Você está acordada até tarde, trabalhando na cozinha. De repente, as luzes se apagam e sua casa fica escura como breu. Em uma emergência como essa, você vai poder começar a andar, tateando no escuro para encontrar o caminho que leva até onde as lanternas estão guardadas? Provavelmente sim, porque você conhece os contornos dos balcões e dos armários, enquanto caminha com cuidado até o local onde pode encontrar o que necessita.
Não seria esse um dos papéis da gratidão ― o tipo de gratidão que Cristo Jesus ensinou? Quando uma doença física, ou até mesmo a morte, lançava as pessoas na escuridão, Jesus reconhecia o poder de cura, que vinha de Deus, antes que a bênção fosse vista por todos (ver João 11:41–44, por exemplo). Ele conhecia os contornos da realidade espiritual exatamente onde a escuridão parecia estar. Por isso, era natural que ele desse graças por aquilo que já estava ali, devido à eterna presença de Deus, o bem; e esse entendimento espiritual trazia cura.
Há alguns anos, eu parecia estar presa na escuridão. Minhas costas doíam o tempo todo; não importava se minha posição fosse sentada, em pé ou deitada. Certa manhã, deitada no chão, tentando encontrar conforto, coloquei a mão no meio das costas e senti como se algo estivesse faltando ou fora de alinhamento. Agora, eu não só estava na escuridão da dor, mas o medo também me dominava.
Durante meses, eu estivera orando pela cura com a ajuda de uma Praticista da Ciência Cristã, procurando compreender melhor minha proximidade com Deus, o grande Eu Sou de que fala a Bíblia. Eu estivera orando para saber que eu era a própria expressão de Deus, completa e saudável. Havia, porém, poucos sinais visíveis de melhora.
No entanto, o curioso foi que, naquela manhã, quando liguei para a Praticista da Ciência Cristã para contar meu desconforto e meus temores, como também minhas orações, ela ouviu tudo calmamente e em seguida disse, como já havia feito em outras ocasiões: “Como estão sua gratidão e alegria?” Eu não disse o que eu estava pensando: “Minha gratidão e alegria estão tão baixas que elas estão praticamente no porão”. Em vez disso, minha resposta a essa sanadora cristã, que eu sabia que me amava muito, foi simplesmente que elas estavam “OK”, e logo nossa conversa se encerrou.
Francamente, naquele momento eu não tinha a menor ideia de como ser mais grata, muito menos mais alegre. Então, a frase “o dom da gratidão” me veio ao pensamento. Aqui está ela, na primeira estrofe do Hino Nº 146 do Hinário da Ciência Cristã:
Em Deus encontro magno dom,
Isento de acridão,
Brilhando calmo, sem temor:
O dom da gratidão.
(Violet Ker Seymer, 146, trad. © CSBD)
Era isso! A gratidão é um dom eterno. Não admira que eu estivesse com tanta dificuldade, tentando ser grata, tentando “fabricar” gratidão e fazendo o mesmo com a alegria. Claro! Eu podia ser grata mesmo em meio ao medo e à dor, porque a alegria e a gratidão já estão infundidas em meu existir como filha de Deus e eram uma expressão espiritual natural dEle. O hino continua a detalhar o que a gratidão faz:
Tal dom, a terra vem banhar
Em luz de retidão.
Na luz dos céus vai habitar
O grato coração.
Esse dom da gratidão traz à luz a capacidade natural do homem de perceber a perfeição espiritual já presente, deixando assim de lado um falso senso de ego com suas teorias e opiniões. A gratidão nos ajuda a realmente amar ao Deus perfeito e Sua criação perfeita, que já está aqui. Esta frase é um ponto vital na oração: “... o reconhecimento da perfeição do infinito Invisível confere um poder tal como nenhuma outra coisa pode outorgar” (Mary Baker Eddy, A Unidade do Bem, p. 7). Isso é algo que a Sra. Eddy aprendeu, praticou e ensinou. No meu caso, reconhecer e aplicar o dom da gratidão foi o começo de uma cura significativa e completa. Na realidade, ser grato é um “reconhecimento da perfeição do infinito Invisível”.
O amor de Deus rompeu com firmeza o senso mesmérico de perda e de vazio.
Mal sabia eu que essas lições profundas sobre gratidão e alegria viriam em meu socorro anos mais tarde. Mas primeiro, antes de chegarmos lá, há uma frase que consta de uma bela carta escrita em 1908 a Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência do Cristianismo, enviada pelos indicadores dA Igreja Mãe: “Somos levados a reconhecer nossa dívida de gratidão à Senhora por sua vida de espiritualidade, com seus anos de terno ministério, mas sabemos que a verdadeira gratidão é aquela que é comprovada em vidas melhores” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 352).
Essa carta se refere a um outro aspecto da verdadeira gratidão, que é muito mais do que meras palavras: a gratidão se manifesta em obras de cura e em demonstrar, em “vidas melhores”, tudo o que conhecemos de Deus. Para nós, como cidadãos do mundo, parece haver um senso de perigo e de escuridão em todos os lugares. Às vezes, pode parecer fácil ficarmos presos nessa escuridão, tentando quantificá-la ou qualificá-la, emitindo opiniões sobre ela ou até mesmo nos desesperando com ela; no entanto, essa atitude, em última análise, pode nos levar a abandonar ao mesmo tempo tanto a gratidão como a alegria ― nossos preciosos dons.
É preciso coragem para procurar soluções quando as luzes se apagam, mas a gratidão, impelida pelo Espírito, nos mostra os contornos do bem, do Amor divino, os quais já estão presentes. Conhecemos o poder da gratidão pelo que ela revela a respeito da criação de Deus exatamente aqui e agora, mas também conhecemos e instintivamente sentimos a ingratidão e a insensatez de nos acomodarmos na escuridão derrotista.
Quanto ao meu resgate, ocorrido há alguns anos, posso dizer que foi o resgate do pesar. Uma amiga muito querida, com quem eu dividia uma casa, e que havia se tornado como uma irmã para mim, faleceu. Eu não fazia ideia do quanto isso seria difícil. Às vezes, havia momentos de tristeza que me acometiam de forma sorrateira e eu começava a chorar descontroladamente. Com um senso claro da eternidade da Vida, ou seja, de Deus, que nos cria e sustenta, eu não tinha dúvidas de que a vida da minha amiga continuava, mas eu sentia muita falta dela. Ao ajudar a cuidar de seu inventário, apareceram inúmeros detalhes sobre os quais eu nada sabia, mas todos eles precisavam ser tratados corretamente.
Foi então que a gratidão e a alegria se apoderaram de mim. Toda vez que a escuridão do pesar ameaçava me engolfar, eu me via dizendo ― e às vezes até em voz alta ― qualquer coisa pela qual eu estivesse grata naquele exato momento. Algumas vezes, era simplesmente assim: “Sou tão grata, Deus, porque Você está aqui como o Amor sempre presente. Isso é algo que eu sei e que posso sentir”. Outras vezes, a gratidão que me vinha ao pensamento era: “Eu serei sempre grata por minha querida amiga, e as maravilhosas qualidades que ela expressou estão sempre presentes e nunca podem estar ausentes em minha vida”. Quaisquer que fossem os truques que a escuridão parecia apresentar, a gratidão, impulsionada por Deus, vinha junto para trazer a luz. Exatamente quando algo era necessário, ou seja, ajuda, companheirismo, consolo ou um senso mais profundo da benignidade de Deus, tudo isso vinha imediatamente, junto com a gratidão. Os dons da gratidão e da alegria abriram meus olhos para a enorme bondade que estava exatamente ao meu redor.
Minha cura e libertação completas não vieram da noite para o dia, mas o amor de Deus rompeu com firmeza o senso mesmérico de perda e de vazio. Hoje sou muito grata por ter ficado com uma convicção maior do que nunca de que a fonte de todo o bem para cada um dos filhos de Deus é o próprio Divino, ou seja, a Mente divina, o Espírito divino, a Verdade divina, presentes exatamente onde está o homem, Sua expressão. A gratidão e a alegria ajudam a revelar esses fatos gloriosos ― os contornos do bem que nos levam à luz.
