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A cruz e a coroa

Da edição de abril de 2006 dO Arauto da Ciência Cristã


Simão, filho de Jonas, foi um discípulo de muito potencial. Ele deixou tudo para seguir seu amado Mestre, Jesus Cristo. Com uma percepção espiritual profunda, ele é o único que declara a verdadeira identidade de Jesus como o Messias, “o Filho do Deus vivo”. Por isso, Simão recebe as chaves do Reino dos Céus e o novo nome de Pedro, que significa “rocha”.

Contudo, existe uma sombra que persegue a vocação de Pedro, uma sombra da qual ele parece não se revelação de Pedro sobre a identidade de Jesus, o Mestre anuncia a própria e iminente crucificação e ressurreição. Pedro o afasta e o repreende: “Que Deus não permita! Isso nunca vai acontecer com o senhor!” Chocado, a reação de Jesus é rápida e áspera: “Saia da minha frente, Satanás! Você é como uma pedra no meu caminho para fazer com que eu tropece, pois está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa” (Mateus 16:22, 23).

Mais tarde, com a mente ainda voltada para coisas materiais como honra e glória, Pedro é incapaz de compreender por que Jesus, depois de compartilhar sua última ceia, se humilharia lavando os pés de seus discípulos. “O senhor nunca lavará os meus pés!” Pedro diz a ele. Jesus responde: “Se eu não lavar, você não será mais meu discípulo!” (João 13:8).

Por que o ato de Jesus é tão importante, que a recusa de Pedro em participar dele o impediria de ter qualquer parte com o Mestre? Ao se curvar para lavar os pés de seus discípulos, Jesus ensinou uma lição de humildade e amor, exatamente na véspera de sua crucificação e subseqüente glorificação. É interessante notar que o Evangelho de João, no qual esse relato aparece, usa a frase “ser levantado” para unir as experiências de Jesus da crucificação (levantado sobre a cruz) e a ressurreição (elevado até seu Pai). Considerar essas duas experiências como uma só, unifica sacrifício e glória como exigências para o verdadeiro discipulado, unindo a cruz e a coroa como inseparáveis.

Pedro tem a coroa firmemente em seu poder, ou assim ele pensa. Agora, insiste para ser lavado por inteiro, talvez sentindo que isso aumentará seu prestígio perante Jesus. Entretanto, Jesus Ihe diz claramente: “Agora você não entende o que estou fazendo, porém mais tarde vai entender” (João 13:7). Por meio de sua auto-imolação no lava-pés, Jesus profetiza sua iminente morte na cruz. “Vocês entenderam o que eu fiz?” pergunta Jesus com insistência. “Assim como eu os amei, amem também uns aos outros” (João 13:34).

Porém, Pedro não é capaz de amar como seu Mestre. Embora tivesse declarado que daria sua vida por ele, dentro de poucas horas, quando Jesus é preso, Pedro nega por três vezes que conhece Jesus. A promessa de Pedro se dissolve em lágrimas amargas. Contudo, de seu fracasso advém a morte de seu orgulho, ou seja, a cruz para Pedro, sua cristianização, o próprio caminho para sua promessa de ressurreição. Ele está sendo inteiramente lavado.

Pedro talvez se perguntasse: “Por que não a coroa sem a cruz”? O paradoxo supremo, ou seja, para que sejamos salvos, precisamos “morrer” ou desistir de todas aquelas coisas que se interporiam no caminho do amor perfeito que Jesus demonstrava, encontra-se no âmago das “boas-novas” do Novo Testamento, dos Evangelhos. Ser salvo, vai muito além da mera libertação do mal para uma total transformação e redenção de nossa vida. “Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 10:39).

Assombrosamente, mesmo depois de o próprio Jesus ter abandonado tudo pelos seus seguidores, depois de sofrer uma crucificação humilhante, de passar três dias na tumba e de sua subseqüente ressurreição, os discípulos vão pescar. Talvez eles necessitassem de tempo para digerir o que haviam acabado de testemunhar, ou seja, a morte do que eles achavam que conheciam e a nova realidade na qual estavam agora imersos. Particularmente, Pedro tinha de lutar com seu próprio fracasso na fé.

Com o despontar do dia, suas redes e sonhos aparecem vazios. Contudo, repentinamente lá da praia, a voz de um estranho grita por eles para que lancem sua rede para o lado direito do barco. Contudo, é a rede deles, prestes a rebentar com tantos peixes, que indica a identidade do estranho na praia. A impetuosidade faz Pedro se lançar fervorosamente na água, a fim de se juntar ao Mestre.

Pedro e Jesus têm questões não resolvidas. Jesus lhe pergunta: “...você me ama mais do que estes outros me amam?” (João 21:15). Você me ama? Você me ama? Três vezes Pedro havia adormecido no Getsêmani; três vezes havia negado a Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote; e agora, três perguntas e três respostas, uma mais premente que a outra, lembrando a ambos o momento da crucificação.

Assim como o Jesus ressuscitado retornou para Tomé, a fim de conduzi-lo da dúvida para a fé, ele também regressou para Pedro e outros, para movê-los da fé para a ação. É o amor e a paciência do Cristo expresso por Jesus na restauração de um dos seus, que leva Pedro para além deste momento de confrontação, rumo à cura e ao discipulado. O amor de Pedro se torna agora muito mais do que o simples movimento dos lábios. Sua nova vida, voltada para o serviço das ovelhas de Jesus, se torna um sacramento, um instrumento de graça. A fé na ressurreição demorou a surgir no pensamento de Pedro, mas agora realmente aparece.

“Mesmo que todos o abandonem”, Pedro havia alardeado, “eu nunca abandonarei o senhor” (Marcos 14:29). Pedro, e todos os que o seguem, chegaram à conclusão de que não podemos fazer as coisas à nossa maneira ou então trabalharemos em vão. Mas, na presença do Cristo ressuscitado, novas possibilidades surgem num piscar de olhos. O que parecia uma rede vazia está agora prestes a se romper.

Dois milênios mais tarde, ainda lemos sobre o arrependimento, a regeneração e o vigor espiritual de Pedro, encontrando neles coragem e perdão. Como Pedro, somos todos filhos de Deus, filhos da promessa da ressurreição. Assim também, na medida em que cada um de nós tomar a cruz, demonstrando o amor altruísta e o sacrifício que isso acarreta, alcançaremos o ponto em que não haverá nada do “velho eu” que possa ser deixado entre nós e Deus. Desconheceremos a divisão da vida; seremos erguidos; assim como a cruz, também a coroa.

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