Na área externa do Centro Nacional das Artes, em Ottawa, capital do Canadá, encontra-se uma estátua em tamanho real de um homem sentado ao piano de cauda. O homem é Oscar Peterson, canadense que foi um dos maiores pianistas de jazz da história. Ele gravou muitos discos durante os seus 62 anos de carreira e, como filho de imigrantes do Caribe, quebrou muitas barreiras raciais ao viajar pelo mundo, inclusive nos estados segregacionistas do sul dos Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 1960. Embora o consumo de drogas fosse generalizado entre os seus colegas músicos, na época, ele nunca fez uso de drogas recreativas, dizendo sempre que, se o fizesse, mataria sua mãe.
Mas, voltando à estátua, como parte do monumento em homenagem ao músico, uma gravação de suas músicas toca ininterruptamente. Isso significa que se alguém passar por aquela esquina às 2h30 da madrugada, poderá ouvir o som de seu piano. Ou, em meio a uma tempestade de neve, a trinta graus negativos, o ritmo irresistível de suas músicas continua a nos deliciar.
Para mim, a estátua, além de lembrar às pessoas o legado contínuo de Peterson, também comunica uma verdade espiritual: em todos os momentos, independentemente do que parece estar acontecendo no cenário humano, a harmonia está presente. Refiro-me à harmonia espiritual de Deus, que sustenta a Sua criação espiritual e promove o progresso.
Muito além do conceito convencional a respeito de Deus como grandioso, poderoso, existindo em algum lugar, a Ciência Cristã ensina que Deus é na realidade o Princípio divino todo-poderoso, todo-harmonioso, que está em toda parte, preenchendo todo o espaço. Ao invés de vivermos em um universo material, na verdade vivemos em um universo de ideias advindas desse Princípio, e o que vemos com os nossos olhos é uma percepção limitada dessas ideias perfeitas e eternas, o que inclui cada um de nós como a manifestação luminosa da harmonia eterna de Deus. Essa realidade espiritual é a que o primeiro capítulo do Gênesis descreve em linguagem figurativa e poética. Esse é o novo céu e a nova terra de que fala o livro do Apocalipse, na visão do Apóstolo João, que também viu a “nova Jerusalém”, onde não há noite, nem dor, nem morte, nem lágrimas (ver 21:1–4, 25).
Essa realidade espiritual da harmonia contínua está eternamente nos sustentando, quer estejamos conscientes dela, neste exato momento, quer não. Precisamos, então, estar mentalmente quietos o suficiente para sentirmos essa eterna presença sustentadora e deixar que ela nos leve adiante.
A lei da harmonia nos faz seguir adiante, “alimentando-nos” com ideias que não são simplesmente genéricas ou aleatórias. Elas são específicas, perfeitamente adaptadas a nós e à nossa situação e podem vir sob a forma de orientações a respeito de como pensar ou que tipo de ação tomar, a fim de que apareça, de forma concreta, a realidade dessa harmonia. Aqui está um exemplo.
Recentemente, uma amiga estava trabalhando em um importante projeto para uma agência do governo federal canadense. O projeto, no prazo de trinta dias de trabalho, devia avaliar a eficácia de um determinado programa e entregar um relatório com os resultados. No final do projeto, minha amiga sentiu-se fortemente orientada por Deus todo-harmonioso a acrescentar um anexo ao relatório, fornecendo mais contexto para o programa objeto do projeto. O contrato que ela havia assinado não incluía esse trabalho adicional, pelo que certamente não esperava ser paga por ele. Apesar disso, ela sentiu que o Amor divino estava lhe dizendo para não renunciar à ideia de fazer a análise adicional e anexá-la ao relatório. Pouco depois de entregar o trabalho, uma alta funcionária da organização perguntou-lhe se ela havia utilizado todos os dias estipulados no contrato. Minha amiga disse-lhe que sim, e que havia passado mais cinco dias desenvolvendo o anexo.
Deixe que a lei da harmonia de Deus esteja presente em sua consciência.
Sem que minha amiga pedisse, a funcionária alterou o contrato, e o trabalho extra foi pago. Mas, além disso, quando a presidente da agência leu o anexo, as constatações nele contidas levaram-na a contratar minha amiga para fazer um trabalho adicional sobre as melhores práticas e recomendações para a administração do programa da agência. Dessa forma, o contrato foi prorrogado por mais dez dias. As recomendações finais preparadas por minha amiga foram reconhecidas como de grande utilidade para a agência, o que possibilitou à direção tomar medidas práticas para melhorar o programa, contribuindo assim para a segurança e proteção de todos os canadenses e do meio ambiente. Essa foi uma comprovação, para a minha amiga, de que, quando ouvimos a Deus, todos são abençoados.
Para demonstrar a realidade da presença da harmonia, devemos não ter medo. Isso é fácil de dizer mas, em meio aos desafios quase constantes da vida diária, como não temer? Inato àquilo que somos como filhos de Deus, existe um senso espiritual intuitivo de que tudo está realmente bem e é harmonioso, independentemente de quais sejam as aparências. É preciso a confiança como a de uma criança nesse senso espiritual, bem como a coragem moral de rejeitar a desarmonia e não temê-la, uma vez que essa desarmonia não tem nem apoio nem legitimidade em nós mesmos e em nossa vida, devido à eterna presença do Princípio todo-harmonioso. À medida que cultivamos essa confiança e coragem moral, cresce a convicção de que a harmonia é a realidade aqui e agora, e constatamos a demonstração deste reino de Deus na cura e na harmonização das situações.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, define o Reino dos Céus como: “O reino da harmonia na Ciência divina; o âmbito da Mente onipotente, infalível e eterna; a atmosfera do Espírito, onde a Alma é suprema” (p. 590); Jesus disse que, em primeiro lugar, deveríamos buscar o reino dos céus e a justiça de Deus e depois veríamos que todas as nossas necessidades são satisfeitas (ver Mateus 6:32, 33). Jesus também falou a respeito do reino dos céus como algo presente agora mesmo, e isso foi comprovado pelas obras de cura que ele realizou (ver Mateus 12:28); ele prometeu que os seus seguidores realizariam as mesmas obras (ver Marcos 16:17, 18).
Nas Bem-aventuranças, Jesus declarou o que pode ser considerado um fato espiritual: “Como são bem-aventurados aqueles que conhecem sua necessidade de Deus; porque o reino dos céus pertence a eles” (Mateus 5:3, [conforme a Nova Bíblia Inglesa]). Ao reconhecermos a nossa necessidade de confiar em Deus, e não nas circunstâncias humanas, para alcançarmos a harmonia, tomamos consciência da presença desse reino da harmonia e podemos ver a melhora das circunstâncias humanas.
Elevar nosso pensamento, com desprendimento e com humildade, até alcançarmos a consciência do poder que essa lei da harmonia tem para governar uma situação humana, é oração. As orações de Jesus a Deus: “… faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10) e “… não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22:42) demonstram essa atitude de se abrir à harmonia sempre presente, ou seja, ao reino divino. A Bíblia indica que quando Jesus orou essa última oração, ele estava se preparando para permitir que a crucificação acontecesse, a fim de dar o exemplo, por meio da ressurreição, de que o governo de Deus tem domínio sobre os assuntos humanos, inclusive sobre o ódio e a violência. Isso indica como o desprendimento do ego permite que a harmonia de Deus entre em nossa vida.
O desprendimento do ego significa não nos preocuparmos com a maneira como uma situação irá se resolver em nosso caso pessoal, mas sim deixar que a lei da harmonia de Deus esteja presente na nossa consciência, permitindo-nos ser instrumentos da vontade de Deus. A vontade própria faz com que nos agarremos ao que imaginamos ser uma boa solução para o problema e, até mesmo, faz com que forcemos uma determinada ação. Isso contrasta com a oração, que envolve firmeza na realidade espiritual — deixando depois que essa harmonia espiritual nos guie para pensamentos e ações corretas. Somos mais felizes, e vivenciamos o reino dos céus, ou seja, a realidade da harmonia, de uma forma melhor, quando permitimos que seja essa realidade a nos dirigir, em vez das emoções ou das percepções limitadas dos sentidos físicos.
Sejam quais forem as circunstâncias, podemos sentir essa lei da harmonia sempre em ação sustentando-nos e levando-nos adiante para abençoarmos e sermos abençoados.
