Tal como acontece com muitas irmãs adolescentes, minha irmã e eu costumávamos brigar. Sentíamos amor uma pela outra, mas definitivamente havia muita disputa entre nós. Mesmo assim, uma vez fui pega de surpresa quando do nada, minha irmã me ameaçou. Fiquei chocada, pois isso não era do feitio dela, e me senti abalada com o que ela fizera. E no dia seguinte decidi fingir fazer o mesmo a ela.
Eu não tinha intenção de machucá-la. Queria apenas me vingar, isto é, assustá-la talvez o suficiente para que ela nunca me ameaçasse de novo. Só que dessa vez meu pai viu o que estava ocorrendo e não percebeu que eu estava apenas fingindo. Nem minha irmã percebeu, pois ela saiu correndo, gritando, e se escondeu debaixo da cama. Meu pai ficou aborrecido e me mandou para o meu quarto, dizendo que, se eu ficasse ali, ele não contaria para minha mãe o que havia acontecido.
Depois de chorar muito por aquilo que parecia uma grande injustiça, me volvi à Bíblia, como anteriormente havia feito muitas vezes. Abri na cena da crucificação, quando Jesus pede a Deus para perdoar aqueles que o estavam crucificando, “…porque não sabem o que fazem…” (Lucas 23:34). Embora eu soubesse que a injustiça para comigo era insignificante, comparada à crucificação, eu aprendera na Escola Dominical da Ciência Cristã que cada história e passagem da Bíblia têm importância para nossa vida, quando oramos com tal relato e compreendemos seu profundo significado. Então, foi isso que eu fiz.
Quando orei com essas ideias, fiquei tão inspirada pelo exemplo de Jesus, que entendi que eu podia perdoar também. Senti compaixão pelo meu pai, pois ele não compreendera o que estava ocorrendo. Por meio da oração, dei-me conta até certo ponto da bondade e da inocência de cada um de nós como filhos de Deus. Percebi uma mudança no meu pensamento, o que me afastou dos sentimentos de mágoa e injustiça e me conduziu ao amor e ao perdão. Com isso, abandonei aquele martírio e me senti tão em paz que adormeci.
Um pouco depois, acordei com alguém batendo na minha porta. Quando saí do quarto, minha mãe estava me esperando no final do corredor. Fiquei gelada, pois afinal de contas meu pai contara a ela o que havia acontecido.
Pior ainda, quando ela me disse algo com firmeza, eu devo ter respondido de uma forma que meu pai não gostou, pois de repente ele levantou a mão para me bater. Os poucos segundos seguintes pareceram longos minutos. O tempo se moveu mais devagar, e nesse momento senti Deus, o Amor divino, animando e elevando meus pensamentos. Eu me dei conta de que eu estava pensando: “Pai, perdoa-lhe, porque ele não sabe o que faz”.
O que aconteceu em seguida foi incrível! Parecia que eu tinha sido atingida por um travesseiro, embora a força do golpe fosse suficiente para me jogar no chão a alguns metros de onde eu havia estado. Fiquei tão perplexa de como havia sido protegida, que eu mal conseguia entender meu pai, exigindo que eu dissesse: “Sim, senhor”. Apesar de tudo, obedeci prontamente.
Depois, as coisas se acalmaram um pouco, e consegui relatar ao meu pai o meu lado da história. (Eu já havia tentado antes, mas era evidente que ele realmente não me escutara.) Quando expliquei o que minha irmã inicialmente fizera comigo, meu pai disse que ela teria de ser castigada. Ouvi minha irmã, que estava no quarto, gritando de pavor. Mas, antes que ele pudesse fazer alguma coisa, eu contei que a havia perdoado. Então, meu pai disse para minha irmã que uma vez que eu a havia perdoado, não seria necessário ela ser castigada.
Eu não somente tive esse pleno sentimento de perdão, mas quando olhei no espelho não muito depois, não havia nenhuma marca no meu rosto, embora eu tivesse levado um tapa com toda a força. Eu havia sido completamente protegida.
Depois dessa experiência, nunca mais fui intimidada pelo meu pai, apesar de seu temperamento explosivo. Além disso, as coisas em nossa família voltaram ao normal, ou seja, entre mim e meus pais e entre mim e minha irmã. E meu pai nunca mais bateu em nenhuma de nós.
Essa cura ensinou-me o quão poderoso é o perdão sincero e verdadeiro. Quando meu pai levantou a mão para me bater, eu não orei para me proteger, nem sabia que o resultado seria proteção. Simplesmente senti amor por meu pai, e esse amor naturalmente me impeliu a pedir ajuda a Deus para perdoá-lo. Desde essa ocasião, o efeito contínuo dessas orações deixou em mim uma grande impressão, e consegui confiar mais no poder do Amor para harmonizar os meus relacionamentos, inclusive aqueles com a minha família.
