Você que está lendo este artigo, e eu que o estou escrevendo, estamos ambos vivos. Disso estamos absolutamente certos. Mas que vem a ser a vida — especialmente a vida que estamos vivendo hoje em dia?
Não são muitos entre nós os que se interessam por investigar aquilo a que se faz referência como sendo o aspecto científico dessa questão — ou, poucos são capazes de fazer tal investigação. A teoria genética está em primeiro plano na atualidade, mas se o passado serve de critério, outras teorias hão de surgir até que o pensamento humano seja levado a abandonar um sentido de vida material e, pelo menos, começar a considerar a vida de um ponto de vista espiritual.
Geralmente julgamos que a nossa vida presente começa pelo nascimento e termina na morte. Mas que devemos pensar sobre a Vida eterna — a Vida que não tem começo nem fim?
Um leitor observador notará que no parágrafo acima empregou-se um v minúsculo quando se fez referência à vida que começa e finda, enquanto a Vida eterna é escrita com um V maiúsculo. A Ciência CristãChristian Science — pronuncia-se: kris’tiann sai’ennss. emprega coerentemente o V maiúsculo quando identifica a Vida com Deus, o Espírito. Esta Ciência, então, refere-se também a Deus como Espírito, não como espiritual. O homem e o universo são espirituais. Mas a fonte, a causa e origem de toda a criação, é o Espírito. Como Deus é eterno — e é Vida — a Vida tem de ser eterna. Este fato espiritual é fundamental na Ciência Cristã.
Isso não significa que existam duas vidas — uma temporal, a outra eterna. É neste ponto que a espiritualização do pensamento é essencial no esforço que o indivíduo faz para compreender a verdadeira natureza da Vida e para identificar-se com ela.
Na Bíblia há duas narrativas distintas da criação. A Ciência Cristã aceita a primeira narrativa do Gênesis como a narrativa espiritual da criação. Essa narrativa termina com a seguinte declaração absoluta: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” Gênesis 1:31;
A segunda narrativa não é — como geralmente se supõe — uma ampliação da narrativa precedente. Ela começa assim: “Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.” 2:6; Isso forma o palco para uma exposição mítica da criação a partir de uma base material. Repudia a primeira narração, em vez de autenticá-la.
Será que essa narrativa deveria ter sido deixada fora da Bíblia? Depende do propósito desse grande livro, que é o de libertar a humanidade, tirando-a do cativeiro que o engano lhe impõe. Como a Bíblia se dirige ao pensamento humano, ela mostra com clareza aquilo que deve ser aceito como verdadeiro e o que precisa ser rejeitado como falso.
Os profetas do Antigo Testamento distinguiram-se pela sua notável percepção do poder e da perfeição de Deus conforme consta no primeiro capítulo do Gênesis. Grandes verdades sobre Deus e o homem foram reveladas progressivamente ao seu pensamento espiritualmente receptivo. Cristo Jesus identificou-se com essa escola dos profetas.
O Novo Testamento registra e interpreta aquilo que o Mestre cristão disse e fez. O próprio Jesus predisse a vinda do Consolador — a Ciência divina — que levaria ao cumprimento completo de sua missão. Depois de haver registrado sua revelação dessa Ciência, Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, foi divinamente guiada a organizar uma igreja. No Manual de A Igreja Mãe está declarado: “Numa reunião da Associação de Cientistas Cristãos, realizada em 12 de abril de 1879, foi votada, por proposta da Sr.a Eddy, a resolução de: organizar uma igreja destinada a comemorar a palavra e as obras de nosso Mestre, e a restabelecer o cristianismo primitivo e seu elemento de cura, que se havia perdido.” Manual, p. 17; Embora essa primeira organização de igreja fosse temporária, seu propósito continua a inspirar a Igreja de Cristo, Cientista, nos dias atuais.
Pelo discernimento espiritual pode-se seguir a trilha da linha profética do pensamento religioso desde a primeira narrativa da criação no Gênesis, através de ambos os testamentos, o Antigo e o Novo, até se chegar à Ciência divina, cujo gênio consiste em espiritualizar o pensamento. Nessa Ciência, percebe-se claramente que uma compreensão da eternidade da Vida é a base da redenção da humanidade, redenção que a liberta daquela neblina ou mistificação que quer substituir a Verdade pelo erro.
Como não existem duas criações, uma espiritual e uma material, da mesma forma não existem duas vidas. A neblina do engano gostaria de fazer-nos crer que agora somos as criaturas da matéria mas que nalguma época futura e de alguma maneira seremos reintegrados no nosso status original e espiritual.
Esse é o engano — o pecado do mundo — que Cristo Jesus veio eliminar. E a sua compreensão espiritual de que Deus, o Espírito, era a única e exclusiva Vida, foi que o habilitou a ser o Salvador.
Existe apenas um meio de segui-lo na nossa demonstração da Vida eterna. Consiste em abandonar completamente um sentido material de criação e nos volvermos para o espiritual. Isso não significa afastarmo-nos de nós mesmos. Significa afastarmo-nos de tudo quanto está representado na segunda narrativa da criação e nos volvermos para aquilo que a primeira narração dá a entender, a qual começa assim: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” Gênesis 1:1;
Não há nada de complicado sobre a espiritualização do pensamento. Significa pensar dentro de um controle que reconhece a realidade e a totalidade do Espírito. Como é que isso pode ser levado a efeito?
Para o Espírito é tão natural revelar-se, como para o sol é natural brilhar. Essa revelação é apresentada por toda a Bíblia, mas para percebê-la é preciso procurá-la através do sentido espiritual. Quando o indivíduo a vê, e se identifica com ela, ele descobre que pode confiar inteiramente no Espírito, o qual está a dirigi-lo e a sustentá-lo de modo adequado na vida que de momento ele parece estar vivendo na carne.
À medida que o pensamento se espiritualiza, necessita desmaterializar-se por reconhecer que a matéria, o oposto hipotético do Espírito, é algo impossível na base da totalidade do Espírito, de sua infinidade.
“A exposição científica do ser”, tal como a Sr.a Eddy a registra em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, é uma apresentação dessa espiritualização e desmaterialização do pensamento; não deixa à matéria um só ponto no qual se possa agarrar: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo. O Espírito é a Verdade imortal; a matéria é o erro mortal. O Espírito é o real e eterno; a matéria é o irreal e temporal. O Espírito é Deus, e o homem é Sua imagem e semelhança. Por isso o homem não é material; ele é espiritual.” Ciência e Saúde, p. 468.
A eternidade não é uma duração infindável de tempo. Ela absolutamente não é tempo. O agora no qual vivemos é eterno. O agora não é apenas contínuo; é progressivo. Nunca fica velho. Nós nunca poderemos ficar cansados do agora. Este sempre tem alguma novidade para nós porque é infinito, assim como também é eterno.
O esforço de espiritualizar o pensamento é refrescante, revigorante. Dá-nos a capacidade de comemorar a palavra e as obras do nosso Mestre, por repeti-las. Lança uma ponte sobre os séculos e traz para dentro de nossas vidas diárias a ação do Cristo que cura.
A pessoa que se dedicar a espiritualizar seus pensamentos descobrirá fatos espirituais que mudarão por inteiro sua atitude em relação à sua vida presente. Ela descobrirá que é possível relacionar sua vida com a Vida sempre presente que é Deus, e viver verdadeiramente no céu sobre a terra.