Nos últimos anos, eu havia me tornado uma espécie de caçadora de notícias. Passava muito mais tempo assistindo aos noticiários da TV, e os alertas de notícias pingavam sem parar no meu celular, como que exigindo: “Pare tudo e leia-me agora mesmo!” Eu temia que, se perdesse alguma notícia, ou se não estivesse totalmente informada o tempo todo, estaria de alguma forma mais vulnerável ao perigo e ao mal. Tudo isso parecia quase um vício, portanto, comecei a me perguntar: “O que está por trás dessa necessidade compulsiva de assistir às notícias?”
Compreendi que é bastante comum pensar que saber mais sobre os problemas do mundo seja uma forma de autoproteção; que, quanto mais soubermos a respeito de um problema, menos provável será cair em sua armadilha. Mas isso é realmente verdade? Será que teremos mais controle sobre uma situação, se soubermos tudo sobre potenciais perigos? Muitos já constataram que isso não é verdade e que a avidez por um fluxo constante de informações só nos leva a mais medo e confusão.
Devido a isso, algumas pessoas decidiram simplesmente desligar a Internet, cancelar as assinaturas de jornais e trocar canais de notícias por programas que prometem histórias alegres com final feliz. Descobri, porém, que essa “abençoada” ignorância também não é uma solução. Ignorar os acontecimentos, ou ficar obcecado por eles, são duas faces da mesma moeda. Essa “moeda” é a crença equivocada de que temos uma mente própria, que se sente mais segura avaliando os acontecimentos materiais, em um mundo material, ou fica mais feliz ignorando o mundo completamente.
Pensei: “O que está por trás dessa necessidade compulsiva de assistir às notícias?”
O remédio para isso é orar a fim de compreender que, em realidade, não temos uma mente separada de Deus. Na verdade, Deus é a una e única Mente, e essa Mente, que tudo sabe, não pode conhecer nada dessemelhante de si mesma, portanto, não pode de fato conhecer o mal. Referindo-se a essa Mente infinita, que é Deus, a Bíblia diz: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar...” (Habacuque 1:13).
Levando em conta que cada um de nós, como criação de Deus, é o reflexo da Mente, nenhum de nós pode ser um mortal fascinado pelo mal. Temos a natural inclinação para amar nosso próximo como a nós mesmos, e amar não significa olhar para o outro lado, nem significa pensar, com desdém, que estamos acima dos acontecimentos. Em vez disso, podemos nos esforçar para assistir ao noticiário, ou ler as notícias, como discípulos que seguem o exemplo de Cristo Jesus, que enfrentava destemidamente o mal em nome de Deus, o Todo-Poderoso, e que curava multidões e sentia compaixão por elas.
Quando eu era novata na prática da Ciência Cristã, uma experiente praticista da Ciência Cristã contou-me que todas as noites, antes dos noticiários da televisão, ela perguntava a Deus se havia alguma notícia, aquela noite, sobre a qual ela precisaria orar. Às vezes, a resposta era não, e então ela não assistia ao noticiário daquela noite. Mas se a resposta fosse sim, ela ouvia as notícias como praticista da Ciência Cristã. Orava sobre cada situação como se o evento tivesse sido trazido à sua atenção por um telefonema de algum paciente, pedindo tratamento pela Ciência Cristã.
Ao longo dos anos, tenho pensado repetidas vezes sobre o que ela disse, e isso tem me ajudado a assistir ao noticiário como uma dedicada pensadora e sanadora espiritual, não como uma espectadora impotente e frustrada.
Aqui está o que aprendi a respeito de como pôr isso em prática.
Em primeiro lugar, podemos reparar se há algum sinal de raiva, preconceito, ignorância, ou carência ― temas comuns apresentados nos noticiários ― que esteja presente em nossa própria consciência. Pode parecer que esses sinais perturbadores estejam “lá fora”, nos pensamentos dos outros, e que nós não tenhamos controle sobre eles. Mas podemos começar por examinar nosso próprio pensamento e desarraigá-los dali. Isso não é fácil! É possível que sejam muito sutis e pareçam perfeitamente justificados. Mas Jesus nos ensinou a tirar a trave do nosso próprio olho, antes de tentarmos remover o argueiro do olho do outro (ver Mateus 7:3–5).
Podemos nos esforçar para assistir ao noticiário, ou ler as notícias, como discípulos que seguem o exemplo de Cristo Jesus.
Em segundo lugar, devemos abandonar o ponto de vista centrado no ego, ouvindo as notícias meramente para mantermos em segurança a nós mesmos e aos nossos entes queridos, ou para reforçar nossas próprias opiniões. Podemos ser motivados pelo interesse genuíno pelas pessoas fora do nosso círculo familiar. Mary Baker Eddy escreveu para um de seus alunos: “...nunca serás um Cientista Cristão, na prática, sem curar o doente e o pecador, além de curar a ti mesmo. É egoísta demais trabalharmos para nós mesmos e não pelos outros. Isso não é abençoado por Deus” (Mary Baker Eddy: Uma Vida Dedicada à Cura, de Yvonne Caché von Fettweis e Robert Townsend Warneck, p. 237).
Em terceiro lugar, devemos nos recusar a aceitar como intratável a horrível evidência dos sentidos físicos, ainda que pareça que o resto do mundo a tenha aceitado. A Sra. Eddy escreveu: “Nenhuma evidência apresentada aos sentidos materiais pode fechar meus olhos para a prova científica de que Deus, o bem, é supremo” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 277). A cada dia podemos tomar essa mesma atitude. Podemos enfrentar o medo, o ceticismo, ou a apatia, com a verdade de que “Deus, o bem, é supremo”, por mais graves que as circunstâncias possam parecer em cada caso.
Em quarto lugar, devemos nos recusar a ficar hipnotizados pela repetição do mal. Quando oramos pela cura na Ciência Cristã, não ficamos ruminando os sintomas físicos; em vez disso, nós nos voltamos rapidamente a Deus para encontrar soluções. Da mesma forma, não devemos permitir que nossa convicção de que a cura global pode acontecer seja esmagada pela discórdia social e política; em vez disso, tal pensamento pode ser substituído pela compaixão cristã por todos os envolvidos. Por exemplo, é importante ter misericórdia para com os profissionais encarregados de relatar ou comentar os sintomas sociais. Ainda que discordemos do conteúdo da informação ou da forma como é transmitida, podemos nos recusar a condenar aqueles que a transmitem. Podemos nos esforçar para eliminar a presunção de que temos pessoalmente toda a razão e devemos eliminar a justificação do ego em nosso próprio pensamento. Deus, a Verdade divina, informa e corrige.
Acima de tudo, sejamos rápidos em declarar a verdade com força, logo após as reportagens sobre guerras e convulsões. Por exemplo, sempre que ouço falar em desigualdade, estou aprendendo a declarar de maneira mais consistente e constante que “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34) e que “O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, p. 13). Claro que meramente repetir essas declarações, ou simplesmente pensar nelas, não traz a necessária transformação, mas o desejo de compreender esses ideais e viver de acordo com eles faz muito por nossa própria regeneração e pela cura das nações.
Finalmente, podemos celebrar o bem que realmente vemos, quando assistimos aos noticiários ou lemos as notícias, e reconhecemos esse bem como uma prova do poder irresistível de Deus. Isso significa estar atento ao progresso, ter essa expectativa, e regozijar-se quando acontece. Ao fazermos isso, olhamos para o mundo com um amor mais profundo, uma paz mais pura e uma confiança em Deus, o bem, cheia de expectativa.
