Talvez você tenha se esforçado por amar certas pessoas a despeito de suas faltas, apenas para ver o caso todo recair sobre você. Quem sabe você se sentiu culpado porque, no esforço de amá-las, julgou que estava ocultando as suas más ações. Ou descobriu que, no empenho de fazer o bem, colocara-se numa posição tão sem princípios que se expôs ao abuso e à traição.
Como podemos amar com integridade e ao mesmo tempo gozar de proteção? Podemos amar na proporção em que obtemos o conceito correto de homem, conceito esse que a Ciência Cristã oferece. O único conceito verdadeiro é o de que Deus criou o homem como a Sua própria manifestação, a idéia da Mente divina e perfeita. O que se faz mister é substituir pelo conceito verdadeiro de homem o conceito falso de que o homem seja um mortal pecador.
De que maneira o faremos, a fim de poder viver de acordo com o padrão assentado por Jesus — “Amai os vossos inimigos, abençoai os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam” Mateus 5:44 (conforme a versão King James); ? Ficando alerta à natureza do sentido pessoal — o sentido de que a identidade esteja separada de Deus e seja formada materialmente. Essa noção errônea nos levaria a endireitar os problemas da humanidade fazendo algo aos mortais. O sentido pessoal argumenta que não se pode resolver coisa alguma a não ser que o suposto homem mortal seja corrigido, influenciado, gratificado ou até eliminado, na esperança de que isso irá, de alguma maneira, exterminar o mal e fazer com que subsista só o bem.
Claro está que disso jamais virá solução permanente, pois o homem não é um mortal pecador. É com a noção falsa de homem, o “velho homem”, a personalidade que pretende ser a individualidade, que precisamos nos haver. E, por fim, teremos de erradicá-la de nossa consciência.
A personalidade que se tem como a identidade do homem compõe-se de uma mescla de crenças errôneas — crenças em hereditariedade, crenças na influência do meio ambiente sobre a formação e o caráter. Diz-se que somos todos como páginas em branco até que a mente mortal, a crença de que haja mente na matéria, inscreva em nós a sua história. Mas Mary Baker Eddy, que descobriu e fundou a Ciência Cristã, escreve: “Esta personalidade material, pecadora, que erradamente chamamos homem, é a mesma que São Paulo denomina de ‘o velho homem com seus feitos’, do qual vos ‘deveis despir’.” Não e Sim, p. 27; E noutro lugar, em seus escritos, diz explicitamente: “A personalidade não é a individualidade do homem.” Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 491;
A individualidade do homem é a sua identidade crística como filho de Deus. De um ponto de vista cristão, o que se exige, portanto, é separar do seu sentido verdadeiro e crístico de identidade o sentido pessoal e material dela. A Sra. Eddy diz-nos: “Impessoalizar cientificamente o sentido material da existência — ao invés de aferrar-se à personalidade — é a lição de hoje.” Miscellaneous Writings, p. 310.
Essa impessoalização científica reflete a atividade cálida do amor espiritual. Compreendemos o conceito material e percebemos que Deus é quem, em verdade, criou todas as coisas. Não conhecemos realmente as pessoas enquanto não as amamos espiritualmente — vendo-as em sua verdadeira natureza crística, ao invés de considerá-las como personalidades corpóreas. Só o bem espiritual é verdadeiro para o Amor divino.
Certa praticista da Ciência Cristã que se havia mudado para uma grande cidade, deparou-se com séria dificuldade ao entrar em contato com uma companhia local de serviços públicos. A situação naquela área era tão má que se tornara tópico freqüente de conversação e de artigos nos jornais. A ineficiência da companhia interferia na sua prática da Ciência Cristã.
A praticista orou, declarando que coisa alguma podia conturbar a obra de Deus. A situação melhorava temporariamente, mas logo surgiam de novo graves problemas.
Um dia, após conversação totalmente inútil com funcionário categorizado da companhia, ela clamou para si mesma, em desespero: “Ó Pai, que é que tenho de fazer?” A resposta veio instantânea: “Ameos.” Naquele momento ela não só se sentia incapaz de amá-los mas também julgava que não mereciam o seu amor.
De súbito compreendeu que estivera identificando as pessoas, na companhia, como se fizessem parte de uma personalidade imensa, anônima, que estivesse se opondo a ela e a seus esforços legítimos de fazer o bem. Estivera pensando nelas como mortais que tivessem de ser endireitados. Compreendeu que a cura não se daria enquanto não substituísse, mediante amor cristão, o sentido pessoal, material, daquelas pessoas que integravam a companhia, pelo conceito espiritual e verdadeiro de homem.
Quando começou a sentir amor por aquelas pessoas e pelas verdades espirituais que as governavam, a maioria das dificuldades começou a se resolver. De maior importância para ela, porém, foi ter alcançado compreensão mais clara do modo pelo qual o poder do amor cristão impessoaliza o mal e cura — revela a idéia verdadeira, a identidade crística, à qual se pode dedicar completo amor.
Cristo Jesus não nos prescreveu amar a personalidade material indigna de amor e que pretende ser o homem. Provou quais são os frutos que aparecem quando separamos da crença em identidade material o nosso conceito de homem. Ao orarmos, podemos reconhecer que o Cristo sanador está perpetuamente ativo em nós, destruindo a noção de que o homem seja uma personalidade material e revelando a individualidade crística do homem.
