Como a Sociedade Bíblica do Brasil elegeu 2008 como o "Ano da Bíblia", O Arauto publicará, durante o ano, artigos que mostram como os ensinamentos bíblicos podem ajudar, de forma prática, o dia-a-dia de todos.
Durante minha juventude, pensava que as demonstrações maravilhosas feitas pelos protagonistas de histórias bíblicas eram algo inerente à personalidade deles ou a algum dom especial que Deus lhes dera. Quando adulta, passei a estudar as Escrituras à luz dos ensinamentos da Ciência Cristã, que Mary Baker Eddy expõe em Ciência e Saúde.
Tive a grata surpresa de descobrir que a inteligência, a coragem, a firmeza, a sabedoria, a paz, o poder e o amor descritos na Bíblia não pertenciam apenas aos protagonistas das narrativas bíblicas. Aprendi que a sabedoria e a capacidade para resolver os problemas vêm de Deus e todos os Seus filhos as refletem, por serem a imagem e semelhança de Deus, a Mente infinita e universal. Essa compreensão me trouxe grande alegria e gratidão, pois entendi que as qualidades admiráveis de Deus, o bem, também pertencem a mim e que posso usá-las a todo momento.
A Bíblia relata que, em certo momento, devido a uma ordem do Faraó, muitos pais e mães no Egito se viram diante da iminência de morte de seus filhos recém-nascidos. Dentre essas pessoas, houve um casal que se ateve a uma realidade diferente daquela fatalidade que se apresentava como irremediável. A carta aos Hebreus explica assim: "Pela fé, Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei" (11:23). Para mim, esse versículo mostra que Anrāo e Joquebede, pais de Moisés, reconheceram que Deus é onipresente e o único poder ao qual se inclinariam. Eles reconheceram que o governo do universo e de todos vinha desse Deus infinito. Dessa compreensão, veio a inspiração de esconder o bebê por três meses e depois colocá-lo no rio, em um cestinho, encontrado pela princesa do Egito, que adotou o menino e o batizou de Moisés (ver Êxodo 1:1–22; 2:1–10).
No Brasil, muitas pessoas ainda trabalham contra as ameaças que levam à mortalidade infantil, especialmente em alguns estados. Há também a preocupação com a exploração sexual infanto-juvenil e com várias outras formas de violência. Diante desse quadro, vejo como a história de Moisés pode ajudar na atualidade, para que se alcance um resultado seguro e justo na preservação da vida dos bebês e na proteçāo das crianças e jovens em nosso país e no mundo.
Todas as crianças são muito especiais, pois, como Moisés, são idéias queridas e amadas do terno Pai-Māe Deus, que tem um plano perfeito para a vida de cada um de Seus filhos, em todas as épocas e lugares. As mães, os cidadãos e os governantes de hoje podem se valer da mesma fonte que Joquebede usou: compreender a Deus e confiar em Sua bondade, poder e inteligência para manter cada criança a salvo do perigo.
Em 1984, quando iniciava meu estudo da Ciência Cristã e obtinha um conceito mais justo e digno sobre Deus, como Amor universal, incorpóreo e infinito, meu filho tinha dois anos e minha filha um. Um dia, desconfiei que minha empregada maltratava o menino. Conversei com uma Praticista da Ciência Cristã sobre essa desconfiança e ela me explicou que Deus era o Pai e a Mãe de meus filhos e que, sob Seus amorosos cuidados, eles estavam sempre seguros.
Aprendi que a sabedoria e a capacidade para resolver os problemas vêm de Deus e todos os Seus filhos as refletem, por serem a imagem e semelhança de Deus, a Mente infinita e universal.
Tranqüilizei-me com a certeza de que eu também podia confiar na proteção divina. Um ou dois dias depois, ao ouvir o choro de meu filho, corri até o outro aposento e surpreendi a empregada puxando a orelha dele, mesmo comigo em casa. Naquele momento, decidi substituí-la e não tive mais problemas que ameaçassem as crianças.
Essa experiência foi um marco que contribuiu para eu alcançar a tranqüilidade para criar meus filhos com segurança.
Esta é a primeira vez que faço esse relato, pois sentia um malestar sempre que me lembrava do episódio. Porém, esta passagem de Habacuque: "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar..." (1:13) me fez entender que Deus não tem consciência do erro, do mal, da violência, e eu, como Seu reflexo, também não posso ter. Percebi que não precisava dar tanta importância a uma situação, que aos olhos de Deus, não passou de ilusão. Além disso, o menino saíra ileso. Compreendi que, assim como Moisés, meu filho é "formoso aos olhos de Deus" e jamais esteve sujeito a experiências que pudessem tê-lo traumatizado para o resto da vida.
Temos domínio sobre nosso pensamento e, ao invés de cultivar nele o mal, podemos escolher acalentar a relação ininterrupta e harmoniosa que existe entre Deus e todas as crianças, jovens e adultos.
Temos domínio sobre nosso pensamento e, ao invés de cultivar nele o mal, podemos escolher acalentar a relação ininterrupta e harmoniosa que existe entre Deus e todas as crianças, jovens e adultos.
Em outra ocasião, pude testemunhar o reencontro de uma adolescente com sua mãe, cujo companheiro havia decidido que a menina e seu irmão deveriam morar separados do casal.
Ela foi criada em uma instituição que acolhe garotas que necessitam de um lar. Ao completar 15 anos, teve de sair da instituição e procurar emprego para se manter. Ela veio trabalhar em minha casa como empregada doméstica. Contudo, seu maior desejo era ir morar com a mãe, da qual não sabia o paradeiro e havia anos não ouvira notícias. Esse anseio intenso causou dificuldades de adaptação no trabalho.
Conversei com uma praticista sobre a situação e ela afirmou que cada pessoa tem um lugar em que é incondicionalmente aceita. Fiquei grata por saber que em realidade a menina já ocupava esse lugar. Orei com o seguinte Salmo: "Deus faz que o solitário more em família..." (68:6). Essa oração me ajudou a romper com o falso sentido de responsabilidade que eu nutria por aquela jovem. Decidi deixá-la livre para procurar outro trabalho.
Certo dia, após apenas 15 dias do período de aviso prévio, ao retornar a casa, encontrei-a muito alegre e saltitante, pois havia recebido a visita de sua mãe, que tinha se separado do companheiro e, após uma longa busca, encontrara a filha e o filho, que morava em outra cidade. A mãe queria que os três voltassem a morar juntos.
Com essa experiência, pude comprovar que é mais garantido compreender e confiar em Deus, do que pensar que se pode fazer o papel dEle assumindo a responsabilidade pela segurança e proteçāo de uma jovem que se sentia abandonada pela mãe.
Hoje, reconheço que a salvação de Moisés da morte e sua vida repleta de experiências que mostram a onipotência de Deus, bem como a proteçāo de meus filhos e o lar que a jovem encontrou, demonstram a lei universal do Amor divino, que alcança todas as crianças e jovens com carinho, suprimento, inteligência, alegria e segurança.
