Suponha duas pessoas, chamadas Jorge e Laura, que estejam caminhando pela rua. Laura vê um cartaz em uma vitrine, que é um convite para entrar e ser hipnotizada. Ela está sempre pronta para o que der e vier. Então, quando ela entra naquele local, Jorge a segue. Após uma breve conversa, o hipnotizador coloca Laura em um transe hipnótico. Durante essa experiência, ele planta uma sugestão pós-hipnótica na mente dela, ou seja, quando ela ouvir a palavra azul, sentirá o impulso de reagir negativamente. Em seguida, o hipnotizador a desperta da hipnose.
Mais tarde, à medida que Laura e Jorge continuam o passeio, ele faz um comentário ao acaso sobre o ar um pouco poluído e o brilhante céu azul. Laura reage com um comentário grosseiro, talvez até com um insulto contundente. Como Jorge reage? Provavelmente, com um sorriso. Pois é, ela está apenas proferindo palavras que não são dela. Ela nem mesmo compreende o impulso que provocou essas palavras.
Contudo, vamos supor que a reação de Laura à palavra "azul" fosse ainda mais violenta. Quero dizer, e se fosse uma forte bofetada no rosto de Jorge? Então, ele talvez não achasse tão fácil sorrir, pois seria um pouco mais difícil considerar tal atitude como impessoal.
O que talvez Laura realmente tenha ajudado a ilustrar é que a mente humana, sob muitos aspectos, pode ser bem vulnerável. Sua experiência lança alguma luz sobre um tipo de suscetibilidade mental, até mesmo uma certa fragilidade. Resumindo, a mente humana pode ser usada e, às vezes, de forma equivocada e abusiva.
Algumas vezes, a maioria de nós faz coisas que não nos são características, ou seja, surge um pensamento perturbador e agimos movidos por ele. Portanto, de onde vêm os pensamentos? Algumas pessoas dizem que são produzidos por forças eletroquímicas no cérebro. Outras sugerem que existem vastas complexidades que definem a origem dos pensamentos, inclusive a hereditariedade e o meio-ambiente.
A Bíblia oferece esta afirmação: "Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais" (Jeremias 29:11). E se isso for verdadeiro? Ou seja, e se Deus for a consciência infinita e, portanto, todos os pensamentos autênticos forem invariavelmente puros e semelhantes a Ele? E se tudo o mais for artificial, e não fizer parte da realidade de Deus? Suponhamos que a tendência natural da consciência seja expressar pensamentos divinos. Então, o que dizer daqueles outros pensamentos? A Bíblia tenta, até certo ponto, resolver essa questão, descrevendo-os como a "mente carnal", a qual é "inimizade contra Deus" (Romanos 8:7), e que é um suposto antagonismo contra o bem infinito, a realidade do Espírito.
Portanto, talvez nossa mentalidade verdadeira e natural, derivada de Deus, seja abençoada com o que é bom. Então, aparece essa assim chamada mentalidade carnal, que sugere suscetibilidade a uma anormalidade. De certa forma, essa “mente mortal” talvez possa ser descrita como uma mentalidade capaz de ser hipnotizada, absorvida e influenciada por pensamentos que são dessemelhantes de Deus. Esses pensamentos talvez possam ser um pouco rudes, um tanto ressentidos ou mesmo agressivamente maldosos. Tal como a experiência de Laura, esses pensamentos são "estranhos". São de origem carnal e material, ao invés de espiritualmente naturais. Outras vezes, talvez possamos estar no lugar do Jorge e receber uma bofetada como resultado da mentalidade hipnotizada de outra pessoa.
Tudo isso pode soar um pouco improvável para uma mentalidade material. Contudo, e se todos os pensamentos dessemelhantes de Deus realmente carecessem de substância ou validade reais, enquanto todos os pensamentos semelhantes a Deus constituíssem verdadeiramente a realidade? Na verdade, nós, mortais, vivemos a vida um pouco dessa maneira. Os pensamentos dessemelhantes de Deus e a série de conseqüências provenientes de tais pensamentos, compõem uma experiência hipnótica. Pensamentos de temor, nocivos, confusos, enraivecidos e seus efeitos formam um mundo mental construído na ilusão, ao invés de na realidade.
Os pensamentos dessemelhantes de Deus e a série de conseqüências provenientes de tais pensamentos, compõem uma experiência hipnótica.
Creio que é isso o que a Bíblia ensina e nos ajuda a compreender. Ela também nos auxilia a perceber a realidade dos pensamentos de Deus. O Apóstolo Paulo rejeitou a sugestão de autenticidade da mente carnal e nos assegurou que: "Nós, porém, temos a mente de Cristo" (1 Cor. 2:16). Entretanto, uma mentalidade hipnotizada vê a si mesma como capaz de pensar e fazer uma porção de coisas contrárias ao Cristo, ou ser vitimada por muitas coisas opostas a Deus. Esses pensamentos dessemelhantes de Deus são impessoais. Eles não são realmente nossos, nem válidos a respeito de nenhum dos filhos de Deus. Mary Baker Eddy escreveu: "Para romper esse fascínio terreno, os mortais precisam adquirir a verdadeira idéia e o Princípio divino de tudo o que realmente existe e harmoniosamente governa o universo" (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 39).
Cristo Jesus usou uma linguagem bastante forte para identificar esse tipo de mentalidade enfeitiçada. Ele a descreveu como um "mentiroso" e continuou dizendo: "...porque nele não há verdade" (João 8:44). O diabo, ou Satanás, mencionado na Bíblia, realmente nada mais é do que a mente carnal. É um estado de pensamento hipnotizado que pretende se opor a Deus e a toda Sua infinita e sempre-presente bondade e perfeição.
Repetidas vezes, Jesus, com o poder do Cristo, rompeu o fascínio ou o feitiço hipnótico da doença e do pecado e, até mesmo, da morte e da mortalidade. Ele provou que essa suposta mentalidade não tem legitimidade. É o que descreveríamos, no linguajar de hoje, como hipnotismo ou magnetismo animal. É uma falsa visão da realidade, ou seja, matéria vulnerável, ao invés de Espírito perfeito.
Imaginemos o significado desta verdade espiritual: "A consciência real está permanente e inalteradamente em paz, é perfeita e inocente". Qualquer coisa que produza ruptura com a continuidade dessa presença espiritual é a crença de que podemos ser hipnotizados. É a ilusão de que nossa consciência possa ter a sensação de mal-estar, medo, raiva, pecado, ignorância, carência. Essas são as agressões hipnóticas da mente carnal, o "fascínio terreno" sugerindo que podemos ter pensamentos opostos a Deus e à nossa perfeição como Sua semelhança.
A vida de Jesus mostrou o verdadeiro caminho para defender nossa consciência e também o que significa ser inteiramente livre de qualquer pensamento hipnótico. Além disso, revelou como nos libertarmos, quando vítimas de um desses pensamentos. A vida de Jesus foi o exemplo cabal do caráter do Cristo
"A consciência real está permanente e inalteradamente em paz, é perfeita e inocente".
Podemos pensar no Cristo como o agente que exerce a força impulsionadora de Deus, que revela a Verdade à nossa consciência, trazendo à luz tudo o que é real e permanente. A Sra. Eddy escreveu: "Cristo é a idéia verdadeira que proclama o bem, a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana" (Ciência e Saúde, p. 332). Ela não disse: "a qual fala à consciência daqueles que discernem a voz do Cristo e rotulam a si mesmos como cristãos". O Cristo fala à consciência humana, sem exceções. Ele talvez não seja reconhecido. Talvez seja ignorado, encontre resistência e, até mesmo, negado. Contudo, o Cristo fala a todas as consciências e, em última análise, essa Verdade clara, nítida e pura prevalecerá sobre todo pensamento hipnótico, e ninguém está excluído. Sim, cada indivíduo, homem ou mulher, reconhecerá sua natureza semelhante à do Cristo.
O mundo resiste, de várias formas, a uma consciência clara, fundamentada no Cristo. Uma delas talvez seja uma pessoa expressando uma atitude de crítica com relação a outra. Essa atitude talvez dê origem a um pensamento ou ato violento. Talvez sejam várias pessoas manifestando tais pensamentos. Às vezes, uma sociedade inteira talvez possa expressar ódio a outro grupo, tribo ou comunidade. Esses são estados hipnotizados de pensamento. A pessoa, ou as pessoas, vítimas do ódio, também podem ficar hipnotizadas, reagindo aos pensamentos de ódio.
O ódio certamente não era uma característica que poderia ser atribuída a Jesus, e ele não reagiu ao ódio (ou a qualquer outro tipo de mentalidade hipnotizada) daqueles que sentiam tal antagonismo em relação a ele. Seu exemplo de amor e perdão, outorgados por Deus, está claramente revelado em seu Sermão do Monte (ver Mateus capítulos 5 a 7) e plenamente vivenciado nos relatos dos evangelhos. Esse exemplo nos mostra como a consciência fica preservada contra o mal e expressa o bem.
Em realidade, o Cristo tem uma enorme influência na consciência humana. A despeito do cenário que freqüentemente nos é apresentado, a mentalidade crística está sendo amplamente expressa no mundo, por meio de: afeição espiritual, honestidade, bondade, inocência, regozijo, vitalidade, beleza, paz. Uma visão verdadeiramente equilibrada a respeito da humanidade acentuaria a normalidade do amor de uma mãe por seu filho, a honestidade de um funcionário ao tomar uma decisão no trabalho, a humildade de um jovem ao declinar da atenção por um ato heróico. Se mais dessas imagens características nos fossem apresentadas diariamente, as pessoas teriam uma visão bem menos hipnotizada a respeito do mundo.
Existe uma maneira de vislumbrarmos uma visão mais plena da realidade da Verdade. O Cristo a está manifestando a toda consciência. Podemos orar para nós mesmos, bem como para o direito de todos verem e conhecerem o verdadeiro caráter cristão.
Existe uma maneira de vislumbrarmos uma visão mais plena da realidade da Verdade. O Cristo a está manifestando a toda consciência. Podemos orar para nós mesmos, bem como para o direito de todos verem e conhecerem o verdadeiro caráter cristão. Podemos orar para reconhecer o que o Cristo está revelando a todos e como isso está rompendo o feitiço terreno. O Cristo tem uma influência transformadora que nos capacita a viver a vida de acordo com essa revelação da Verdade.
Quando Laura despertou de seu estado hipnótico, o hipnotizador simplesmente estalou os dedos. O que desperta cada um de nós de uma visão mundana para uma consciência da realidade de Deus? Poderíamos dizer que é a ação salvadora do Cristo vindo à luz em cada consciência, despertando-nos instantaneamente do sono.
A Sra. Eddy viu o fim gradual da mortalidade ilusória e escreveu a respeito do pensamento despertado: "Esse despertar é a vinda eterna do Cristo ..." (Ciência e Saúde, p. 230). O Cristo está vindo à nossa consciência. É hora de despertarmos!
