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O concertista de piano: Entrevista com Malcolm Frager (2ª parte)

Da edição de outubro de 1975 dO Arauto da Ciência Cristã


Praticamente desde a primeira vez em que Malcolm Frager subiu a um banco de piano, sabia o que queria ser. Começou a tocar piano aos quatro anos de idade e aos dez era solista da Orquestra Sinfônica de St. Louis. Atualmente viaja de oito a dez meses por ano, tendo tocado com as mais importantes orquestras e em recitais em mais de sessenta países. Reconhecido como intérprete brilhante dos clássicos, formou-se com láurea pela Universidade de Colúmbia e fala sete idiomas.

Esta é a continuação de uma entrevista iniciada no número anterior deste Arauto.

Como você memoriza tantas partituras diferentes?

Nunca tento memorizar. Quando de fato conhecemos algo, simplesmente o sabemos. Memória, para mim, é saber espontâneo. Não nos tentamos lembrar de nosso nome, nós simplesmente o sabemos. Quando sabemos algo, isto se torna nosso para sempre. Ora, não pretendo dizer que eu não procure conhecer uma partitura o melhor possível e que não a estude realmente. Eu a estudo bem, mas não tento conscientemente memorizá-la. Quando sabemos suficientemente bem alguma coisa, verdadeiramente a conhecemos. Não creio que Cristo Jesus precisasse lembrar-se de quem ele era ou quem era Deus. Ele simplesmente sabia e vivia o que sabia.

Diga-nos como lhe é possível usar a Ciência Cristã ao desenvolver a interpretação de uma peça musical.

É muito importante procurar entender o que inspirou o compositor a escrever a peça de uma determinada forma. O que ele sentia? O que o levou a escrever exatamente o que escreveu e da forma como o fez? Neste ponto a Ciência Cristã é de grande ajuda, pois ao obtermos uma melhor compreensão do fato de que há na realidade um só Deus, uma Mente infinita, que se expressa infinitamente, vemos que a mesma Mente que inspirou o compositor é a Mente que está conosco exatamente agora, hoje.

E, ao identificar-se como o reflexo ou a expressão dessa Mente, creio ser possível atingir-se o ponto em que quase nos sentimos o autor daquela peça. Com isso quero dizer que é possível aproximarmo-nos de tal forma do compositor que podemos afirmar: “Sim, esta é a maneira como essa peça deve ser executada.” Naturalmente, cada músico tem sua maneira própria e única de dizer a mesma coisa, mas saber que estamos refletindo a mesma Mente infinita que estava com o compositor, dá-nos uma sensação de autoridade. Isso não vem de uma só vez. É algo que surge gradualmente através dos anos, mas que de fato vem à medida que nos identificamos mais e mais com Deus, a Alma, a fonte das qualidades espirituais que a música expressa.

A Sr.a Eddy diz: “A música é o ritmo da cabeça e do coração.” Ciência e Saúde, p. 213; Gosto dessa definição porque mostra, para mim ao menos, que na música, como em qualquer manifestação artística, deve haver uma combinação de elementos intelectuais e emocionais. Uma execução estritamente da cabeça, que é inteiramente intelectual, não atenderá aos mais profundos anseios da audiência. E uma execução totalmente baseada em emoção desenfreada nunca será o que deve ser. “A Mente”, diz-nos a Sr.a Eddy, “é a fonte de todo movimento, e não há inércia que lhe retarde ou tolha a ação perpétua e harmoniosa.” ibid., p. 283; Para mim a execução ideal inclui as qualidades provenientes especificamente da Mente — inteligência, ordem, contorno, forma — e também espontaneidade, profundidade de sentimento e alegria, que são qualidades da Alma.

Sabe, a música não é apenas o som que se ouve. Os sons, por si sós, são como a sombra da música. A música, além do som, pode corporificar toda a gama de sentimentos e emoções humanas, quase tudo o que de mais significativo experimentamos em nossas vidas. Isso é realmente a música. Temos de nos lembrar disso para que não fiquemos muito envolvidos pela sombra, envolvidos demais pelos sons apenas. “A Ciência divina”, diz a Sr.a Eddy, “revela que o som se comunica através dos sentidos da Alma — através da compreensão espiritual.” ibid., p. 213; Os sons por si sós não representam nada, a não ser que o público a eles responda. E a resposta vem quando a platéia sente o que sentimos.

No mundo de hoje há muitas pessoas que têm problemas, que sentem-se solitárias, rejeitadas, que têm necessidade de saber mais a respeito do que o amor realmente significa e quem elas realmente são. Todas querem ser elas mesmas, saber quem são na verdade. Resolvemos todos os nossos problemas quando nos conhecemos da maneira pela qual Deus nos conhece, pois Deus nos conhece como realmente somos. Ao executar a música estamos ajudando os que nos ouvem, bem como a nós mesmos, a ver quem são. Quando a platéia responde à alegria, à ternura, à força e à espontaneidade da música, está respondendo às qualidades inerentes ao seu próprio ser, pois essas qualidades constituem o homem à imagem de Deus.

Quando aluno da Escola Dominical da Ciência Cristã aprendi que a resposta para todos os problemas, seja um problema de interpretação musical, ou um problema físico, financeiro, político ou até mesmo um problema internacional, pode ser encontrada estudando-se a Lição-Sermão. no Livrete Trimestral da Ciência Cristã; Lembro-me de que, certa vez, eu devia tocar um concerto que eu conhecia muito bem. Nessa ocasião não me sentia seguro com relação ao resultado do ensaio. Ao estudar a lição daquela semana cheguei à frase no Prefácio de Ciência e Saúde onde a Sr.a Eddy, referindo-se a si própria, diz que a autora: “Não fez esforço algum para embelezar, elaborar ou tratar em todos os pormenores, um tema tão infinito.” Ciência e Saúde, p. x; Pensei: “Bem, também eu não tenho de fazê-lo. Não preciso fazer nenhum esforço para obter resultado com essa música. Posso deixar que ela fale por si mesma.” E o resultado foi uma execução muito recompensadora.

Como você lida com sua condição de celebridade, e com a adulação pessoal?

Não é errado o público apreciar a música e não é errado que manifeste seu apreço, mas temos que saber a quem pertence a glória realmente. A Oração do Senhor nos diz: “Teu [ó Deus] é o reino, o poder e a glória, para sempre.” Mateus 6:13; O grande desafio, o perigo, para as pessoas que estão constantemente à vista do público, sendo cumprimentadas dia após dia, é a tentação de receber os cumprimentos num sentido pessoal em vez de reconhecer quem realmente é digno do mérito. Opulência e fama não satisfazem. A única satisfação constante na vida está em reconhecermos que somos merecedores do bem que Deus nos dá. A Sr.a Eddy escreve: “A consciência do mérito satisfaz o coração faminto e nada mais o pode satisfazer.” Message to The Mother Church for 1902, p. 17; Ser famoso significa ser conhecido e quem na verdade nos conhece melhor do que Deus, nosso verdadeiro Pai-Mãe?

Os músicos e o público, em sua maioria, pensam que certos seres humanos possuem um talento excepcional como uma dádiva especial. É importante que as pessoas famosas saibam que todos nós somos amados pelo Criador. Aos olhos de Deus não há uma única pessoa que seja mais talentosa do que outra. Humanamente parece que uma pessoa tem um determinado talento que ela desenvolve até certo grau, mas todos nós temos talentos. E aos olhos de Deus, se colocarmos os talentos de todos numa escala espiritual, veremos que são todos iguais. Quando sabemos que estamos cuidando dos negócios do Pai, não ficamos preocupados com opiniões humanas. As opiniões humanas mudam de um dia para o outro. A aprovação de Deus para o homem, que Ele cria, é constante. Jesus falou algo a respeito de não procurar a glória dos homens: “Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros, e contudo não procurais a glória que vem do Deus único?” João 5:44

A prática da música requer muito tempo e disciplina. Será possível torná-la menos tediosa?

Sempre gostei de exercitar-me ao piano. E quando se gosta de fazer algo, não é difícil disciplinar-se para fazê-lo, pois disciplina é, em essência, consagração. Deve-se gostar de praticar o instrumento, porque a maneira como alguém o pratica determina a sua interpretação. É impossível não gostar de praticar um instrumento e ao mesmo tempo gostar de tocar em público. Acredito ser possível gostar de ensaiar, gostar de resolver problemas técnicos, pois isso permite expressar maior liberdade e força, independência e espontaneidade. Não fazemos exercícios musicais técnicos como um fim em si mesmo, eles são feitos porque são necessários para que nos sintamos livres para expressar inspiração e alegria, os mais profundos sentimentos da Alma. Quando o músico toca, a platéia pensa estar ouvindo apenas os resultados de todas as horas que ele dedicou ao teclado. Mas há mais do que isso. A platéia sente também o significado mais profundo de ser livre, essa liberdade que o homem tem por direito divino.

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