Após certa hora difícil com um de meus filhos, havia em mim lágrimas de decepção, sentimentos feridos, um medo desalentador por aquele a quem eu tanto amava. Por ter aprendido, graças aos ensinamentos da Ciência Cristã, a afirmar a presença de Deus e o meu acesso à sabedoria e ao discernimento que Deus concede, recusei-me a tomar medidas por mim mesma — medidas das quais eu talvez viesse a me arrepender. Assim sendo, orei.
Ao calar sentimentos pessoais e ficar à escuta das idéias curativas que sabia seriam transmitidas pela Mente divina, achei-me a dizer em voz alta: “Não sou a mãe.” Momentaneamente perplexa, quase protestei. Mas então dei-me conta de que havia obtido uma resposta, pois — espiritualmente falando — não há genitores pessoais. Na realidade, há somente o único Pai-Mãe Deus.
Ocorreu-me que eu tivera a esperança de encontrar meios de modificar outra pessoa; e que a oração atendida estava indicando-me, em lugar disso, a necessidade de eu modificar a mim mesma. A Sr.a Eddy escreve no capítulo inicial do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde: “A experiência nos ensina que nem sempre recebemos as bênçãos que pedimos na prece.” E mais adiante, no mesmo trecho, diz: “Aquilo que desejamos e pedimos, nem sempre é o que mais nos convém.” Ciência e Saúde, p. 10;
Muitas vezes os pais desejariam saber como modificar um filho, mas a iluminação espiritual pode mostrar-nos que é preciso modificar o conceito que temos a respeito de nós mesmos e de nossos filhos. “Não sou a mãe”, era a sabedoria bem como o julgamento que eu buscara — a habilidade de considerar a todos como descendentes de Deus. E a libertação do sentido pessoal de maternidade, que havia sido doloroso, concedera cura e paz. Ao compreender, com gratidão, que tinha sido tirada de mim uma grande carga, senti-me envolvida nos braços protetores da única Mãe, o Amor divino.
Ao invés de angustiarem-se por causa de filhos que abandonaram o lar, pais compreensivos podem deixar para trás o conceito meramente pessoal de “meus filhos, meu lar”.
Deixar que Deus seja o Pai e a Mãe não nos torna estranhos, não nos isola de nossos filhos, nem nos torna ignorantes de suas necessidades ou descuidados de seu bem-estar. De fato, quanto mais profunda a compreensão que adquirimos do relacionamento inviolável que cada um de nós tem com Deus, tanto mais se beneficiarão os nossos filhos pela nossa experiência e pelas bênçãos que advêm do amor impessoal. Por ser sempre Deus quem cura, e Deus está sempre presente para satisfazer às necessidades de todos, o purificar-nos do eu capacita-nos a ser transparência mais pura para o amor de Deus que protege, preserva, guia e guarda.
Um homem perspicaz disse certa vez: “Os pais têm de deixar que seus filhos aprendam por meio de lições, se esse for o único jeito pelo qual aprenderão.”
Assim, se um filho não aceitar o conselho que o pai ou a mãe lhe oferecem, nem procurar as respostas por suas próprias orações e parecer resolvido a aprender do modo mais difícil, ainda assim os pais podem ajudá-lo imensamente. A mãe ou o pai podem recusar-se a crer num mortal imaturo e sofredor, e ater-se firmemente à presença da semelhança completa de Deus e à onipresença do Cristo — Sua idéia espiritual — para que regenere e ilumine tal filho. Onde está o filho, está Deus!
A Sr.a Eddy escreve: “O progresso nasce da experiência. É a maturação do homem mortal, pela qual este abandona aquilo que é mortal, em troca daquilo que é imortal. Quer aqui ou no além, o sofrimento ou a Ciência tem de destruir todas as ilusões relativas à vida e à mente, e regenerar o sentido e o eu materiais.” ibid., p. 296;
A luz da Verdade que mantemos em nossa consciência, pode iluminar a vereda de quem quer que se encontre nessa busca, tateando no escuro, confuso, ou infeliz. E, ainda que um filho “pródigo” ao retornar raramente se preocupe com as horas de sono tiradas dos pais, até nesses períodos o pai ou a mãe podem alcançar novas alturas espirituais. Então verão o sofrimento como sendo nada, verão que ele é somente a indicação de um sentido pessoal que era preciso abandonar. E quando Deus, a seu modo, reúne pais e filhos, ambos podem perceber sinais bem-vindos de enriquecimento espiritual, podem ver “o progresso [que] nasce da experiência” a mostrar que muito do mortal foi abandonado “em troca daquilo que é imortal”. Jesus disse: “Antes que Abraão existisse, eu sou.” João 8:58; Jesus estava certo da preexistência de sua identidade espiritual, o Cristo, com Deus, antes que ele aparecesse como ser humano.
É normal para a mãe, ao segurar o seu bebê recém-nascido, sentir alegria e enlevo. É sábio, entretanto, compreender em espírito de oração que em realidade não se acham presentes um progenitor pessoal e um infante, mas idéias completamente inteligentes nascidas da Mente, expressando as eternas qualidades de Deus — qualidades de inocência, pureza e ternura.
Sentir-se pessoalmente responsável por outrem pode ser algo assustador, torturante, decepcionante e, até, de partir o coração. O apego pessoal gera orgulho e medo, dois dos mais difíceis traços de caráter a serem vencidos pelos pais. O apego pessoal pode também produzir voluntariosidade, egoísmo, ambição, dominação, egotismo. Por outro lado, o esforço constante de alegrar-nos com a presença da bondade de Deus, expressado tanto pelos pais como pelos filhos, capacita-nos a abandonar o sentido pessoal e a dar a Deus o crédito por todo o bem. Podemos afirmar que o Seu bem está presente até quando parece estar ausente.
Identificar pais e filhos como idéias puras, que expressam boas qualidades de Deus, capacita-nos a enaltecer padrões, metas e ideais que honram a Deus, e a ajudar nossos filhos para que os honrem também. Compreendendo que é Deus quem nutre em todos nós o amor ao bem, sentimo-nos capazes de lançar sobre Deus a nossa ansiedade, “porque ele tem cuidado de vós” 1 Pedro 5:7..
Se quisermos ter êxito em ajudar aqueles de cujo cuidado estamos incumbidos, é preciso que, em espírito de oração, elevemos o conceito que temos da humanidade. Uma preocupação mesmérica e obsessiva, resultante de nossos esforços para distrair, educar, satisfazer e tornar felizes os nossos filhos, cede ao esforço sincero de compreender a maternidade divina que abençoa a todos os homens, e ser gratos por ela. Deus verte sobre todos os Seus filhos as qualidades espirituais de satisfação, felicidade e realização. Ele “educa” espiritualmente, revelando somente fatos espirituais. É Deus quem purifica as nossas aspirações, bem como as de nossos filhos. Só Deus faz a cada um de nós exigências espirituais que devem ser atingidas e nos proporciona tudo o que necessitamos para cumprir com o exigido. Tudo quanto haveremos de necessitar para completar uma missão espiritual individual é a bondosa dádiva de Deus e a acolhida a ela.
Toda mãe pode comprovar que, pelo fato de incluir as qualidades masculinas e as femininas que Deus criou, nunca é ela uma progenitora mortal solitária e incompleta. Ela pode reivindicar para si a capacidade de tomar atitudes decididas a favor do bem. Pode reivindicar para si mesma e para seus filhos a visão que incentiva a conquista de novas fronteiras, e saber que possui também a intuição e a ternura que inspiram e consolam. Refletimos a verdadeira condição de homem e mulher perfeitos.
Quando reconhecemos e demonstramos que Deus é a Mãe, são-nos dadas imensas oportunidades de expressar amor maternal a maior número dos que não são nossos filhos. Veremos o quanto pode ser gratificante demonstrar, cada dia, que todos somos de fato uma só família, todos filhos do único Pai-Mãe. A matéria é um conceito da consciência humana, que vai desaparecendo à medida que percebemos a realidade do que é espiritual. A Ciência Cristã mostra que não existem laços materiais, não há substância nos genes da matéria, nas moléculas, nas células ou no sangue, que contribua para a vida. Algum dia saberemos que todos somos, de fato, expressões espirituais, relacionadas com o Espírito, bondosamente cuidadas por Deus, nossa Mãe e nosso Pai.
Despertar para Deus, como a Mãe divina, espiritual, universal e imparcial, realça para nós o conceito espiritual de bondade e provisão paternal, que apóia a nossos filhos — ou a qualquer pessoa com quem se cruzem os nossos passos e que se ache necessitada de amor. Apreciando a Deus como o Genitor divino, vivenciamos nossa condição de pai humano cada vez mais amena. A vida de nossas famílias e a de todos os nossos entes queridos será amplamente enriquecida na proporção em que soubermos que cada pessoa pertence para sempre e só a Deus.