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Quem foi Kaspar Hauser?

Da edição de junho de 1979 dO Arauto da Ciência Cristã


Ninguém o sabe ao certo. Sua história foi novamente relatada pelo diretor de filmes alemães Werner Herzog, que com propriedade intitulou seu filme: O mistério de Kaspar Hauser. Herzog faz com que seu herói encare a própria vida como uma história mal-acabada, cujo fim e propósito nunca foi capaz de compreender.

De acordo com várias fontes, os fatos são estes: Kaspar chegou misteriosamente a Nuremberg em 1828, confuso e com os pés feridos. Uma carta que trazia consigo, de seu pretenso guardião, explicava que fora criado encarcerado a sós e que por conseguinte não falava, mas que desejava ser soldado. Sob os cuidados de um pedagogo, G. T. Daumer, logo aprendeu a ler, falar, escrever, e a contar sua própria história.

Tudo o que podia lembrar, dizia, é que fora confinado numa escura masmorra e que sua alimentação se constituíra de água e pão preto. Um dia, porém, esse regime mudou: seu carcereiro ensinou-lhe a andar, a pronunciar o nome e a dizer que desejava ser soldado. Foi então que, após andarem por vários dias, alcançaram a periferia de Nuremberg, onde seu carcereiro o deixou para que seguisse o caminho até a cidade e fizesse o contato convencional com os seres humanos.

Cinco anos mais tarde, ao morrer em circunstâncias até hoje inexplicáveis, o mistério de sua origem e de sua cruel formação não estava nem próximo de ter solução. Portanto, pelo que parece, o enigma de Kaspar Hauser jamais será solucionado.

Por que, então, deveriam os Cientistas Cristãos estar interessados nele?

Herzog usou a história de Kaspar para mostrar quão arbitrárias e enigmáticas são para um estranho determinadas convenções sociais. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, a Sra. Eddy usa a patética história de Kaspar para defender uma tese diferente e de alcance muito mais profundo: “A história autêntica de Kaspar Hauser é um indício útil da fragilidade e da deficiência da mente mortal. Ela prova, sem deixar qualquer dúvida, que a educação constitui aquilo a que chamam mente, e que a mente mortal, por sua vez, se manifesta no corpo pelo conceito errôneo que ela transmite.” Ciência e Saúde, p. 194;

Se não houvesse a possibilidade de um despertar espiritual, a triste história de Kaspar seria de certa forma o símbolo de toda vida humana. Nascida involuntariamente em condições humanas sobre as quais não tem controle, a criança parece prisioneira de sua hereditariedade e de seu meio ambiente. O mundo moderno encara o animal humano como um dos produtos circunstanciais da evolução, tateando da melhor forma possível num universo estranho que deixará involuntariamente. Os estudiosos salientam quão frágil é o processo educacional — tanto em seu aspecto informal como no formal; quão sujeito está ao insucesso e à distorção, e quão relativo é o relacionamento entre as várias áreas de conhecimento e valor.

De que forma o cristianismo científico responde a essa classificação mortal? Ao invés de concordar com ela para depois aconselhar-nos a tolerá-la pacientemente até atingirmos a imortalidade depois da morte, a Ciência Cristã nos encoraja a encarar a experiência humana como um sonho que sonhamos acordados, e por meio do qual os verdadeiros fatos são neste momento percebidos em vários níveis de nitidez: às vezes horrenda e até mesmo terrificantemente invertidos, às vezes mais claramente percebidos como a gloriosa realidade da existência espiritual.

O homem espiritual, criado por Deus, nunca esteve dormindo, mas existe sempre como a corporificação de saúde, pureza, vitalidade, amor e alegria, porque ele é o reflexo do único criador, Deus. Se as deduções e os pensamentos derivam-se do sentido material, não são verdadeiros, pois a matéria é uma entidade oriunda da ficção e concebida por uma mente inexistente.

A Verdade, porém, não exige que a existência humana seja eliminada. Há e pode haver muito de construtivo no nível humano da existência. São somente as nossas falsas crenças que nos punem e nos limitam; mediante o impulso divino, porém, aprendemos a nos desfazer delas e a nos firmar naquilo que a Mente nos revela como nossa identidade e destino oriundos de Deus. Começamos então a viver aqui e agora uma vida que não conhece idade, demonstrando nossa presente vida imortal e desvendando as capacidades infinitas de nossos talentos divinamente outorgados. Esse despertar para as coisas espirituais é um renascer e um processo de reeducação — uma espécie de volta ao lar. O reino dos céus — o reflexo completo e consciente, no homem, da harmonia e do governo divinos — já está estabelecido dentro em cada um de nós, para ser descoberto com tanta naturalidade como despertamos para o sol depois de sonhos perturbadores. Esse reconhecimento profundo e íntimo de nossa semelhança e identidade com o divino é apropriadamente expressado por S. Paulo nestas palavras: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.”  Romanos 8:16, 17;

Ao invés de deixar ao ser humano um abismo incomunicável a ser transposto a fim de poder alcançar o real e eterno, a Ciência Cristã mostra que aquilo que é espiritualmente real constitui-se na dimensão atual da existência, percebida com o sentido espiritual quando se renuncia ao eu mortal e material. E acontecerá que, pelos estágios de progresso até chegar ao despertar total, o sentido humano será salvo e regenerado.

A cura cristã restaura e revigora vidas distorcidas pelas crenças materiais, mesmo quando no caso esteja envolvida uma vida inteira de educação orientada na direção errada, ou quando experiências físicas e mentais danosas ocorreram nos assim chamados anos formativos. Assim o é, porque na realidade só há um erro básico: o erro de que a matéria, ou a mente mortal, existe e pode criar ambientes e pessoas sobre os quais o mal e a mortalidade exercem controle. Sejam quais forem, porém, os disfarces que esse erro básico tenta usar, ou quanto aprovação e reforço recebe das teorias médicas, teológicas e científicas, ainda assim, permanece como sendo algo que não precisamos temer ou aceitar como real.

A experiência de um Cientista Cristão que conheço comprova o poder que tem o Cristo para desfazer os modelos sombrios e limitados de pensamento e reação impostos pelo sentido material. Esse Cientista Cristão havia sido criado de acordo com padrões bem ortodoxos, e apesar de respeitar as normas seguidas por seus pais, era-lhe difícil aceitar que a mãe, ainda quando pessoa das melhores intenções, era muito dominadora. Havia falta de comunicação por parte de ambos; para ele, porém, a falta parecia residir inteiramente na mãe.

Foi então que se defrontaram com um desentendimento a respeito de assunto relacionado com outra pessoa da família. Certa noite, ao voltar de uma reunião com Cientistas Cristãos, que estivera especialmente inspiradora, sentiu-se ainda mais deprimido e desejou ardentemente ver o fim da tensão e do mal-estar. As queixas enfadonhas da mãe, com relação ao assunto, repentinamente o lembraram do poema de Tennyson citado pela Sra. Eddy para descrever a situação de Kaspar:

Uma criança que chora no escuro,
Uma criança que chora por luz,
Sem outra linguagem senão um choro.

“Seu caso”, continua a Sra. Eddy, “prova que o sentido material não passa de uma crença formada unicamente pela educação.” Na página seguinte, diz: “Tudo o que aos nossos sentidos cultivados dá prazer, a ele, por esses mesmos sentidos educados em direção oposta, causava dor.” Ciência e Saúde, pp. 194–195;

“Formada unicamente pela educação”! Essa afirmação iluminou o pensamento do jovem. Compreendeu que tanto ele como a mãe eram vítimas aparentes de uma crença treinada em certa direção; um drama sugerido pelo sentido material, onde um fizera o papel de tirano e outro o de um fraco ressentido. O fato era, porém, que o sentido material nunca pertencera à verdadeira formação de nenhum dos dois. Compreendeu que o elemento pessoal ilusório e enigmático nunca constituíra o verdadeiro homem, mas fazia parte apenas da falsificação material que se disfarça de homem.

Quando o quadro material deixou de impressioná-lo, começou a cair no esquecimento. Em poucos anos ele e a mãe partilhavam de uma amizade profunda, sem complicações. Os mal-entendidos do passado foram eliminados.

A Ciência Cristã nunca deixa o homem e a mulher comuns com uma meta inatingível de perfeição diante dos olhos. Esta Ciência nos faz volver a uma explicação inteligente e profundamente espiritual da vida e dos ensinamentos de Cristo Jesus, cuja vida é o verdadeiro modelo para a ação humana, para todas as faixas etárias, para todas as nações, para todas as profissões. Devido à compreensão inabalável de Jesus, de ser o descendente do único Pai divino — a firme identificação de sua natureza, apesar de tudo o que circunstâncias humanas e oposição sugerissem em contrário — foi ele capaz de demonstrar a identidade indestrutível do homem. “Aquele que me enviou está comigo,” disse, “não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.”  João 8:29;

No conceito cristão e científico de família não há lugar para chauvinismo masculino, dominação felina, tirania paterna, comportamento infantil, rivalidade entre irmãos, e isso tudo desaparecerá gradativamente à medida que as crenças animais, materiais e mal-fomadas são desenraizadas e o meramente humano cede lugar ao benevolente e divino. Ao invés de sermos deixados abandonados e perdidos, a nos lastimar como crianças confusas, encontramos consolo divino ao compreender que somos inseparáveis do terno cuidado do Pai-Mãe de todos. Pouco a pouco se perceberá harmonia crescente em todas as fases do relacionamento humano, até que se chegue à época a que S. Paulo se refere: “Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”  Efésios 4:13;

Como acontece com a família humana, assim também se passa com todos os demais aspectos da cultura e educação humanas. A compreensão que a Ciência Cristã proporciona ao indivíduo prepara-o para detectar o que é prejudicial e disso desfazer-se, e leva-o a construir sobre aquilo que é semelhante a Deus. Começar com o que é semelhante a Deus aprofunda a percepção e a sensibilidade, encorajando-nos a olhar para além das sensações causadas pelos sentidos e a vol- vermo-nos ao pensamento, e do pensamento de volta à sua causa, para que possamos distinguir entre a verdadeira causa e sua falsificação, como Jesus recomendou: “Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.”  Mateus 7:19, 20;

Intuição, bom senso, previdência, tato, consideração, perspicácia ao se avaliar o caráter, são todos qualidades oriundas da compreensão, que podemos esperar descobrir em nós mesmos e nos outros à medida que nos dispomos a quebrar a frágil prisão do sentido material.

A iluminação que a Ciência Cristã nos traz equipa-nos para nos conduzirmos com mais inteligência no labirinto do conhecimento que a educação nos proporciona. Uma conseqüência da maior comunicação entre as diferentes partes do mundo é que o mundo se assemelha a um enorme supermercado cultural. Como podemos fazer com que esse vasto conhecimento adquira mais sentido para nós?

As palavras da Sra. Eddy: “O homem é o reflexo de Deus e não necessita de aprimoramento, mas é sempre belo e completo”Ciência e Saúde, p. 527. se constituem em ótimo ponto de partida para que encontremos nosso caminho, sob o ponto de vista cultural. Isso compreendido, encontramos segurança; e equipados com segurança, podemos encontrar nosso rumo dotados de uma atitude firme, e nos realizarmos em qualquer campo do conhecimento humano que nos atraia e satisfaça humanamente. Ao nos lembrarmos de que a verdadeira atração é a espiritual, sentirnos-emos naturalmente atraídos para os pontos de vista que se originam em altitudes mais espirituais. Ao mesmo tempo, será menos provável que nos sintamos desorientados por teorias e tipos de conhecimento materialistas e conflitantes. Nada disso tem o poder de desgastar a rocha do Cristo, a Verdade, ou de desalojar-nos dela.

Ao confiarmos cada detalhe de nosso aprendizado à sábia orientação do bondoso Pai de todos nós tão prontamente quanto o possamos fazer, não seremos abandonados como crianças enjeitadas a resolver enigmas insondáveis. Constatarmos que a vida nos reserva constantemente horizontes em expansão.

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