Desde a infância até hoje, sempre gostei de olhar através das pequenas fendas, nas cercas que protegem obras em construção. Quando eu era criança, lembro-me de me perguntar por que demorava tanto para a construção aparecer acima da cerca. Depois da primeira espiadela pela fenda, vi que muito trabalho estava sendo feito para construir os alicerces do edifício. Acabei compreendendo também que a integridade ― a estabilidade e a solidez ― de um edifício tem muito a ver com a resistência e a qualidade dos seus alicerces.
Existem fundações de todo tipo, inclusive as de ordem física, e que sustentam os edifícios. Mas existe também a fundação espiritual que sustenta a identidade do homem (cada um de nós) como progênie espiritual de Deus. Esse fundamento é a nossa relação indestrutível com Deus, nosso Criador e único verdadeiro Pai-Mãe de todos nós. Nossa relação com Deus é eterna e imutável; Deus e o homem são eternamente inseparáveis.
A indestrutibilidade de Deus é o que dá estabilidade e solidez ― que poderíamos definir como integridade ― à identidade espiritual do homem como semelhança dEle. Consequentemente, a identidade do homem nunca pode degradar-se, deteriorar-se, ou enfraquecer-se.
Certamente, Cristo Jesus estava ciente da união do homem com Deus e curava com base nesse fundamento. Mary Baker Eddy explica em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Jesus reconhecia na Ciência o homem perfeito, que lhe era visível ali mesmo onde os mortais veem o homem mortal e pecador. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes. Assim, Jesus ensinou que o reino de Deus está intacto e é universal, e que o homem é puro e santo” (pp. 476–477).
A percepção espiritual do Mestre ficou evidente na história que consta dos Evangelhos, a respeito do homem que nasceu cego. O livro de João nos diz: “Os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (9:2–3). Jesus ungiu os olhos do cego que, depois de lavar-se como Jesus lhe havia dito, voltou vendo.
Considerando que a identidade do homem tem sua origem em Deus, ela pode ser descrita como a imagem e semelhança de Deus, conforme consta no 1º capítulo do Gênesis. Portanto, o homem só pode expressar qualidades semelhantes a Deus, entre elas bondade, harmonia, pureza, saúde, inteligência, amor. Além disso, Deus é todo-poderoso ― a única Mente divina e infinita, que tudo sabe (ver Salmo 139) ― e o homem é o resultado desse saber, é uma ideia na Mente. Por isso, o fato espiritual é que o homem expressa constantemente o bem de Deus, sem limites nem obstáculos.
A compreensão do meu relacionamento inviolável com Deus provou ser vital para mim, quando me confrontei com uma dor recorrente na cabeça. Recorri a uma passagem de Ciência e Saúde, a qual me ajudou, e que começa na página 475, na qual a Sra. Eddy responde à pergunta “O que é o homem?” Sua explicação deixa bem claro que, em realidade, o homem não é constituído de elementos materiais, tais como: cérebro, ossos e sangue. Pelo contrário, como semelhança de Deus, ele é completamente espiritual e perfeito.
Raciocinei que, como Deus, o Espírito, é Tudo, e o homem é o filho perfeito de Deus, eu só poderia refletir a substância divina do Espírito ― aquela substância que é eterna e não está sujeita à doença ou ao mal de qualquer tipo. Eu nunca poderia, portanto, estar em risco, ou ser susceptível à aleatoriedade da matéria, com seus caprichos e desarmonias, como a má saúde. Eu nunca poderia ser a vítima indefesa da crença material. Em vez disso, eu era a manifestação do amor de Deus e, por isso, sempre em perfeita saúde. Essa inspiração me proporcionou um senso irresistível da presença do Amor divino ao meu redor, como se fosse um abraço.
Durante aqueles dias de oração persistente e inspiração sagrada, continuei a pensar em todos os fatos espirituais a meu respeito. Em uma Lição Bíblica do Livrete Trimestral da Ciência Cristã, sobre o tema “A Alma e o corpo”, uma variedade de ideias apropriadas se destacou, inclusive esta, de Ciência e Saúde: “De acordo com a Ciência Cristã, os únicos sentidos reais do homem são espirituais e emanam da Mente divina” (p. 284). Compreendi que um corpo material, sendo um falso conceito de homem, não poderia ter nenhuma sensação ou inteligência própria, portanto, nenhuma capacidade de transmitir uma sensação de dor ou prazer. A Mente divina é o único comunicador e está sempre transmitindo ao homem um senso de harmonia.
Outra declaração de apoio, nessa Lição Bíblica, foi esta: “Os sentidos do Espírito são isentos de dor e estão para sempre em paz” (Ciência e Saúde, pp. 214–215). Isso significava que a harmonia dos sentidos do Espírito era a única coisa que eu podia conhecer ou sentir.
Senti que houve alguma melhora física ao longo das semanas seguintes, à medida que eu continuava a afirmar a verdade a respeito da minha relação eterna e indestrutível com Deus, e a refutar todas as sugestões em contrário. Fiquei muito grato, mas sabia que precisava me manter em oração. Eu não ia dar nem um pouco de credibilidade à alegação da mente carnal de que a dor era real, pois eu sabia que nenhuma dessas crenças materiais, por mais insistente que fosse, poderia ter validade.
Todos temos uma relação indestrutível com Deus, e essa relação é o alicerce da integridade de nossa identidade espiritual.
Quando me veio ao pensamento que a dor recorrente poderia indicar um grave problema de saúde, argumentei veementemente que isso não era mais real do que qualquer outra ilusão dos sentidos materiais. Deus, o bem, não criou a doença, portanto, ela não é real, e não precisamos temê-la.
Qual poder conseguiria me tirar a alegria de me empenhar em ser a melhor transparência possível para as qualidades divinas? Eu sabia que não existe tal poder ou influência, porque o mal não tem fundamento sobre o qual se apoiar. Deus é o único verdadeiro poder e fundamento de todo o existir. Em última análise, a integridade do meu existir ― a natureza sólida e inabalável da minha identidade espiritual na Mente divina ― era o fundamento de minha completa liberdade. Aliás, eu tinha certeza de que nada tinha a capacidade de me tolher essa liberdade.
Um dia, pouco tempo depois, com muita gratidão constatei que estava livre da dor na cabeça. O meu relacionamento indestrutível com Deus e a minha verdadeira identidade espiritual à Sua semelhança, haviam se manifestado em condições físicas harmoniosas. A influência do Cristo em minha consciência havia revelado a verdade sobre o meu existir, como o amado filho espiritual de Deus.
Como é tranquilizador saber que cada um de nós tem uma relação indestrutível e imutável com Deus e que essa relação é o alicerce da integridade de nossa identidade espiritual. Também é muito bom ter a certeza de que essa verdade pode ser comprovada hoje mesmo, conforme Ciência e Saúde declara, nas páginas 470–471: “A relação entre Deus e o homem, o Princípio divino e a ideia divina, é indestrutível na Ciência; e a Ciência não conhece nenhum desvio da harmonia nem retorno à harmonia, mas sustenta que a ordem divina, ou seja, a lei espiritual, na qual Deus e tudo o que Ele cria são perfeitos e eternos, permanece inalterada em sua história eterna”.
