Será que os padrões acadêmicos estão decaindo? Há pouco tempo, um professor universitário comentou o número de calouros incapazes de se expressarem claramente por escrito. Sinetas de alarme semelhantes estão tocando em muitas outras universidades e faculdades, e o eminente reitor de uma universidade referiu-se, recentemente, a “uma fuga à excelência” no mundo acadêmico.
Numa sociedade tecnologicamente sofisticada, com uma crescente necessidade de cidadãos cultos, tais tendências preocupam. Foram feitas inúmeras análises da situação e foi proposta vasta série de soluções. Algumas já estão sendo postas em prática.
O que acontece se analisamos a situação desde um ponto de vista espiritual? Olhando mais a fundo, defrontamo-nos com o fato de que o problema básico reside num equívoco quanto ao que o homem é.
Um aspecto desse equívoco é o de crer-se que o homem seja um organismo material com uma capacidade intelectual dependente da matéria, ou seja do cérebro — um argumento refutado de maneira vigorosa no livro de Jó: “Na verdade, há um espírito no homem, e o sopro do Todo-poderoso o faz entendido.” Jó 32:8;
Uma vez que Deus é infinito, não pode haver limites à inteligência conferida por Deus ao homem. Assim, existem só débeis fundamentos para a crença de que, se muitas pessoas atualmente parecem capazes de chegar a uma realização acadêmica apenas modesta, não se deve exigir excelência acadêmica de ninguém. Na realidade, limitar as expectativas de realização a um nível estagnado de mera suficiência seria prestar um desserviço a todos, já que esse enfoque obviamente se baseia numa aceitação do conceito de um homem circunscrito pela matéria.
Descartar-se desses conceitos limitados e ver que o homem é espiritual, com capacidades divinas ilimitadas, é abrir a porta a realizações mais elevadas para toda a humanidade. Como Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, declara: “Deus expressa no homem a idéia infinita que se desenvolve eternamente, que se amplia e, partindo de uma base ilimitada, eleva-se cada vez mais.”Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 258;
O efeito que exerce um sentido espiritual das capacidades do homem sobre a atuação acadêmica está ilustrado numa experiência que tive há muitos anos. Tendo ganho uma bolsa de estudos, matriculei-me numa escola particular inglesa e encontrei-me numa classe de nível surpreendentemente baixo. Para piorar as coisas, eu estava indo mal e não tardei a ficar sendo quase o último da classe. Parecia haver apenas um meio de redimir-me como bolsista e esse era o de tornar a fazer o exame que estava aberto apenas a alunos de primeiro ano. Meus colegas diziam que minhas chances de sucesso eram mínimas. Apenas duas bolsas seriam concedidas e havia grande número de candidatos.
Ao aproximar-se o dia do exame, minha mãe e eu oramos sinceramente a fim de obter uma visão mais clara das capacidades ilimitadas do homem como filho de Deus. Fui auxiliado, de modo substancial, por declarações da verdade como esta, da Sra. Eddy em Ciência e Saúde: “Os mortais têm noção muito imperfeita do homem espiritual e do alcance infinito do pensamento desse homem.”ibid.; Fui capaz de abandonar, em certo grau, uma percepção limitada e mortal a meu respeito e de discernir algo de minhas capacidades outorgadas por Deus.
Como resultado desse trabalho preparatório, fiz o exame com confiança. E quando os resultados saíram, ganhei uma das bolsas de estudo. Logo após, fui transferido para uma classe mais adiantada, que era onde eu devia estar, e não demorou muito cheguei quase ao primeiro lugar — posição que fui capaz de manter pelo resto de minha vida escolar.
Relembrando essa experiência, posso ver a relação que há entre expectativa e realização. Quando fui colocado na classe mais fraca — o que implicava numa expectativa fraca — meu trabalho foi pobre. Quando fui remanejado para uma classe em que o padrão que se esperava de mim era muito mais alto, fui bem. Hoje em dia, muitos educadores reconhecem o efeito que as expectativas do professor pode exercer nas realizações de seus alunos. Por exemplo, tem-se notícia de crianças, classificadas como retardadas, que progrediram incrivelmente em seu aprendizado quando os professores modificaram suas atitudes com relação a elas e esperaram que se saíssem bem.
Mera expectativa humana, porém, por mais positiva que seja, não é suficiente. A consecução de todas as nossas potencialidades requer algo mais profundo. O meu progresso na situação escolar não veio pela mudança da expectativa de um professor, nem por uma promoção, mas por uma percepção mais clara que tive de minha identidade espiritual. Não aponta isso para uma base muito melhor para as nossas expectativas de realização acadêmica?
À medida que professores, alunos e pais reconhecerem que todos os indivíduos, em realidade, refletem espiritualmente Deus e expressam Sua inteligência, suas expectativas assentarão sobre a base correta. Ao superarem conceitos materiais e limitadores como os de hereditariedade, meio ambiente, raça, fatores sociais e estatísticas sobre QI, verão que a excelência acadêmica é tanto demonstrável quanto alcançável.
Cristo Jesus era inflexível no que exigia de nossa potencialidade espiritual. Disse: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” Mateus 5:48; À atividade intelectual deve ser dada base espiritual e ela deve ser guiada pela moral a fim de atender a essa exigência. Partindo dessa base podemos rejeitar a noção de que requerer altos padrões de excelência acadêmica é algo “anti-democrático”, uma vez que possuir o conceito de que a inteligência é outorgada por Deus ao homem só pode abençoar a humanidade toda. Semelhantemente, podemos reconhecer que um sentido correto de intelecto e de cultura não está em conflito com a Ciência Cristã.
A Sra. Eddy escreve: “Aceitemos a Ciência, renunciemos a todas as teorias baseadas no testemunho dos sentidos, abandonemos os modelos imperfeitos e os ideais ilusórios; e tenhamos assim um Deus único — uma Mente única — e este Deus, perfeito — produzindo Seus próprios modelos de excelência.” Ciência e Saúde, p. 249. Se um intelectual zomba dos ensinamentos da Ciência Cristã, ou se um Cientista Cristão dá pouca importância à cultura e à realização acadêmica, isso é indício de que se faz necessário um sentido mais amplo do homem espiritual e de suas capacidades. O intelectual, o moral e o espiritual podem unir-se harmoniosamente sobre a base de que há uma Mente só, uma única consciência.