As imperfeições que se apegam à legislação humana e ao governo que atua em concordância com ela fizeram com que a humanidade aspirasse por um país governado idealmente ou por uma mudança milagrosa nos assuntos de seu próprio país ou do mundo inteiro. O termo "Utopia", tomado de empréstimo da obra de um autor e estadista dos tempos da Renascença, Thomas More, muitas vezes foi usado nessa acepção, mas com a implicação de ser impossível conseguir um corpo acepção, perfeito. De fato, a palavra "utopia" adquiriu agora o significado de um sonho ilusório e impraticável.
No entanto, o governo perfeito não é apenas uma possibilidade; é uma realidade presente. Isto é fundamental na mensagem cristã, e Cristo Jesus, desde o começo de sua missão, referia-se a esse governo. O Evangelho de Mateus registra o batismo de Jesus e sua rejeição às tentações do diabo no deserto. Logo depois, conforme lemos, “passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” Mateus 4:17;.
Essa proclamação — poder-se-ia chamá-la de manifesto — não era uma ameaça, mas uma mensagem jubilosa, o evangelho do reino de Deus! Noutra ocasião, ao expor não só a realidade presente desse governo, como também sua natureza espiritual e mental, Jesus disse: “O reino de Deus está dentro em vós.” Lucas 17:21; Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy faz o seguinte comentário sobre essa última citação: “Esse reino de Deus 'está dentro em vós' — está aqui, ao alcance da consciência do homem, e a idéia espiritual o revela.” Ciência e Saúde, p. 576;
O sistema político vigorante na terra de Jesus estava eivado de injustiças. O país estava ocupado pelo poderoso Império Romano, e seus assuntos mais importantes eram decididos pelo governador, representante desse Império. Diante de Pôncio Pilatos, o representante de Roma, Jesus explicou que seu reino não era deste mundo. O verdadeiro reino — o reino de Deus — não é terrestre nem fisicamente tangível, mas pode ser sentido por qualquer pessoa disposta a reconhecer sua própria cidadania nesse reino.
De que maneira esse reino se faz sentir? Por seu governo.
Por quem é ele governado? Por Deus.
Pois bem, o fundamento de qualquer governo é a lei. Sem lei, nenhum país pode existir. E, na verdade, o reino de Deus é governado pela lei — lei espiritual, perfeita e justa, portanto livre do capricho tirânico de uma só pessoa ou de um grupo de pessoas, ou de acordos com diferentes partidos, organizações, ou grupos de interesses que embora possam ser bem intencionados não são, porém, satisfatórios. Uma vez que Deus é sabedoria infinita e todo-poderosa, a lei do Seu reino não precisa ser melhorada, e não precisamos recear que algum dia ela seja modificada para pior.
Jesus tentava pacientemente explicar aos seus discípulos e às outras pessoas que o ouviam a que se assemelhava esse reino e seu governo legítimo. Empregava especialmente parábolas para dar essas explicações. E naquilo que é chamado seu Sermão do Monte deu a entender que os mandamentos do Antigo Testamento eram de modo relevante o equivalente moral da lei divina, à qual os filhos de Deus prestam obediência como cidadãos que são do Seu reino. Mas ele frisou que essa lei — esses mandamentos — era violada não só mediante atos errados como também até pelo modo de pensar errado. É dentro da consciência que temos de aceitar nossa identidade real como idéias perfeitas de Deus, como filhos e filhas de Deus, cidadãos do Seu reino.
Quando eu estava estudando direito, alguns acontecimentos tristes que se verificaram à minha volta, tornaram cada vez mais difícil que eu acreditasse num Pai amoroso, sabedor de todas as coisas, possuidor de todo poder, e que, não obstante, dava origem a coisas tão terríveis ou permitia que acontecessem. E como podia Ele ver tudo quanto acontecia e saber dos inúmeros acontecimentos diferentes que ocorriam em diversos lugares ao redor do globo, e isso sem fazer menção do resto do universo?
Foi-me muito proveitoso aprender na Ciência Cristã que Deus não é uma pessoa corpórea, embora glorificada, e que Ele de fato ama Sua criação e é, de fato, o próprio Amor. Deus é Espírito, e Sua criação — Seu universo, inclusive o homem — é espiritual e não é material nem vulnerável. E para minha mente em que desabrochavam os pensamentos inclinados para as coisas legais agradava constatar que a Ciência Cristã tinha sido definida pela Sra. Eddy “como a lei de Deus, a lei do bem, que interpreta e demonstra o Princípio divino e a regra da harmonia universal”Rudimentos da Ciência Divina, p. 1; Estudar esta Ciência significa, portanto, estudar realmente a lei no seu aspecto mais perfeito, lei dada e mantida por Deus, o Princípio divino, Amor. Sua lei, por sua própria existência, governa o homem.
Mas como é que isso ajuda os mortais, confrontados com a doença, como os atos pecaminosos, com a indecisão — deles mesmos e de outros — confrontados com injustiça, pobreza e assim por diante? Como pode a lei espiritual de Deus, governando um reino espiritual, ajudar a responder as questões surgidas num mundo físico do qual nem Deus nem Sua lei têm conhecimento?
Logo de saída deve-se reconhecer que não existem duas criações, dois universos — o espiritual e o material. Só há uma única criação — a espiritual — não importando quão forte a evidência dos sentidos físicos pareça ser. Existe em realidade apenas a criação onde a lei espiritual governa. E existe apenas uma só lei — a espiritual. Deus, o legislador supremo e único, não conhece nossas pseudodificuldades. Mas Deus acode às nossas necessidades reais! O que necessitamos sempre é de uma compreensão melhor acerca de Deus, a Mente divina, e da Sua lei espiritual imutável que a tudo governa.
Um homem acusado de haver cometido certo crime — de ter roubado um carro, por exemplo — não pode declarar-se inocente alegando que não sabia que era ilegal roubar carros. Ignorar a lei, ou enganar-se quanto à lei, não absolve ninguém do castigo. Espera-se que o indivíduo conheça a lei. Do mesmo modo, se não obedecemos à lei do governo espiritual, seja propositadamente seja por ignorância, podemos ter problemas. É como se estivéssemos sendo punidos por agir contra a lei, embora sem a conhecer.
O fato que todavia nos dá inspiração e nos anima é que o homem, criado por Deus, e governado por Deus, nunca ignora, nem por um momento, a lei de Deus, de acordo com a qual sua vida está eternamente preservada. Toda a carreira de Jesus foi dedicada a estabelecer o reino do seu Pai, por obliterar os erros da existência mortal. Esses erros são "causados" pela ignorância que os mortais têm de Deus, de Seu reino e de Sua lei que governa o reino. A mensagem de Cristo oblitera a ignorância e a crença errônea de que o homem seja um mortal a fazer tentativas imperfeitas de seguir as imperfeitas leis humanas. Oblitera-as com a verdade de que o homem é espiritual, sujeito somente à perfeita lei espiritual. A Verdade diz-nos o que a lei é e como deve ser obedecida.
Uma vez que Deus é Amor, Suas leis sempre visam a nos dar liberdade e alegria, e no-las dão de fato, mesmo que suas exigências, vistas superficialmente, possam parecer limitar nossas possibilidades ou restringir nossa ação. Temos de estar alerta para reconhecer o governo sábio e carinhoso de Deus e só nele confiar. A dúvida ou os pensamentos maus têm de ser rejeitados por não fazerem parte da consciência real do homem. Tal como Jesus explicou, a substância da lei de Deus é a exigência de amar a Deus e de amar o nosso próximo. Portanto, nosso desejo genuíno de obedecer à Sua lei sempre encontra apoio de conformidade com o amor espiritual que conscientemente expressamos, refletindo com isso o Amor divino.
Quando verificamos que nossa preocupação primária consiste em ser cidadãos obedientes do reino de Deus aqui e agora, em sustentar Seu governo — sempre justo e imparcial, mas também terno e misericordioso — podemos esperar que se manifeste na nossa experiência diária e em maior proporção aquilo que é direito e justo. E também seremos capazes de sustentar melhor os atos justos do governo no nível humano, na nossa nação, na nossa comunidade, na empresa ou sociedade comercial em que porventura estejamos empregados, na nossa igreja, ou seja lá onde for. Podemos confiantemente ser levados a tomar a decisão certa, sabendo que na realidade o governo é do Senhor. E cada um de nós, empregador ou empregado, zelador ou diretor de empresa, necessita da orientação governante de Deus.
Podemos reconhecer que para o governo de Deus não há exceções, quer o problema seja pequeno ou grande, quer a situação seja feliz ou lamentável. Se um amigo ou companheiro querido falecer, saindo de nossa vista humana, devemos permanecer confiantes, apesar do testemunho dos sentidos físicos e dos acontecimentos que eles parecem registrar, e começar a compreender que a vontade de Deus é a vida eterna, em toda parte e sempre. Esse é o fato científico.
No Manual de A Igreja Mãe a Sra. Eddy ordena: "E dever de todo membro desta Igreja orar diariamente assim: 'Venha o Teu reino'; estabeleça-se em mim o reino da Verdade, da Vida e do Amor divinos, eliminando de mim todo pecado; e que a Tua Palavra enriqueça as afeições de toda a humanidade, e a governe!" Manual, § 4° do art. 8°.
Quer sejamos, quer não sejamos, membros de A Igreja Mãe da religião Ciência Cristã — à medida que orarmos diariamente do fundo do coração no espírito dessa prece, e com sinceridade e amor a Deus e ao nosso próximo, haveremos de reconhecer, a cada dia, em maior plenitude, como o Princípio divino governa tudo em harmonia.
