Como dizer a um poderoso rei que ele estava errado?
Um rei que havia alcançado inúmeras vitórias na guerra e que era reverenciado e obedecido tanto por generais como por todo o povo do reino? Não é uma tarefa fácil, mas o profeta Natã conseguiu cumpri-la. Conforme relata o segundo livro de Samuel, a história bíblica mostra que a única maneira pela qual podemos, de forma eficaz, repreender o pecado dos outros, é pela confiança no poder de comunicação da Mente divina.
Na história, o rei Davi se encantou com Bate-Seba, a esposa de um de seus soldados. Ele mandou chamá-la e, mais tarde, quando ela concebeu um filho seu, Davi conspirou para que Urias, marido dela, fosse morto: ordenou que fosse colocado na linha de frente em uma batalha (ver 2 Samuel 11:15). "Porém isto que Davi fizera foi mal aos olhos do Senhor" (2 Samuel 11:27). Para sua própria redenção, era imperativo que Davi fosse despertado de seu sonho mesmérico de luxúria e voluntariosidade. Para isso, de acordo com a história: "O Senhor enviou Natã a Davi" (2 Samuel 12:1). Contudo, essa era uma missão perigosa para o profeta. Davi poderia entrincheirar-se em justificação própria e ficar furioso com Natā por lhe apresentar a mensagem de Deus sobre seu pecado e necessária remissão. O rei podia até mesmo mandar matá-lo por falar dessa maneira com ele.
Contudo, pelo fato de o Senhor tê-lo enviado, Natā estava receptivo à orientação da Mente de como levar a cabo sua missão. Ele não começou mencionando o pecado de Davi. Simplesmente contou uma história sobre certo homem rico que tinha muitos rebanhos, mas que, mesmo assim, roubou de um pobre sua única cordeirinha. A reaçāo do rei Davi à história foi de extrema indignação: "...o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natā: Tão certo como vive o Senhor, o homem que fez isso dever ser morto. ...Então, disse Natā a Davi: Tu és o homem" (2 Samuel 12:5, 7). Naquele momento, o próprio Davi havia reconhecido e condenado o pecado. Natā havia cumprido sua missão de maneira impessoal, porém poderosa.
Algumas vezes, nós também somos chamados a despertar alguém de um sonho mesmérico, talvez um familiar, ou um amigo, até mesmo um chefe ou alguém investido de autoridade. Acaso procuramos usar nossos próprios poderes de persuasão, nosso próprio raciocínio e senso do que é certo ou errado? Então, é muito provável que os resultados não sejam bons ou que sejamos tentados a achar que essa é uma missão impossível.
Algumas vezes, nós também somos chamados a despertar alguém de um sonho mesmérico, talvez um familiar, ou um amigo, até mesmo um chefe ou alguém investido de autoridade.
Mary Baker Eddy escreveu: "É preciso ter o espírito de nosso bendito Mestre para falar a um homem acerca de seus defeitos e arriscar-se, assim, a incorrer no desagrado humano por querer agir bem e beneficiar a espécie humana" (Ciência e Saúde, p. 571). É o "espírito de nosso bendito Mestre", a consciência do Cristo, que dá à Mente a precedência sobre o raciocínio, sobre as maneiras e os meios humanos. Movidos por esse espírito, primeiro escutamos a Mente e depois nos certificamos de que nosso pensamento esteja livre de conveniência pessoal, opinião própria, julgamento e condenação. Devemos estar seguros de que, Natã, "o Senhor [nos] enviou". Então, o pensamento estará receptivo à inspiração divina quanto ao que dizer e como dizê-lo. A inspiração tende a ser diferente em cada caso, porque cada uma das idéias de Deus é expressada de forma individual.
Uma parte importante desse preparo é a total convicção de que todos têm igual acesso à inteligência da Mente, todos são perfeitamente capazes de discernir o bem e estão dispostos a adotá-lo. Apenas imaginem se Natā tivesse ido até Davi acreditando que este estava completamente separado da sabedoria da Mente! Com toda certeza, ele nunca teria tocado o coração do rei.
Quando a comunicação terna e eficaz parecer ser uma missão impossível, deixemos que o exemplo de Natā nos inspire. Nossa missão não é a de iluminar os outros, mas de permitir que a luz da Mente divina indique o caminho.
