O caso da “esposa maltratada” (ou criança, ou marido) é motivo de preocupação em muitos países. Foi tornada pública estatística alarmante, e a questão está sendo encarada por várias autoridades governamentais. Quanta ajuda pode dar um cidadão particular médio? Recentemente aprendi grande lição nesse sentido.
Fui acordada em meio à noite pelos gritos de uma mulher e corri à janela para ver que ajuda se fazia necessária. De lá vi um homem dando pontapés numa mulher. Enquanto ela jazia no chão, parecia que ele se preparava para outro ataque.
Mais depressa do que leva para escrever isto, surgiu célere o pensamento de que levaria tempo demais para chamar a polícia. Quase no mesmo instante voltei-me para Deus em oração, declarando com grande convicção que o Amor divino está a toda volta; que nada existe além do Amor; que há uma Mente só, e que esta Mente é Amor, está para sempre em paz, e é eternamente afetuosa; que o homem reflete esta Mente cheia de paz; que ele nunca pode ser possuído por uma mente malévola; nunca pode ferir nem ser ferido, destruir nem ser destruído; que há somente Deus e Sua família preciosa, em paz com Ele e entre si.
O homem não mais atacou. Fez uma pausa com o pé no ar, depois o baixou, girou nos calcanhares e saiu caminhando rapidamente rua abaixo, movendo-se bruscamente, como se estivesse fazendo grande esforço para se controlar. A mulher ergueu-se e o seguiu, aparentemente sem ter sido machucada.
Voltei para a cama, mas permaneci acordada o resto da noite estabelecendo no meu pensamento as verdades que tinham vindo em meu socorro, e recordando algo que a Sra. Eddy escreveu a respeito dos seus primeiros pastores e professores dentre os teólogos protestantes. Disse ela: “Deus parecia abrigar o mundo todo nos seus corações, e eles estavam dispostos a renunciar a tudo por Ele.” Message to The Mother Church for 1901, p. 32;
Vi como nós, também, precisamos estar preparados a fim de que Deus abrigue o mundo em nossos corações. Precisamos renunciar a toda crença nas pressões e tensões do viver moderno que haveriam de levar as pessoas a perderem o autocontrole e a darem lugar à animalidade e à violência. E precisamos subjugar as pretensões da vontade humana em nossa consciência, por mais insignificantes que pareçam ser, se quisermos ser de ajuda em subjugar as pretensões bestiais existentes no mundo. Irar-se ou irritar-se com outra pessoa é atacá-la mentalmente.
Quando ouvimos ou lemos relatos horrorosos de brutalidade, está longe de ser útil dar de ombros por não fazerem parte de nosso próprio estilo de vida, ou então, indignarmo-nos ou cairmos numa apatia fatalista, como se não houvesse nada que pudéssemos fazer.
Há muito que pode ser feito na Ciência Cristã. Podemos começar por pensamentos mais profundos sobre a “Oração Diária” dada pela Sra. Eddy no Manual de A Igreja Mãe. Diz assim: “ ‘Venha o Teu reino’; estabeleça-se em mim o reino da Verdade, da Vida e do Amor divinos, eliminando de mim todo pecado; e que a Tua Palavra enriqueça as afeições de toda a humanidade, e a governe!” Man., § 4º do artigo 8º;
Esta deve ser a ordem de nossa marcha mental — fazer com que o nosso próprio pensamento esteja correto primeiro. É impossível ver que só o Amor divino é real, onipotente e onipresente, se nós mesmos odiamos, criticamos ou, até mesmo, nos encontramos apáticos ou indiferentes. Quando sentimos o nosso próprio coração a salvo em amor, e também a inverdade absoluta e o mesmerismo de tudo o mais que não seja o Amor, então estamos numa posição forte para irmos mentalmente ao encontro de outros, sabendo que não podem carecer de amor nem deixar de dar amor. Sentindo o controle do Amor divino na consciência, podemos ajudar no seu estabelecimento universal.
Na medida em que compreendemos de modo mais palpável a ternura e o vigor do Amor, sua paciência e durabilidade, abrimos o caminho para vê-lo refletido de maneira universal.
De fato somos tutores de nosso irmão. Temos profunda responsabilidade moral e espiritual para com a sociedade. Cristo Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” João 13:35;
Esse amor vai bem mais fundo do que ser apenas altruísta e gentil, ou dar apoio a causas dignas, ou mesmo empenhar-se em obras sociais — por mais valiosas e necessárias que estas coisas sejam. Elas não devem ficar por fazer, mas precisamos também pressionar mais longe, e amar ainda com maior profundidade e espiritualidade.
“A favor deles eu me santifico a mim mesmo,” disse Jesus, “para que eles também sejam santificados na verdade.” 17:19. No decorrer da madrugada vi como cada um de nós pode ecoar muito bem essa oração, com humildade e valentia; sem esmorecer nem se deixar deter pela aparente erupção de violência e crueldade dos dias atuais, mas com firmeza vendo que estas pretensões malévolas e errôneas do magnetismo animal não podem ser identificadas com o homem, o homem amado do Amor, que ama e é digno de ser amado. Estas pretensões malévolas e errôneas não podem usar o homem quer como agente quer como vítima, quer como pecador quer como alguém contra quem é cometido pecado.
O ódio, a violência e a crueldade não têm identidade verdadeira. Não podem entrar no coração que está consciente da onipresença do Amor divino. Não têm sua fonte em Deus e nenhum lugar na Sua criação onde possam repousar.
Todos nós podemos amar com realidade suficiente para apressar a vinda do dia em que cessarão inteiramente até mesmo de ter aparência de existir.