O romance Things Fall Apart (Coisas que se desmoronam), do autor nigeriano Chinua Achebe, publicado em 1958, é considerado uma das obras mais importantes da literatura mundial moderna e um clássico africano. No nono capítulo do romance, Achebe analisa o que a tribo Igbo da Nigéria meridional chama uma criança ogbanje, a qual, de acordo com as crenças tradicionais, morre repetidas vezes e retorna ao ventre de sua mãe para renascer novamente. De acordo com a tradição, os Igbos acreditam que é impossível criar uma criança ogbanje, sem que ela morra. Isso se deve ao fato de se acreditar que a criança tenha um vínculo especial com o mundo dos espíritos e essa conexão é mantida por intermédio de um feitiço chamado iyi-uwa, o qual a criança tem escondido em algum lugar. De acordo com a crença, somente quando o iyi-uwa é descoberto e destruído por um poderoso benzedeiro, que consegue distrair a criança, é que ela consegue viver. Infelizmente, a maioria das crianças ogbanje morre jovem demais para ser interrogada. Nesse episódio especial em sua história, Achebe traça um retrato dramático da batalha mental, por causa do iyi-uwa, entre o benzedeiro e uma criança que tenha conseguido, de alguma maneira, viver até os seis anos de idade. Por toda a África, esses tipos de crenças e práticas continuam a prevalecer na mente dos aldeãos e, até mesmo, nas cidades modernas. Após uma recente eleição geral em meu país, o Quênia, um bem-sucedido candidato ao parlamento contratou uma benzedeira, famosa por seus expressivos poderes, para colocar uma série de acessórios para proteçāo, em sua casa de campo. Entretanto, a promessa de proteçāo por meio da feitiçaria foi ineficaz. A reportagem da imprensa local informou que o candidato e a mulher estavam tentando atravessar um rio que havia transbordado e destruído parcialmente uma ponte, quando o carro deles caiu no rio. O candidato morreu. A mulher sobreviveu embora toda a sua carga de poderosos feitiços tenha sido levada velozmente pela água. A fé que algumas pessoas colocam em tais objetos é, de fato, uma crença ardilosa e perniciosa de que um tipo de matéria possa ficar imbuído de vida e inteligência próprias, com poderes para controlar a matéria sob outras formas ou situações, inclusive a vida de seres humanos. Ao longo do tempo, essa crença se desenvolveu na África em uma pseudociência ou arte, com nomes variados que incluem: juju, feitiçaria, kamuti, chira, vodu e ugo. Cada tribo adota um nome próprio para ela e os praticantes dessa arte vêm mantendo uma influência poderosa na vida de muitos africanos.
A crença subjacente é a mesma, ou seja, que um tipo de matéria pode influenciar outro.
Hoje em dia, muitas pessoas trocaram a crença no poder das pedras dos feiticeiros e em outros feitiços por uma crença no suposto poder de outra forma de matéria, que se parece com pedrinhas coloridas, as pílulas de remédios receitadas pelos médicos modernos. Entretanto, a crença subjacente é a mesma, a de que a existência seja essencialmente material, que existem diferentes formas de matéria se influenciando pela atraçāo magnética ou hipnótica. Contudo, será que existe alguma verdade nessas alegações?
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