A espiritualidade não é apenas uma ideia abstrata. Ela é uma realidade dinâmica, libertadora e sanadora.
O site spirituality.com apresentou uma entrevista com dois praticistas e professores de Ciência Cristã: Ginny Luedeman, de Salem, Oregon, e Mark Swinney, de Albuquerque, Novo México, ambos dos Estados Unidos. Eles responderam a perguntas que tratavam de como alcançar a libertação do vício da pornografia e do sexo pela Internet. Alguns trechos desse bate-papo foram editados para publicação nO Arauto. Para ler ou ouvir essa conversa na íntegra, em inglês, acesse o site spirituality.com/chats/addiction.
Fantasias sexuais ou sites pornográficos na Internet apresentam-se com atrativos ocasionais e separados da minha vida real e, como tais, não parecem constituir um problema. Entretanto, sei que, no fundo, gostaria de parar. Como posso romper esse ciclo vicioso?
Ginny: Minha avó, que era muito bondosa, ensinou-me a tricotar quando eu ainda era garotinha. De vez em quando, eu perdia um ponto enquanto estava tricotando. O que aprendi foi que se eu não recuperasse o ponto perdido, todo o trabalho ficaria emaranhado. Cada ponto é vital no tecido e considero todos os nossos momentos como pontos no tecido de nossa vida. Imaginar que um momento não seja importante é, para mim, como aprender a tricotar. Cada instante é um ponto e cada um deles é vital, por isso, acalento e valorizo cada um porque eles realmente compõem o grande cenário.
Mark: Em um determinado momento, Mary Baker Eddy escreveu sobre “volver nosso olhar para a direção certa, e então seguir esse caminho” (ver Ciência e Saúde, p. 248). Ela disse: “Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em vidas sublimes e nobres. Que o altruísmo, a bondade, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor – o reino dos céus – reinem em nós, e o pecado, a doença e a morte diminuirão até que finalmente desapareçam” (Ibidem, p. 248). Ora, essas qualidades sobre as quais ela está falando, “o altruísmo, a bondade,... a santidade, o amor”, são os pontos bons. Essa é a maneira certa de tricotar.
Recentemente descobri que meu filho, que cursa o ensino médio, estava acessando sites pornográficos. Ponderei com ele que precisamos ver a todos como uma ideia espiritual, não apenas como um pedaço de matéria. Como posso estar segura de que ele não repetirá esse ato?
Mark: Naturalmente, você tem todo o direito de orar para seu filho. Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreveu: “Há uma só atração real, a do Espírito. O apontar da agulha magnética para o pólo simboliza esse poder que abrange tudo, ou seja, a atração de Deus, a Mente divina” (p. 102). Ela se refere a Deus como a Mente divina e como a única atração. Se eu ceder meu pensamento à verdade de Deus, à verdade da Mente divina, isso abrange a todos em minha experiência. Isso vai muito além do que apenas um bom conselho ou um bom aviso de alerta. O poder de Deus está em ação, trazendo uma solução àquela fome por matéria, e elevando-a até a atração real, isto é a do Espírito.
Há um ciclo recorrente dessas atividades nas famílias, quando a pessoa que sofreu abuso parece repetir isso tudo de novo?
Ginny: Acho realmente que, na cura, é essencial que eu ore para saber que o DNA (que em inglês pode ser parafraseado como “Does Not Apply” [Não se aplica]), realmente não se aplica nesse caso. Levando-se em conta que esse é provavelmente um dos vilões que as pessoas curadas desse vício ou hábito enfrentam quando dizem que seu pai ou sua mãe ou seu avô, ou alguém em sua família, também lutou contra isso. Então, elas repentinamente se dão conta de que se tratava de um comportamento padrão. Consequentemente, descobri que posso romper esse padrão, apenas insistindo mentalmente que eu não tenho o DNA da mortalidade, que existe um único Pai, uma única Fonte para mim e que essa fonte é o Amor infinito, a Mente, Deus, que proporciona meus padrões de pensamento. Assim podemos nos livrar dessa atividade repetitiva do DNA, e declarar mentalmente com firmeza (e faço isso quase todas as manhãs) o seguinte: “Eu não sou um produto do DNA. Sou o reflexo das qualidades de Deus”.
Como pode a Ciência Cristã ajudar uma pessoa a obter uma compreensão mais profunda a respeito de seu valor espiritual e de sua autoestima como um filho de Deus?
Ginny: É realmente importante não somente saber de forma generalizada que eu sou a ideia de Deus, mas perguntar: “O que isso significa? Eddy escreveu: “A metafísica reduz as coisas a pensamentos e substitui os objetos dos sentidos pelas ideias da Alma” (Ciência e Saúde, p. 269). Podemos fazer isso quando se trata de nós mesmos como indivíduos, ou seja, ver que somos a expressão da inteligência quando escrevemos uma história, ou a expressão da afeição quando nos damos as mãos. Somos verdadeiramente a essência, a expressão da natureza de Deus, em cada atividade que provém do nosso senso de amor, que provém de Deus e que é para Deus. Portanto, somos mais do que apenas ideias espirituais abstratas. Estamos exatamente aqui, exatamente onde o material pretende estar ou parece estar, aqui mesmo nós temos nossa identidade e ela é sadia, boa e espiritual.
Mark: Esse vazio na vida das pessoas faz com que elas pensem que não tem o valor que as outras pessoas têm. Essa questão da baixa autoestima, muito frequentemente, é curada rapidamente por meio do reconhecimento da nossa união com Deus. Isso não quer dizer que o homem e Deus são a mesma coisa, mas como causa e efeito, eles estão realmente em união. Se você se sentir de alguma maneira separado de Deus, você simplesmente não se sentirá bom o bastante, porque irá sentir que está sozinho e por conta própria. No entanto, tão logo reconheça a unidade que você tem com Deus, tudo ficará bem. Muitas vezes, costumo ir de quarto em quarto em casa, reconhecendo a presença de Deus e, em seguida, sinto minha união com Deus de maneira muito suave, o que é muito fortalecedor e importante.
Você faz isso soar tão simples. Mas na verdade não parece assim tão fácil sacudir essas imagens, sentir-se satisfeito e completo com a leitura e o estudo.
Mark: Realmente não é. Qualquer tentativa para nos afastar da materialidade dá trabalho. A sensação física, a materialidade; nós somos educados a ficar extasiados com elas. Essa educação equivocada dá trabalho para ser rompida. Ciência e Saúde diz: “O esforço habitual para sermos sempre bons é oração incessante. Seus motivos se tornam manifestos nas bênçãos que trazem — bênçãos que, ainda quando não sejam reconhecidas com palavras audíveis, atestam sermos dignos de participar do Amor” (p. 4). Portanto, é um esforço contínuo, de momento a momento, ponto a ponto, como o que é feito ao tricotar. A maioria das pessoas ao seu redor está simplesmente seguindo essa falsa educação e libertar-se dela exige muito trabalho. Mas seu amor a Deus lhe dará o poder para fazê-lo.
Antes de agir contra algo que você acha que está lhe controlando, você pode realmente reservar um momento para pensar sobre as coisas em sua vida que você ama e traduzi-las em qualidades.
Ginny: Essa passagem de Ciência e Saúde me ajudou quando estava envolvida em alguns problemas nos quais não deveria estar: “Os afetos do sensualista são tão imaginários, caprichosos e irreais quanto seus prazeres” (p. 241). O que me chamou a atenção foi que eu provavelmente estava envolvida em uma coisa que era simplesmente imaginária. Imaginação não é algo. Portanto, se você está envolvido em coisas imaginárias, que são caprichosas e falsas, em algum momento você tem de cair na real. Acho que o importante é: “Você deseja aquilo que é real?” Caso positivo, talvez você tenha de se empenhar por ele, mas pelo menos ele é real e será duradouro.
O que posso fazer no momento para desafiar a tentação e afastá-la de vez?
Ginny: Como o Mark caminhou pela casa e pensou sobre aquilo pelo qual ele estava grato em cada quarto, escrevi qualidades espirituais que detectei e dei graças por elas. Antes de agir contra algo que você acha que está lhe controlando, você pode realmente reservar um momento para pensar sobre as coisas em sua vida que você ama e traduzi-las em qualidades.
Por exemplo, sou grata por esse carro porque ele expressa mobilidade e liberdade. Muito obrigada. Sou grata pela minha netinha, pois ela expressa inocência e pureza. Muito obrigada. Mude o pensamento para uma direção mais espiritual. Se você puder espiritualizar seu pensamento, mesmo que com poucas coisas, romperá o mesmerismo de ficar atraída a algo que não deseja. Você estará assim tomando posse do seu pensamento.
Vocês poderiam discorrer sobre o papel da sexualidade dentro do casamento? Estamos falando contra o sexo? O objetivo seria não ter sexo?
Mark: É nossa espiritualidade que nos define. O casamento provê um meio muito gratificante de descobrir como nossa espiritualidade inclui altruísmo, graça e amor a Deus. Embora possamos ainda ter muito a descobrir sobre nossa natureza dada por Deus, sentir-se menos espiritual por causa do sexo, ou aliás, por comer e respirar, não seria positivo de modo algum. Ciência e Saúde declara: “O propósito e o motivo de viver retamente podem ser teus agora. Conquistado esse ponto, terás começado como devias. Terás começado pela tabuada da Ciência Cristã, e nada — a não ser a má intenção — poderá impedir teu progresso. Se trabalhares e orares com motivos sinceros, teu Pai abrir-te-á o caminho” (p. 326).
Mude o pensamento para uma direção mais espiritual. Se você puder espiritualizar seu pensamento, mesmo que com poucas coisas, romperá o mesmerismo de ficar atraída a algo que não deseja. Você estará assim tomando posse do seu pensamento.
Portanto, desejo reconhecerme à imagem de Deus. Desejo ver isso mais do que qualquer outra coisa, com toda sinceridade. Esse é meu propósito, esse é meu motivo. Sei que, à medida que fizer isso, passo-a-passo, meu Pai abrir-me-á o caminho para a demonstração, dia-a-dia, passo-a-passo. Manter essa atitude exige concentração de pensamento, um amor puro a Deus e, ao agir dessa forma, dia-a-dia, realmente faz parecer fácil, mas na verdade é uma acumulação de bem, exige trabalho duro, para que o “propósito e o motivo de viver retamente” possam ser alcançados agora. Essa é a parte importante.
Ginny: Eddy escreveu um maravilhoso capítulo sobre “O Matrimônio.” Ela não escreveu um capítulo em Ciência e Saúde sobre o celibato; ela só escreveu sobre o matrimônio, em um capítulo que, para mim, contém tanta suavidade, uma vez que o casamento pode englobar uma experiência sexual amorosa, maravilhosa e plena para alguns casais. Outros casais se casam e têm sexo somente para ter filhos e outros se casam apenas pelo companheirismo e não têm experiências sexuais.
Para mim, a suavidade contida nesse capítulo e algumas das coisas que estão nele são: “‘A que se casou... se preocupa... de como agradar ao marido’, diz a Bíblia; e essa é a coisa mais agradável de fazer” (p. 58). Portanto, parece haver uma nuance de agrado, carinho, cultivo e cuidado pelas necessidades humanas um do outro. Nesse maravilhoso processo de revelação da natureza de Deus dentro do nosso próprio pensamento, à medida que oramos e crescemos espiritualmente, como disse o Mark, mas com o objetivo elevado em mente, vocês se amarão mutuamente de forma apropriada e de maneira a satisfazer às necessidades um do outro.