O mundo parece estar cheio de opostos. Norte e sul. Certo e errado. Masculino e faminino. O bem e o mal.
Consideremos o último par de opostos. Ele não faz parte do primeiro relato da criação, que consta do primeiro capítulo do Gênesis, onde tudo é "muito bom". Nesse capítulo, opostos como certo e errado ou o bem e o mal simplesmente não aparecem. Mesmo os gêneros, masculino e feminino, não estão apresentados como um conjunto de opostos: "...homem e mulher os criou" diz aquele capítulo sobre o ser da criação de Deus. Unidade, não dualidade. Inteireza, não parcialidade. União, não divisão, constituem o estado do ser.
O primeiro capítulo do Gênesis apresenta o registro da criação divina, na qual não existe a matéria e o Espírito, ou seja, a criação espiritual de Deus, o homem, nunca foi dividido em gêneros, mas no qual Deus expressa a Si mesmo, como a plenitude que se desdobra eternamente.
Em sua interpretação espiritual dessa história da criação, Mary Baker Eddy chama a atenção para o versículo 5 do primeiro capítulo, isto é, para a criação do dia e da noite, como uma prova concreta desse fato. "Todas as perguntas sobre se a criação divina é tanto espiritual como material, estão respondidas nesse trecho", escreveu ela, "porque embora os raios solares ainda não estejam incluídos no relato da criação, contudo a luz existe. Essa luz não provém do sol nem de chamas vulcânicas, mas é a revelação da Verdade e das idéias espirituais" (Ciência e Saúde, P. 504).
A interpretação espiritual da Sra. Eddy sobre a história da criação, coloca em seu devido lugar, a noção de que o universo que Deus vê e conhece como Seu possa expressar qualquer coisa que não seja a inteireza unificada. Contudo, o que vemos e vivenciamos no dia-a-dia aponta para uma visão notavelmente diferente, ou seja, que os opostos são endêmicos à existência humana.
A história do erro
Mary Baker Eddy se referia ao relato da criação descrito no segundo capítulo do Gênesis como "A história do erro". Sobre essa falsa narrativa, ela escreveu: "A Ciência da criação divina e a verdade acerca dessa criação foram apresentadas nos versículos já considerados, e agora o erro contrário, um conceito materialista acerca da criação, vai ser exposto. O segundo capítulo do Gênesis contém uma exposição desse conceito material acerca de Deus e do universo, exposição que é o exato oposto da verdade científica anteriormente relatada" (Ibidem, p. 521).
Reconhecer o capítulo 2 do Gênesis como "o oposto exato da verdade científica", permite-nos identificar a imagem invertida da Verdade como tal, ou seja, como uma mentira sem poder. Esse reconhecimento elimina a noção de que, porque existe o bem, tem de existir o mal, porque existe a saúde, tem de existir a doença ou porque existe a vida, tem de existir, inevitavelmente, a morte.
O trecho do capítulo 1 "...homem e mulher os criou" dá uma perspectiva radicalmente diferente sobre a identidade e a unidade da criação. Põe a masculinidade e a feminilidade no mesmo plano. Essa visão elimina, absoluta e completamente, a subordinação e outras manifestações de desigualdade.
O trecho do capítulo 1 "...homem e mulher os criou" dá uma perspectiva radicalmente diferente sobre a identidade e a unidade da criação. Põe a masculinidade e a feminilidade no mesmo plano.
"Aproprie-se deles"
Onde começa a mentira sobre os gêneros? Certamente, com a crença em nascimento na matéria (de novo o capítulo 2). "Um só é o Princípio e sua idéia" (Ibidem, P. 465), escreveu a Sra. Eddy. O nascimento divino sugere continuidade infinita, rejuvenescimento, renovação, redenção, restauração. Ele promete que, porque somos a idéia da Mente, nunca poderemos ser separados da inteligência. Como descendência da Alma, nunca poderemos ser desconectados da inspiração, da audição e visão divinas.
Esse é o direito inato em seu mais verdadeiro sentido de que tudo o que Deus é, o homem herda. Se o sujeito, Deus, é perfeito, o objeto, nós, é perfeito. Causa perfeita e efeito perfeito. Deus perfeito e homem perfeito.
Nossa herança divina
Quanto mais reconhecemos que somos a expressão de um Deus onipotente, mais incorporamos esse poder, que juntamente com a inspiração, sabedoria, amor e tudo o mais de que necessitamos, é nossa herança divina, que vem a cada um de nós naturalmente.
Nosso relacionamento primordial é a coexistência com o Amor divino, que nos conforta, cuida e sustenta, exatamente como um pai ou mãe amorosos fariam.
Conhecer nossa ascendência e herança divinas, o sentido espiritual de criação, nos liberta das limitações impostas pela hereditariedade e pelo DNA. A crença em deficiência física ou mental de incapacidade ou inadequação é exposta como uma mentira gritante, quando compreendemos que coexistimos com nossa fonte divina. A própria morte perde o poder na medida em que compreendemos que somos as idéias do Espírito, a expressão da própria Vida.
O sentido espiritual é a chave que nos ajuda a reconhecer a Verdade e a confiar nela. Então, veremos todas essas mentiras pelo que são, ou seja, a serpente falante no segundo capítulo, o magnetismo animal, que não tem poder ou atração reais.
Defesa diária
A Sra. Eddy diz claramente para nos defendermos contra as mentiras do magnetismo animal, ou o que ela chamava de "sugestões mentais agressivas". À medida que compreendermos que qualquer sugestão de doença não é corporal, mas mental, podemos enfrentá-la pelo que ela é, uma crença, não uma condição ou um fato.
Quando li este imperativo da Sra. Eddy: "Será dever de todo membro desta Igreja defender-se diariamente contra sugestão mental agressiva, e não se deixar induzir ao esquecimento ou à negligência quanto ao seu dever para com Deus, para com sua Líder e para com a humanidade" [a ênfase é minha] (Manual d'A Igreja Mãe, p. 42), percebi que o magnetismo animal tenta nos fazer esquecer ou negligenciar nosso dever de expressar a Deus, de ser o filho/filha, o ser saudável, perfeito e completo de Sua criação.
Entretanto, o magnetismo animal não pode nos fazer crer que somos materiais, vivendo de uma forma finita, divididos em géneros, separados da unidade de uma criação harmoniosa. Podemos não só elevar nosso conceito sobre nós mesmos como a expressão do infinito, mas também sobre relacionamentos e interações homen-mulher, a uma concepção mais universal de fraternidade e a um sentido mais espiritual de casamento.
À medida que compreendermos que qualquer sugestão de doença não é corporal, mas mental, podemos enfrentá-la pelo que ela é, uma crença, não uma condição ou um fato.
Uma revelação divina
É por isso que a declaração mais radical da Sra. Eddy sobre casamento não aparece no capítulo "Matrimônio", mas no capítulo "O Apocalipse", que explica o livro bíblico sobre a revelação. Essa idéia de casamento é uma revelação: "...o pensamento sussurra docemente: 'Vem! Ergue-te acima de tua consciência errônea e adentra-te no verdadeiro sentido do Amor, e vê a esposa do Cordeiro — o Amor desposado com a sua própria idéia espiritual' ", escreveu ela. "Então, seguir-se-á a festa das bodas, porque essa revelação destruirá para sempre os flagelos físicos impostos pelo sentido material" (Ciência e Saúde, pp. 574—575).
"...o Amor desposado com a sua própria idéia espiritual". Esse pensamento nos liberta da guerra dos sexos. Torna-nos imunes à insatisfação e ao medo que jaz sutil, mas agressivo, por baixo da noção de que estejamos em busca de um parceiro ou parceira, ou seja, de inteireza. Firma-nos no fato espiritual de que cada um de nós já inclui todas as qualidades masculinas e femininas em um único ser, porque o verdadeiro casamento espiritual significa estar conectado, infinitamente próximo ao nosso Pai-Mãe Deus.
A confiança na plenitude divina, em nosso relacionamento eterno com o Amor, não està além da nossa compreensão, é nossa exatamente agora, pois é nosso direito inato, divino e eterno.
