“Sou o Jamie e vou estudar na universidade de Wales. Chegou a vez de Jamie 2.0.”
Sei que, quando acrescentam “2.0” a um produto ou serviço conhecido, trata-se de uma versão melhorada do original. Dei risada quando li aquela declaração na mídia social. Por não conhecer o Jamie pessoalmente, não faço a menor ideia do porquê de Jamie 1.0 necessitar de uma melhoria. Mas a humildade de reconhecer essa necessidade de mudar, e a boa-vontade para começar tudo de novo, me impressionaram como uma realização nobre.
Entendo que pode parecer interessante tentar reinventar-nos, por meio de mudanças automotivadas, quando as coisas não vão tão bem quanto desejaríamos. Mas percebi, com base em minha própria experiência, que existe um problema com essa premissa de que necessitamos nos reinventar: ela sugere, desde o início, que originalmente somos imperfeitos, e necessitamos passar por uma reforma geral. Por outro lado, constatei que o ponto de partida oposto é o mais poderoso agente de mudança em minha vida, que já deu muitas reviravoltas positivas. Meu ponto de partida é sempre compreender que somos muito mais do que humanamente parecemos ser. Nossa origem divina é um Criador perfeito. Firmando-me nessas verdades, tive oportunidades de emprego que eu nem sequer estava procurando, morei dez anos no exterior e adquiri novas habilidades que eu não havia obtido na faculdade.
Esses ajustes não me pareceram um reinício, mas um desdobramento espiritual do bem, ou seja, a regeneração, conforme Mary Baker Eddy descreve em Miscellaneous Writings[Escritos Diversos]1883–1896:A regeneração é o aparecimento da lei divina à compreensão humana; a espiritualização que vem do senso espiritual, em contraposição ao testemunho dos chamados sentidos materiais (p. 73).
Essa espiritualização, deixando de lado um senso material de nossa vida, em favor da compreensão do que somos, tem uma ação benéfica em todos os aspectos de nossa experiência, inclusive propiciando a cura para a nossa mente e para o nosso corpo. Mas o objetivo mais importante dessa regeneração não é somente aprimorar a experiência humana, mas sim alinhar-nos completamente com a vida que expressa toda a perfeição de Deus.
Isso não ocorre da noite para o dia! Mas cada estágio de progresso é acompanhado da liberdade, da graça e do poder, ao buscarmos mudanças por meio de uma consciência mais clara e profunda daquilo que somos à luz do que Deus cria. A Bíblia diz, descrevendo toda a criação: “Viu Deus tudo o quanto fizera, e eis que era muito bom...” (Gênesis 1:31).
Essa é a realidade espiritual de nosso existir. Por sermos filhos e filhas de Deus, cada um de nós está incluído, de modo único, nessa criação “muito boa” e inteiramente espiritual; e sendo criação de um Deus perfeito, nada há em nós que necessite ser reinventado. Mas, como nos faz lembrar a tradição anual de resoluções de Ano Novo, não falta o que aprimorar em nosso caráter e comportamento humanos.
Nenhum de nós já está totalmente desperto para compreender plenamente o nosso existir, que é criação de Deus. Mas Deus nos está revelando de maneira ininterrupta esse ponto de vista verdadeiro, por meio do Cristo, a ideia verdadeira de Deus, a qual Jesus evidenciou mais claramente ao curar os outros. Necessitamos abrir nosso coração para essa cura que nos torna cada vez mais conscientes da identidade e individualidade que pertence a cada um de nós. Foi isso o que um impetuoso ativista hebreu chamado Saulo fez. Em um dos maiores atos de reinvenção humana, ele foi transformado; e de líder dos perseguidores dos primeiros cristãos, passou a apoiar e divulgar a fé cristã, tornando-se Paulo, o Apóstolo.
Mas essa não foi uma escolha humana para melhorar-se a si mesmo. Foi uma regeneração espiritual, uma renúncia ao modo humano equivocado de ver a si mesmo e aos outros, em favor de um ponto de vista espiritual. Em uma carta a um companheiro cristão, ele descreve sua transformação, referindo-se a um tempo no passado quando “...nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres...” A carta continua, e comenta como “a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos”, conforme demonstrado por Cristo Jesus, “nos salvou mediante o lavar regenerador...” (ver Tito 3:3–5).
Essa purificação espiritual está ao alcance de todos. A renovação moral é um ponto chave, mas não é tudo. Jesus demonstrou o quanto a compreensão a respeito da verdadeira natureza de Deus é indispensável para restaurar a saúde corporal, independentemente de evidências em contrário parecerem concretas e duradouras. Por exemplo, uma mulher que, de tão retorcida e encurvada, não conseguia nem sequer olhar para cima, foi curada instantaneamente pela compreensão a respeito da perfeição eterna e espiritual, subjacente às palavras que Jesus dirigiu a ela: “Mulher, estás livre...” (Lucas 13:10–13).
Uma pequena, mas valiosa cura de uma amiga que é membro de nossa igreja, reflete esse tipo de regeneração física por meios espirituais. Décadas após se acidentar enquanto esquiava, ela ainda tinha, como consequência, o polegar esquerdo rígido e desfigurado. Mas tomou consciência de que havia admitido a crença generalizada de que uma lesão permanente na mão, especificamente no polegar, fosse o resultado inevitável de ela haver caído quando descia uma pista artificial de esqui.
Contudo, à medida que colocou mais em prática a Ciência Cristã, percebeu que essa dedução era errônea, pois compreendeu que ela mesma estava incluída na criação de Deus, na qual tudo é “muito bom”. A partir daí, sempre que olhava a mão ou a usava, ela orava, buscando compreender melhor a sua própria perfeição espiritual. Em pouco tempo desapareceu a deformidade que durara décadas, e o polegar endireitou.
O conceito humano de se “reinventar” não é, em si mesmo, algo negativo. Muitos músicos, artistas e empreendedores impulsionaram suas carreiras ao se apresentarem ao público de uma forma nova, inédita. Mas na medida em que nos reinventarmos signifique visualizar e buscar nossos próprios objetivos, centrados em nosso ego, nos desviamos da procura mais profunda pela renovação, inspirada por Deus, que nos conduz para muito além de apenas buscar melhorar a vida. Como lemos em Miscellaneous Writings: “O grau final da regeneração se eleva para repousar na existência perpétua, espiritual e individual” (p. 85).
Essa pura consciência espiritual vem à luz, passo a passo, à proporção que humildemente deixamos a renovação espiritual nos libertar de tudo o que não nos pertence, por sermos filhos de Deus, e permitimos que venha a frutificar tudo o que de fato pertence ao nosso existir espiritual.
Tony Lobl
Redator-Adjunto
