“As mãos de Zorobabel têm fundado esta casa, também as suas mãos a acabarão, … quem despreza o dia das coisas pequenas?” (Zacarias 4:9, 10, Bíblia Sagrada, João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida, Sociedade Bíblica do Brasil). “Porém muitos … chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa sobre o seu fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria” (Esdras 3:12, ibidem).
Zorobabel era o governador de Judá, incumbido da reconstrução do Templo Judaico em Jerusalém. Mas, quando os alicerces estavam sendo lançados, parecia que o templo seria uma estrutura menor do que o complexo original, construído pelo rei Salomão (o qual havia sido destruído), e muitos dos anciãos do povo que haviam visto o templo original estavam chorando — talvez devido ao começo modesto da nova construção. É possível que muitos daqueles que “levantaram as vozes com júbilo e com alegria” fossem pessoas mais jovens, que não tinham visto o primeiro templo. Os que se alegraram, porém, estavam evidentemente tão agradecidos pelo templo estar sendo reconstruído, que apreciaram o progresso, em vez de chorar pelo começo relativamente modesto, mas que resultaria, por fim, em uma importante casa de adoração a Deus. Teriam eles começado a entender que pequenos começos podem crescer — com paciência e confiança em Deus — e podem se transformar em expressões mais profundas e mais plenas do bem?
Ao longo dos anos, constatei que agir de maneira fiel, diligente e conscienciosa, começando com o que parecem ser “coisas pequenas”, me prepara e fortalece para agir com mais confiança nos desafios maiores.
Em muitas áreas fundamentais da minha experiência, a pedra angular dessa atitude tem sido, por décadas, o empenho em colocar em prática a verdade de que Deus é a única causa e o único Criador. Para vivermos segundo essa compreensão, temos de, antes de tudo, reconhecer que Deus é nossa própria e única origem. Já são anos que, ao acordar de manhã, eu afirmo que minha origem é o Espírito, é Deus — e que eu nunca fui criada materialmente.
Uma declaração específica que consta do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, tem sido para mim especialmente importante e significativa: “A causalidade espiritual é a única questão a considerar, pois mais do que todas as outras, a causalidade espiritual tem relação com o progresso humano” (p. 170). A ideia básica da causalidade espiritual foi a tônica diária de todos os anos da minha vida profissional no campo das artes, pois eu dependia apenas de Deus para ter originalidade, criatividade e ideias sempre novas.
Então, pouco a pouco, e por diferentes razões, desenvolveu-se em minha consciência a ideia de que eu precisava estender essa compreensão sobre causalidade espiritual a outros aspectos da minha vida, considerando as ações e decisões, por exemplo, como algo que vem exclusivamente de Deus, e não de alguma outra causa. Por exemplo, ao sair para uma caminhada, parava na porta e afirmava que a Mente divina determinaria a direção a seguir. E quanto mais eu praticava essa dependência de Deus sobre a direção a tomar nas pequenas coisas, mais eu ouvia claramente a orientação divina em questões mais importantes, nas quais orientação e direção eram necessárias.
Essa ideia central da causalidade espiritual foi moldando meus dias, à medida que eu compreendia mais sobre como colocá-la em prática — porque a consciência humana não capta de imediato toda a plenitude das verdades profundas a respeito do existir espiritual. A ideia de me voltar cada vez mais para Deus como o único — e perpétuo — Criador, a única e perpétua causa, isto é, a única origem dos meus pensamentos, das minhas ideias e ações, continuou a se desenvolver ao longo dos anos, até que finalmente compreendi que o denominador comum daquilo que eu vinha fazendo era a demonstração de minha inseparabilidade de Deus. Eu estava compreendendo cada vez mais o fato de que estou completamente unida à Mente única e dela dependo totalmente. Ao mesmo tempo, algo igualmente importante e necessário, eu estava fazendo progressos em abandonar a crença em uma mente pessoal com vontade própria.
Talvez tenha sido por isso que eu vi a importância de compreender o Primeiro Mandamento de maneira mais profunda e abrangente. E foi exatamente o que procurei fazer. A Sra. Eddy diz, em Ciência e Saúde: “ ‘Não terás outros deuses diante de mim’ (Êxodo 20:3). O Primeiro Mandamento é meu texto favorito. Ele demonstra a Ciência Cristã” (p. 340).
A estrita obediência ao Primeiro Mandamento significa necessariamente que nenhum pensamento, ideia, palavra, ação ou evento, saudável e construtivo, poderia estar ligado a qualquer outra causa ou poder, a não ser à Mente única. Aliás, essa obediência nos faz compreender que Deus não é alguém que tenha nos criado, tenha nos dotado de “livre arbítrio” e tenha nos deixado por nossa própria conta, mas sim é, em realidade, a causa inteligente e amorosa de todo efeito e, portanto, é a origem de cada nanossegundo da nossa existência.
Empenhar-se em viver conscienciosamente, com tudo isso em mente, ratifica nosso relacionamento científico com a Deidade, no qual nem mesmo nas circunstâncias mais insignificantes poderiam as individualidades criadas por Deus, geradas espiritualmente pelo Amor, pensar, dizer ou fazer algo que não seja o resultado ou o reflexo do próprio Deus — assim como um raio de sol jamais poderia se desconectar do sol e ser algo a não ser o resultado do sol. Somente Deus é autoexistente. Se Deus desaparecesse, não sobraria nada — nem grande nem pequeno — porque Deus é a Mente, o Ego e a Vida de tudo.
Suponho que agora poderíamos dizer que eu estava a caminho de uma compreensão mais abrangente do que significa “o dia das coisas pequenas”.
Quando comecei a vigiar mais atentamente meu pensamento, com relação ao Primeiro Mandamento, muitas vezes me peguei atribuindo poder, ou causalidade, a inúmeras coisas comuns, ao invés de atribuir todo o poder e causalidade a Deus. Estaria eu menosprezando, sem querer, as “coisas pequenas”? Estaria eu pensando que, em algumas questões, era importante obedecer ao Primeiro Mandamento, ao passo que em outras esse Mandamento não era tão importante? O Amor divino me corrigiu de maneira incrivelmente simples, porém doce e inspiradora.
Eu amo os pássaros e há muitos anos observo as aves na natureza. Há alguns anos, um casal de belos pássaros da raça papa-figo passou por aqui e acabou ficando até migrar para o sul. Aliás, eles retornaram ano após ano durante algum tempo — e depois desapareceram. Fazia pelo menos uns cinco anos que não os via e sentia um grande desejo de recebê-los de volta. Durante aqueles anos, eu havia tentado espalhar bandejas com néctar de papa-figo além de laranjas e geleias, mas os papa-figos nunca apareciam. Há uns dois anos, decidi tentar novamente e espalhei outra vez os alimentos — mas sem resultados.
Foi então que, em um lampejo de inspiração, compreendi que, ao invés de ver o Espírito como o único poder e a única força de atração (em obediência ao Primeiro Mandamento), eu estava atribuindo poder ao néctar, à geleia e às laranjas! A percepção foi tão impressionante, tão simples, que imediatamente vi o erro e o substituí pela verdade contida no Primeiro Mandamento: que causa e efeitos pertencem somente a Deus.
O livro-texto explica: “Há uma só atração real, a do Espírito” (p. 102). Por meio da atração, o Espírito classifica e relaciona harmoniosamente todas as suas infinitas ideias. Por meio do Espírito Santo — a lei dinâmica da ação do Espírito — a criação infinita do Amor é inteligentemente sincronizada e coordenada.
Mesmo nessa modesta questão dos pássaros, pude ver a imensa importância de se compreender a Ciência corretamente, para demonstrar nossa união ininterrupta com Deus. Ficou evidente que nós cedemos à ilusão de estarmos separados de Deus — e deixamos de glorificá-Lo — cada vez que, por ignorância ou senso de ego, deixamos de considerá-Lo a única causa. Ressaltando a ininterrupta coincidência da divindade com a humanidade, um dos pontos básicos do ensino da Ciência Cristã, o livro-texto declara: “A unidade científica que existe entre Deus e o homem tem de ser posta em prática na vida, e a vontade de Deus tem de ser universalmente feita” (p. 202).
Logo no dia seguinte, eu estava em meu escritório, olhando pela janela, quando uma reluzente faixa laranja brilhou à minha frente. Corri até a janela da cozinha e lá, bebendo no bebedouro dos beija-flores — não no bebedouro reservado para os papa-figos, que ficava a apenas alguns metros de distância — estava um deslumbrante papa-figo! Nos dias seguintes, quando saí para minhas caminhadas, ele apareceu em todos os lugares em que eu ia. Ele e sua companheira vieram todos os dias beber néctar de beija-flor e se banharam na bacia do meu jardim durante toda a primavera e verão, e voltaram no ano seguinte.
A questão é: será que tudo isso só diz respeito a observar papa-figos? Claro que não. Aquela foi uma lição incisiva sobre a Ciência do Primeiro Mandamento, que inclui tudo. Foi uma lição de como a obediência científica a esse Mandamento — reconhecer a causalidade espiritual nos menores detalhes da experiência diária, não apenas naqueles que parecem ser os maiores e mais complexos desafios da vida — demonstra nossa sólida união com o Criador e nos dá mais confiança no amor de Deus e no cuidado que Ele tem por nós em todas as coisas.
Simplesmente desprezar “as coisas pequenas” talvez indique uma ignorância a respeito do fato de que o verdadeiro existir é, por natureza, como uma sinfonia. Belas sinfonias não são compostas apenas de crescentes e estrondosas passagens musicais, mas também apresentam contrapontos em uma gama infinita de intensidades, desde o mais breve “ting” do triângulo, até a suavidade de uma harpa e o trinado de uma flauta. A beleza está na unidade do simples com o complexo, do pequeno com o grande, do óbvio com o sutil. Como a vestimenta do Cristo, cada dia é indiviso, um movimento completo na sinfonia eterna da Alma.
Ciência e Saúde nos diz: “Do começo ao fim, a causalidade física foi posta de lado por Jesus, que era a manifestação da ideia original de homem” (p. 286). Não só nenhum problema era grande demais para Cristo Jesus, como também… nada era pequeno demais. Ele nunca desprezava “as coisas pequenas”. Ele via a presença, o amor, a beleza e o cuidado de Deus pela humanidade e pela flora e fauna, na glória dos lírios do campo e no sustento das aves do céu. Ensinou uma das maiores de todas as lições — o valor eterno de cada individualidade — ao apontar para a vida de um pardalzinho: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus” (Lucas 12:6).
Acreditar que possamos, ou devamos, lidar sozinhos com questões aparentemente pequenas — sem “incomodar a Deus” com coisas infinitesimais — seria a negação da nossa união científica e indestrutível com o Criador. Essa não seria humildade, mas sim relutância em renunciar ao senso de ego, falso e irreal, que nosso grande Mestre, Cristo Jesus, provou ser uma ilusão dos sentidos materiais, uma falsificação do verdadeiro homem e mulher da criação de Deus. Sua humilde declaração: “Eu nada posso fazer de mim mesmo…” (João 5:30), expressa com bela simplicidade a Ciência do existir, a indivisibilidade dos elementos pequenos e grandes que constituem a tapeçaria do existir individual e coletivo. Sua declaração exemplifica de maneira tão completa o fato de que Deus é a Vida única e contínua, a substância de toda a criação — como ilustra a analogia do sol e do raio de sol.
Minha experiência com os papa-figos gravou mais profundamente em minha consciência a exigência de estarmos sempre atentos, para não atribuir causalidade a qualquer coisa — pequena ou grande — a não ser à Mente única. Perante algumas coisas que parecem ser maiores, com que frequência atribuímos causalidade à idade, ao corpo, à hereditariedade, às diversas personalidades (que classificamos como agradáveis ou perversas), à economia, ao governo, ao dinheiro, ao condicionamento, a uma pandemia, ao clima, à sorte, ao azar ou a qualquer uma das inúmeras coisas que alegam competir com o Espírito? Enganamos a nós mesmos e nos vemos como vítimas, quando atribuímos causalidade e poder a algo que não é Deus. Não importa quanto poder pareça ter aquilo que não é o Espírito ou espiritual; Deus, o bem infinito é — aqui e agora — comprovadamente o infinito e único poder, a única presença.
São ricas as recompensas por vigiar o pensamento e por esforçar-se para obedecer ao Primeiro Mandamento — uma delas é um crescente senso de união com o Pai, Deus. Esse senso de união era o denominador comum, embutido nos ensinamentos e obras de Cristo Jesus. Ciência e Saúde declara: “Jesus de Nazaré ensinou e demonstrou o fato de que o homem e o Pai são um, e por essa razão lhe devemos perene homenagem” (p. 18).
Tudo o que fizermos — não importa quão corriqueiro possa parecer — é sagrado e glorifica a Deus, quando agimos conscientemente como reflexo. Estar conscientes da onipotência divina, por mais tênue que seja essa consciência, ajuda-nos a compreender a descrição que Jesus faz do reino dos céus:
“É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças…” (Marcos 4:31, 32).
