Muitas das declarações que constam nos escritos de autoria da Sra. Eddy são tão impressivas, incisivas, pungentes — tão contrárias às opiniões humanas geralmente aceitas — que tendem a nos causar surpresa quando com elas nos deparamos. Ora, através de todas elas há uma luminosa atmosfera de amor. Vemos que a autora está continuamente envidando esforços no sentido de ajudar o leitor a ver a verdadeira identidade espiritual do homem e de ajudá-lo a rejeitar, a partir desse ponto de vista mais elevado, a crença material enfermiça e limitadora de que o homem é um mero animal dotado de mente ou ego próprio que se acha separado de Deus, o Espírito infinito, a única Mente ou Ego universal.
No livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras a Sra. Eddy faz esta declaração curta e abrupta, mas tremendamente importante: “O Eu é o Espírito.” Ciência e Saúde, p. 249; Pense bem! — não se trata de um pequenino “eu” chamado você, nem de minúsculo espírito ou mente denominado “eu”, mas, como se acha implícito na Bíblia, de um só Espírito infinito, um só Ego autoconsciente e não delimitado, em quem vivemos e que transmite toda a vida, inteligência e ação de que somos possuidores.
Na realidade, então, tudo o que pode dizer “eu” é o Princípio inteligente, criador de todo o universo. Nossa identidade espiritual, verdadeira, é genuinamente autoconsciente, porque individualiza a inteligência da Mente que é Tudo, o único Ego. O homem só pode dizer “eu” porque reflete o conhecimento que Deus tem de Si próprio.
Disto vemos que o homem verdadeiro tem identidade eterna, mas essa identidade nada tem a ver com o pequenino ego mortal que parece pensar, falar e sentir por intermédio de uma mente centralizada no cérebro. Esse conceito de homem é a ilusão de personalidade humana que se esconde sob a máscara de identidade autoconsciente. É o sonhador criado pela mente mortal, a miragem por meio da qual o magnetismo animal procura manter-nos no cativeiro da doença, da morte e do pecado.
É o errôneo conceito de identidade o que promove o uso lasso do pronome pessoal. Por isso devemos estar alerta e ser cuidadosos na maneira pela qual empregamos a palavra “eu”. Então nunca seremos ludibriados pelas sugestões satânicas, “Estou cansado, doente, ou deprimido” — não o seremos se nos conscientizarmos de que o único Eu Sou é o Princípio vivificador de nosso ser. Na realidade tudo o que está efetivamente ativo ou consciente, tudo o que está acontecendo exatamente aí onde nos encontramos, é a Mente una e única a manifestar o seu próprio vigor, a sua ternura, paz e harmonia. E, como reflexos individuais deste Ego divino, todos nós manifestamos estas qualidades concordes.
A Sra. Eddy escreve: “A compreensão de que o Ego é Mente, e de que há só uma Mente ou inteligência, começa de imediato a destruir os erros do sentido mortal e a proporcionar a verdade do sentido imortal. Essa compreensão torna o corpo harmonioso; faz com que os nervos, os ossos, o cérebro etc. sejam servos, em vez de senhores. Se o homem é governado pela lei da Mente divina, seu corpo está em submissão à Vida, à Verdade e ao Amor sempiternos.” ibid., p. 216;
Cristo Jesus provou-o melhor do que qualquer outra pessoa. Estava de tal modo ciente de sua verdadeira identidade, o Cristo, e reconhecia com tal clareza que era a Mente única o próprio “eu” de seu ser, que disse a Filipe: “Quem me vê a mim, vê o Pai.” João 14:9;
Esse conhecimento era a base das portentosas obras de Jesus. Por reduzir a silêncio, dentro de si mesmo, a importância própria e a vontade própria, ele livrou seu pensamento da opacidade do egotismo. Isso o habilitou a ver o reflexo do grande Eu Sou em todos os que a ele vieram em busca de cura. Habilitou-o a penetrar a névoa da crença mortal e ver a natureza crística inerente a todos os filhos de Deus. Jesus sabia que o homem nunca é Deus, mas que Deus é a Mente do homem; e, como reflexo da Mente, todo indivíduo manifesta a inteligência, a saúde, o vigor — a capacidade infinita — da natureza divina.
Que enorme diferença faz para nossa demonstração da Ciência Cristã quando, tal como Jesus, vemos a nós e a outros de um ponto de vista correto. A mente mortal não pode corrigir seus próprios erros. Por isso, quando queremos encontrar a harmonia e obter o progresso que buscamos, precisamos renunciar ao sentido pessoal e material da mente e da vida e humildemente reconhecer Deus pelo que Ele sempre foi, é agora, e será sempre — a substância, a Vida, e a inteligência de nosso ser. A Sra. Eddy enfatiza em todos os seus escritos essa necessidade vital, e em Ciência e Saúde pergunta com paciência incisiva: “Quando é que as gerações compreenderão o Ego e se compenetrarão de que há um Deus único, uma Mente única, ou inteligência?” Ciência e Saúde, p. 204;
Sentir e saber que nós mesmos estamos em Deus, pensar do ponto de vista do Ego criador como o tudo de nosso ser, ajuda-nos a erguer o pensamento para fora do egoísmo e da sensualidade. Impele-nos a nos elevarmos gradualmente acima do materialismo em toda e qualquer faceta de nossa vida. E quão importante é que comecemos a partir desse ponto de vista científico, por mais atenuada que nossa atual compreensão ou demonstração possa ser!
Quando em humildade reconhecemos quem é, de fato, o “eu” de nosso ser, nunca tentamos personificar uma realização capaz. Se tentamos inflar o ego humano, estamos, com efeito, alienando-nos da una e única fonte da inteligência e capacidade genuínas. A vaidade, a presunção e o egotismo tendem a acentuar a crença na existência de uma mente separada de Deus, e assim toldar o nosso sentido de união com o Ego verdadeiro, a Mente divina.
Uma pessoa egotista, às vezes, dá a impressão de expressar confiança e equilíbrio, mas esta impressão é falsa — mera fachada — que muitíssimas vezes esconde um sentimento oculto de inabilidade. Por outro lado, a vereda da humildade é um caminho certo e seguro que conduz ao genuíno autocontrole e à calma confiança. À medida que o sentido pessoal, errôneo, do “eu” vai sendo silenciado, a verdadeira identidade fica mais visível, e nos tornamos tanto mais claramente cônscios de nossa união com as habilidades e capacidades da Mente única.
Paulo teve que aprender a importância de trabalhar desde um ponto de vista mais elevado. Em vez de confiar num sentido humano, limitado, de inteligência e capacidade, disse: “Tudo posso por intermédio de Cristo que me fortalece.” Filip. 4:13 (conforme a versão King James). Por sua compreensão do Cristo, sua identidade espiritual verdadeira e sua união com Deus, ele se fortaleceu e foi inspirado a realizar tarefas monumentais.
No decurso de suas viagens missionárias, Paulo talvez tenha sido, muitas vezes, tentado a desistir e pôr um fim a elas. E o tentador, o sentido mortal do ego, provavelmente lhe terá falado como parece falar à maioria de nós, ligando a pequenina palavra “eu” ao cansaço e ao desânimo. Mas o apóstolo não deu ouvidos a essas sugestões. Usou o pronome pessoal de modo correto ao afirmar: “Tudo posso por intermédio de Cristo.”
Deus é quem sabe, quem faz, quem cura, em cada caso; e na proporção em que refrearmos o sentido pessoal — o sentido errôneo agressivo do “eu” — vivenciaremos a calma repousante, sanadora e enaltecedora do único e infinito Eu Sou, o Amor divino. Captando o significado mais profundo do pronome pessoal, veremos que as limitações desaparecem, e sentiremos a inteireza e o contentamento que só o sentido espiritual pode conceder.
