No ensino médio eu passava muito tempo pensando no lanche que faria mais tarde, ou planejando o que comeria no jantar. Eu gastava horas e horas em devaneio com a próxima refeição.
Até então, eu nunca entendera por que as pessoas ficavam tão alvoroçadas com a comida. Muitos se excediam ao comer, enquanto que eu mesma nem ligava muito para a alimentação. Diziam que eu comia “como um passarinho”. Aos poucos, no entanto, meus hábitos mudaram. Comecei a procurar felicidade e gratificação na comida.
De certa forma, era bom agora fazer parte da turma e planejar saídas com meus amigos para comer pizza, lanches, tomar sorvete e tudo o mais, e encher meu prato nos restaurantes que serviam por quilo. Em casa deixei de ser chata para comer, o que alegrava a cozinheira! Eu aguardava a próxima refeição com prazer. Essa nova atitude parecia trazer seus benefícios.
O lado negativo, no entanto, começou a aparecer quando passei a ganhar peso. Pela primeira vez tomei consciência de meu corpo, e, pior que isso, gradativamente dei-me conta de que eu estava me tornando escrava da comida. Por exemplo, ao invés de fazer os deveres para a escola, eu os deixava para depois, planejando sucessivos lanches. Minha autoestima começou a cair.
Os outros talvez me considerassem uma adolescente normal, mas eu sentia que as coisas estavam fora de controle. Isso veio à tona um domingo, na Escola Dominical. Quem deu aula foi uma professora substituta, que era praticista da Ciência Cristã, e trabalhou duro conosco. Primeiro ela nos fez ler e ponderar vários trechos da Bíblia e dos escritos de Mary Baker Eddy, os quais tratavam da natureza de Deus, o que incutiu em mim uma profunda convicção de que Deus é o Amor todo-poderoso e sempre presente. Depois nos fez ver a natureza do homem (o termo que significa a verdadeira identidade espiritual de cada um de nós) como imagem e semelhança de Deus. Tive um vislumbre profundo de que Deus e eu somos um, e de minha identidade como Sua filha amada. Fui para casa ávida para aprender mais sobre Deus e sobre minha verdadeira natureza, sob essa luz.
A Sra. Eddy escreve, no livro-texto da Ciência Cristã: “Para nos certificarmos de nosso progresso, precisamos saber onde estão nossos afetos e a quem reconhecemos e obedecemos como Deus” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 239). Não havia dúvida de que meus afetos repousavam na comida. Apesar de eu passar muito tempo pensando na comida e na expectativa de que me desse prazer, comecei a perceber que os “prazeres” materiais na realidade não conferem nenhuma satisfação. Comecei a sentir profunda satisfação ao pensar em Deus, em estar em comunhão com Ele, e a fazer disso uma prioridade. Satisfazia muito mais do que qualquer comida!
Quando me sentia tentada a comer em excesso, lembrava da pergunta penetrante de Paulo: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Coríntios 6:19, 20). Esse mandado ajudou-me a pensar mais claramente sobre meus motivos. Se eu desejava glorificar a Deus, eu me esforçaria para manter meus pensamentos puros — livres da compulsão com a matéria — o que naturalmente resulta em uma vida mais equilibrada.
Minha meta passou a ser crescer na compreensão de que Deus é minha Vida. Esse motivo puro também nos protege da tendência oposta, a de seguir uma alimentação inadequada. Ao referir-se à necessidade de enfim “conseguir a perfeição e uma clara compreensão do Espírito,” a Sra. Eddy escreve: “Nesse dia perfeito da compreensão, não comeremos para viver, nem viveremos para comer” (p. 388). No entanto, até chegarmos a essa plena compreensão de que a vida é espiritual, sustentada por Deus, o Espírito divino, precisamos comer normalmente.
Adotei a prática de voltar meu pensamento a Deus sempre que percebia que estava pensando na próxima refeição. Muitas vezes tive de abrir a Bíblia ou Ciência e Saúde, em busca de inspiração. De início essa disciplina exigiu esforço, mas à medida que persisti, passou a ser um regozijo que trouxe muita satisfação. Percebi que, ao glorificar a Deus, eu não glorificava a comida. Bastou isso. E o resultado foi que cheguei a um profundo discernimento e à chave para minha cura.
Essa experiência foi gratificante, não apenas por ter eu adquirido domínio sobre meus hábitos alimentares, mas também sobre os demais aspectos de minha vida naquele ano. Voltei a ter confiança em mim mesma, e minhas notas melhoraram. E, graças ao tempo dedicado a orar, e por ter ouvido a orientação divina, comecei a participar de novas atividades na escola, e fiz amizades mais enriquecedoras.
Não posso dizer que nunca mais fui tentada a me exceder na comida, mas eu soube lidar com a situação. Um deslize inicial me alertou para ver que o “êxito” por meio da força de vontade humana, na verdade, é fracasso. O esforço por controlar a alimentação pela força de vontade dominara meu pensamento, mas minha vida não melhorara. No entanto, com o propósito de ficar perto de Deus, a Alma, eu havia alcançado essa meta. “A vontade humana é uma propensão animal e não uma faculdade da Alma”, diz Ciência e Saúde. “Por isso, não pode governar o homem corretamente. A Ciência Cristã revela que a Verdade e o Amor são as forças motrizes do homem” (p. 490).
Somos muito mais bem-sucedidos em nossos esforços, quando permitimos que a Verdade divina e o Amor, ou seja, Deus, nos governe. Tive provas desse fato, quando fiz parte de uma viagem de estudos na Europa, em um programa da universidade. Todos estavam ganhando alguns quilos devido à abundância de doces e outras iguarias. Para mim, foi fácil fazer escolhas sábias, não apenas sobre comida, mas em todas as demais atividades. Tive muitas experiências gratificantes. Ao aproximar-se a data da volta, uma amiga comentou que eu tinha sido a única a não ganhar peso, o que comprovou minha cura.
Hoje, quando leio a advertência de Jesus: “…não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?” (Mateus 6:25), considero ser este um lembrete para que eu mantenha limpa minha casa mental. A Sra. Eddy diz em Ciência e Saúde: “Se seguirmos a ordem de nosso Mestre: ‘Não andeis ansiosos pela vossa vida’, nunca dependeremos do estado do corpo, de sua estrutura, ou de suas funções, mas seremos senhores do corpo, ditaremos suas condições, e o formaremos e controlaremos com a Verdade” (p. 228). Reconheço que essa afirmação é verdadeira!
O mundo continuamente nos assedia com informações conflitantes, que glorificam a justificação em encontrar satisfação e gratificar-nos, e ao mesmo tempo exortam o sacrifício e a disciplina em benefício da aparência física. Nenhum desses objetivos focados no ego pode dar contentamento real e duradouro, pois se baseiam na falsa percepção daquilo que de fato satisfaz. Somente quando abandonamos a crença de que a matéria pode proporcionar prazer ou dor, é que podemos sair do atoleiro mental dos falsos desejos, e verdadeiramente glorificar a Deus em nosso corpo e espírito. Essa mudança de pensamento ajuda a colocar cada detalhe de nossa vida sob o harmonioso governo e controle de Deus.