Há alguns anos um jovem amigo da Escola Dominical perguntou: “Como pode o senhor ser engenheiro e Cientista Cristão ao mesmo tempo?” A sinceridade surpreendeu-me. Claramente, ele estava com pena de alguém que se tivesse metido em tal apuro!
A resposta é simples. Mas, permitam-me antes contar o que se seguiu a essa pergunta. Ricardo desde então serviu nas Forças Armadas, concluiu os estudos universitários, casou-se e agora pensa estudar Direito. Estou à espera do dia em que ele for recebido na Ordem dos Advogados para perguntar-lhe: “Como pode você ser advogado e Cientista Cristão ao mesmo tempo?” Problemas políticos e legais em muitos países parecem dar razão a essa pergunta.
Engenharia é simplesmente aplicação de conhecimentos científicos e técnicos para melhor satisfazer às necessidades humanas. De onde vem a aptidão para fazê-lo? Que tipo de “conhecimento científico” existe, de fato, aí? Quem pode satisfazer às necessidades humanas com mais aptidão do que o cientista que é cristão? Temos aquela maravilhosa garantia que a Sr.a Eddy nos dá em Ciência e Saúde: “O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana.” Ciência e Saúde, p. 494;
“Mas”, diria alguém, “quando falo em praticar Engenharia falo em aplicar a ciência física a alguma situação — falo a respeito de Química, Física, leis de Newton, esse tipo de coisas. Estarei aplicando-as a projetos rodoviários, circuitos elétricos e sistemas de transportes. Tudo isso pertence a coisas materiais, e aí é que reside o meu problema.”
Bem, eis aí a oportunidade de distingüir entre trabalho de engenharia realmente eficiente, de um lado, e de outro as tentativas limitadas e materialmente circunscritas de praticá-la. Na verdade, não há matéria. A matéria, como a Sr.a Eddy tão claramente explica no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, é crença ilusória, interpretação falsa do que percebemos em nossa vida. Como pode alguém ajudar outros da melhor maneira se lidar com crenças ilusórias ou falsas interpretações?
O engenheiro, no esforço de melhor satisfazer às necessidades humanas, tem que lidar com conceitos melhores. Basicamente, não trabalha com matéria; trabalha com pensamentos. À medida que perceber esse fato com mais clareza, terá melhores resultados na engenharia. Alguns de seus colegas ainda não apercebidos da natureza mental do universo talvez pensem que ele esteja lidando com objetos materiais e saindo-se bem. Melhor isso do que se pensassem que ele estava lidando com objetos materiais e deixando a desejar! Mas o Cientista Cristão, que é engenheiro, sabe com o que está lidando. E conhece a fonte e o controle de pensamentos e conceitos, e qual a sua relação com tal fonte. É Deus, o Amor divino, que está satisfazendo a toda necessidade humana — inclusive à do engenheiro.
À medida que o engenheiro vê que tudo o que é real pertence à criação perfeita de Deus, sujeita ao controle perfeito e harmonioso do Princípio divino, ele adquire um conceito mais espiritualizado acerca dessas coisas. Então seus esforços por vencer as limitações da matéria, que aparentemente a ela são inerentes, terão êxito proporcional. A ordem e a harmonia, mesmo quando parecemos encontrá-las na lei física, significam idéias reais e espirituais. Essas idéias nunca fazem parte de uma suposta substância autônoma e ilusória chamada matéria.
Certo engenheiro estava empenhado na pesquisa e desenvolvimento de um tipo incomum de amplificador eletrônico baseado num condensador não-linear. Embora vários anos de trabalho de outras pessoas houvessem produzido muitos resultados interessantes e úteis, sempre havia uma grande discrepância entre o rendimento calculado para o equipamento e o rendimento obtido nos modelos experimentais. Foi-lhe atribuída a tarefa de descobrir a razão disso.
Depois de um ano de trabalho sem solução completa, ficou um tanto desanimado. Sabia que em realidade só há idéias espirituais e que a Mente divina, Deus, controla essas idéias em perfeita harmonia. Para a demonstração desse fato absoluto, estava certo de que os conceitos específicos, que necessitava para a solução mais útil do problema, lhe adviriam. Por fim recorreu a um praticista em busca de ajuda por meio da oração. O desânimo foi logo destruído, mas o problema persistiu.
Finalmente o praticista disse ao engenheiro: “A esta altura, estamos só à escuta, à escuta da orientação divina.” Em seguida, o engenheiro teve um novo pensamento: talvez o condensador — que ele e todos os averiguadores prévios haviam mantido, sem questionar, em banho de óleo com temperatura controlada — pudesse ter temperatura instável. Alguns dias de trabalho mostraram que poderia ser esse o caso, e as medidas tomadas com termo-elementos em uma réplica o comprovaram.
Vencida essa dificuldade, o mistério da perda de rendimento desfez-se. Ademais, surgiu um modo de contornar a dificuldade e obter o rendimento total. O engenheiro e o praticista perceberam e aceitaram o controle universal da Mente divina sobre Seu universo espiritualmente mental. O resultado foi não só a explicação de uma situação negativa, mas também a descoberta de uma solução positiva e útil.
De outra feita, um grupo de engenheiros estava projetando, desenvolvendo e produzindo um dos primeiros sensores infravermelhos de horizontes para controle da verticalidade de satélites da terra. Quando prontos e prestes ao embarque, ocorreu-lhes examinar um modo de operação previamente deixado passar, e que poderia inutilizar de todo o mecanismo, como fora projetado. Estavam em jogo várias centenas de milhares de dólares e todo um esquema de lançamento. Desalentados, o coordenador do projeto e seu supervisor levaram o problema ao conhecimento do chefe imediato. Após algumas horas de cálculos matemáticos os três ainda não estavam convencidos de que o sensor colocaria o satélite na posição correta, dentro das condições configuradas.
O chefe pediu aos outros engenheiros que continuassem os esforços analíticos. A seguir volveu-se à oração, ao exame cuidadoso das leis que governavam essa situação. Sabia que o satélite oferecia mais liberdade de limitações humanas. Sabia que qualquer espécie de controle e equilíbrio estão sob a jurisdição da Mente perfeita. Estava certo de que a economia divina não inclui esforço inútil, e que um trabalho honesto e consciencioso, sob a direção de Deus, não poderia virar em nada. O chefe evitou a armadilha de tentar dizer a Deus o que fazer a respeito do problema ou que tipo de solução seria a melhor. Em vez disso, reinvindicou sua inteligência dada por Deus, e confiantemente ficou à escuta.
A resposta que lhe veio fortemente foi a de despachar o sensor. Resistiu à idéia durante vinte e quatro horas, e então ordenou aos engenheiros o despachassem, uma vez que o contrato era do tipo “melhor-esforço” e, legalmente, ele tinha que dar o que pudesse para cumprir com o contrato. Mas continuou o trabalho de oração. Em poucos dias os engenheiros vieram felizes trazer-lhe provas analíticas de que o sensor restauraria a posição do satélite sob qualquer circunstância.
Em ambas as situações relatadas os engenheiros envolvidos defrontaram-se com o que parecia ser um impasse material no projeto ou no funcionamento. No entanto, pelo reconhecimento da natureza espiritualmente mental do universo e do poder e da benignidade do controle perfeito de Deus sobre ele, as situações foram resolvidas. Em cada caso foi necessário escutar e então aceitar a resposta provida.
A Bíblia está repleta de provas da orientação e do controle constante do Deus onipotente que a tudo vê, com Seu galardão de sucesso aos que procuram o bem, e com a impossibilidade de êxito para os maus desígnios. Cristo Jesus, que era carpinteiro, ou marceneiro, bem sucedido, antes de se tornar sanador público, disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” João 5:17; Os escritos da autora do livro-texto da Ciência Cristã oferecem muitos conceitos interessantes e inspiradores aplicáveis à engenharia. Por exemplo: “A compreensão de que toda desarmonia é irreal, expõe os objetos e os pensamentos à vista humana em sua verdadeira luz e os apresenta como belos e imortais.” Ciência e Saúde, p. 276;
As Concordâncias aos escritos da Sr.a Eddy são ferramentas de “engenharia” úteis para os técnicos. O engenheiro pode utilizá-las com muito proveito. Essas Concordâncias dão vislumbres valiosos sobre conceitos tais como controle, projeto, melhoramento, função, modelo, sistema e muitos outros.
Por meio da Ciência Cristã o engenheiro ativo pode evitar cair na armadilha de pensar que vive e trabalha num mundo de limitações materiais. Em vez disso, percebe que é no universo espiritual de Deus que vivemos agora mesmo. Então sua prática de cristianismo científico e sua prática de engenharia coincidirão de um modo cada vez mais belo e chegado.
Não temos todos nós — engenheiros, contadores, donas de casa, negociantes, advogados etc. — o desafio de levar o fermento da Verdade, ou o pensamento espiritual, ao nosso trabalho diário?
Quando eu perguntar a Ricardo como é que ele pode ser advogado, provavelmente dirá algo assim: “Meu trabalho como advogado tem a ver diretamente com a observância do Princípio divino, o Amor, manifestado nos assuntos humanos diários. O Amor divino corrige, cura e endireita qualquer situação humana. A verdadeira lei tem de ser a lei de Deus.”
Bem, então, o cientista ou o engenheiro também tem de lidar com a lei de Deus. Existe alguma outra?
O seguinte trecho da obra da Sr.a Eddy, Miscellaneous Writings, resume a resposta à pergunta do meu jovem amigo: “Nenhuma hipótese humana, seja em filosofia, medicina ou religião, pode sobreviver à ação destrutiva do tempo; mas tudo o que é de Deus tem vida em si mesmo e finalmente será conhecido como verdade evidente por si mesma, tão demonstrável como a matemática. Cada período sucessivo de progresso é um período mais humanitário e espiritual. A única conclusão lógica é que tudo é Mente e sua manifestação, desde o rolar dos mundos, no éter mais sutil, até um canteiro de batatas.” Mis., pp. 25–26.