma forma de pesar que apontava para o eu material e eram destituídos de inspiração. Claro que desejava manter meus pensamentos focados no Cristo, a Verdade.
Quando ponderei seriamente sobre isso, as palavras pano de saco e cinzas me vieram muito claramente ao pensamento.
Reconheci que essa era uma frase bíblica, embora nunca tivesse prestado muita atenção a essas palavras. Procurei pelo significado delas e descobri que pano de saco é um tecido extremamente grosso, como lona. É feito de pêlo de cabra, o que o torna muito desconfortável para quem o usa. Pude perceber que se sentir dessa forma era exatamente a mesma imposição de vestir uma roupa desconfortável. Era pesada, áspera e nunca seria minha escolha natural. À medida que pesquisei um pouco mais, descobri que as cinzas eram usadas para desfigurar e escurecer a face e o corpo. A Bíblia descreve o ato de se sentar nas cinzas, de se cobrir com elas e até mesmo se chafurdar nelas. As cinzas desfiguram as feições da mesma forma que longos períodos de choro tornam a pessoa quase irreconhecível.
Ambos os atos, ou seja, o de se vestir com pano de saco e o de se cobrir de cinzas, são formas de autopunição.
A consciência do Cristo nunca consente que haja vida na matéria, porque essa consciência se origina em Deus e é inseparável dEle.
Compreendi que manifestava pesar. Embora os pensamentos fossem sutis, admitira gradualmente que o bem podia ser frágil, morrer e ser tirado de mim. Vi isso como uma tentativa daquilo que Paulo chamou de "mente carnal", ou pensamento mortal, atingindo-me em um lugar vulnerável e fazendo-me ver a vida como material. Essa aparente separação do bem é, em realidade, uma forma de morte e traz como resultado a crença prolongada na morte, sob a forma de choro, remorso, perplexidade e outras armadilhas mentais.
Ao invés de nos deixar com uma falsa impressão, o amor de Deus habita e permanece em nós. Podemos confiar em Deus com relação a todos os aspectos de nossa vida.
Em uma passagem na Bíblia, está escrito que às pessoas vestidas de pano de saco não era permitido passar pelo portão do rei (ver Ester 4:2). Para mim, isso significa que, por ter caído em pesar e desconsolo, me excluira do terno consolo do Cristo e me mantivera fora do reino, do reino de Deus, ou seja, da consciência do bem. Reconheci que essa mentalidade de pano de saco não era em absoluto minha inclinação natural. Minhas orações me ajudaram a me livrar dela, como também a limpar meu pensamento das cinzas.
À medida que o peso da tristeza desaparecia, uma expressão maravilhosa me veio ao pensamento, a qual literalmente eliminou qualquer resíduo de tristeza. Era a expressão em inglês "heaven's aftersmile", traduzida para o português como Teu sorriso. A Sra. Eddy a utilizou em um de seus poemas intitulado "A oração vespertina da Mãe": "Pois Teu sorriso, a lágrima secou; E a mãe, em Ti, seu lar e paz achou" (Poems, p. 5 [ver Hinário da Ciência Cristã, 207]). Compreendi que "heaven's aftersmile" (ou seja, o arco-íris após a chuva) é o antídoto para qualquer "efeito" (aftermath) da tristeza (em inglês, um trocadilho "aftermath /aftersmile"), uma mensagem da graça de Deus, um senso permanente de Sua presença, exatamente onde qualquer coisa dessemelhante dEle, dessemelhante do bem que Ele é, parece estar. Com isso, livrei-me dos efeitos do pesar.
Ao invés de nos deixar com uma falsa impressão, o amor de Deus habita e permanece em nós. Podemos confiar em Deus com relação a todos os aspectos de nossa vida. Podemos confiar a Ele a vida dos membros da nossa família e dos nossos amigos, a nossa carreira e, até mesmo, a preservação do amor e da fé que temos nEle. Podemos nos aproximar cada vez mais de Deus, a fonte de todo o bem e da própria Vida, e permitir que a influência tranqüila e poderosa do Cristo enxugue nossas lágrimas e acalme nossas preocupações.
Embora não seja agradável descobrir que fomos temporariamente enganados a acreditar em uma ilusão de qualquer tipo, o despertar é tão luminoso, tão restaurador, que nos sentiremos melhor por causa dessa experiência e duplamente vigilantes. A melhor parte? O sorriso celestial que nos espera.
