Que felicidade sentimos quando nos podemos regozijar verdadeiramente com alguém por algo de bom que lhe aconteceu, quando conseguimos admirar genuinamente as excelências demonstradas por outrem, sem nos sentirmos ameaçados. Mas o que podemos fazer se a inveja assomar ao nosso pensamento, deprimindo-nos a mente e talvez, até mesmo, ameaçando arruinar o bem de outrem?
A inveja, observa um dicionário, envolve descontentamento ou mal-estar estar à vista do grau de excelência ou da boa sorte de outrem. É um estado de pensamento mortal, e condescender com ele abre a porta a todo tipo de problemas. Mas o fato maravilhoso é que não há causa nem efeito genuíno na inveja, e esta nunca se expressou através do homem da criação de Deus.
“Um mortal descontente e discordante não é um homem, tal como a dissonância não é música” Ciência e Saúde, p. 305., escreve a Sra. Eddy em Ciência e Saúde. E no Glossário desse livro ela inclui: “Homem. A idéia composta que expressa o Espírito infinito; a imagem e semelhança espiritual de Deus; a representação completa da Mente.” Ibid., p. 591.
Uma vez que a Ciência Cristã pode ser comprovada, não sendo apenas uma teoria a respeito da natureza de Deus e do homem, todo aquele que o deseja tem a possibilidade de vencer os pensamentos de inveja e os atos que deles resultam. Simplesmente dizer a si mesmo que cumpre não sentir-se invejoso é, no entanto, apenas o começo. A excelência ou a afluência de outrem, quando encarada cientificamente, não mais parecerá capaz de provocar inveja. Realmente, poderá oferecer a ocasião de encontrarmos o bem em maior quantidade em nossa própria vida.
Existe base cientificamente cristã para considerar todo o bem que vemos expresso por outrem como não sendo alheio a nós. O fato espiritual é que todo o bem emana de Deus e pertence essencialmente a Deus. O homem, refletindo Deus, é, como foi definido anteriormente, “a representação completa da Mente”, e cada um de nós tem a oportunidade de demonstrá-la em sua plenitude. Assim, toda a infinidade da bondade divina está completamente disponível a cada um de nós. Na prática, a demonstração do bem feita por outrem pode não só inspirar-nos a progredir numa consecução ainda maior como também iluminar-nos quanto à maneira em que devemos continuar.
A inveja, contudo, procura atacar o bem e destruí-lo. E onde é que essa destruição tem lugar? Primordialmente na consciência do invejoso. Contudo, faz-se necessário que aquele a quem a inveja é dirigida esteja alerta espiritualmente a fim de comprovar que a inveja não tem o poder de lhe causar mal. A vítima certa da inveja, porém, é aquele que condescende em sentir inveja. Quando tal pessoa nega o bem a outrem ou com respeito a outrem, nega que as bênçãos de Deus estão disponíveis universalmente para a humanidade toda. Portanto, nega ao bem a oportunidade de manifestar-se em sua própria experiência.
Cristo Jesus disse, tal como consta no Evangelho de Mateus: “Ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” Mateus 13:12. Esse ditado talvez se refira a um provérbio da época e muito conhecido hoje em dia: os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres; mas o Mestre elevou esse provérbio e fez com que a lei divina atuasse sobre tais casos. Dado que sempre fazia seus seguidores se voltarem para Deus, o Pai, e nEle verem a fonte de todo o bem e a causa de todas as boas obras, não haverá nessas palavras uma orientação para romper-se o ciclo de carência-inveja-carência?
Reconhecendo que todo o bem é manifestação de Deus, encontramos base sadia para apreciar o bem onde quer que o vejamos. E, na medida em que apreciamos esse bem dado por Deus, estamos, num sentido muito real, incluindo-o a nós. Colocamo-nos ao lado dos que “têm”, junto com aqueles a quem mais será acrescentado. Recusando-nos permitir que o ardil da inveja nos torne descontentes e inquietos, mantemos a porta aberta para a demonstração da bondade ilimitada de Deus que nos foi descerrada por outrem. E deixando que outros testemunhem o bem em nós, e fazendo tudo retornar à sua origem, damos a outros a bênção do bom exemplo.
Uma das maneiras em que a inveja procura destruir o bem é a da crítica destrutiva. A alguém que expressa bastante inteligência, a inveja pode chamar de frio; o amor cálido, extrovertido, muitas vezes é criticado como hipocrisia. Jamais admitiríamos desejar o que estamos criticando, e assim, quase sem nos darmos conta, fechamos a porta para a primeira oportunidade que se nos apresenta do bem ou da excelência que se acha disponível. Ora, quando nos recusamos a assim agir, isto é, a sermos invejosos, críticos e destruidores, estamos a caminho de prezar o bem que outra pessoa expressa. E a essa altura, poderíamos dizer que na indiferença pelo bem conseguido por outra pessoa talvez haja abrigo para a inveja. Mas, o apreço real, a alegria pelo êxito de outrem, traz o contentamento que se faz bênção imediata.
A Sra. Eddy diz-nos: “Os ricos em espírito ajudam os pobres numa grande fraternidade, em que todos têm o mesmo Princípio, ou Pai; e bem-aventurado é aquele homem que vê a necessidade de seu irmão e a satisfaz, buscando o seu próprio bem no bem que proporciona a outrem.” Ciência e Saúde, p. 518. Esse buscar “o seu próprio bem no bem que proporciona a outrem” não é ato de mártir. Nosso próprio bem está no bem proporcionado a outrem, pois tudo o que verdadeiramente constitui uma bênção vem de Deus e pertence igualmente a nós e aos demais. E mesmo se o ajudar a outrem exige algum sacrifício de nossa parte, não temos nada a perder, antes, ganhamos bênção maior.
Desentocar a origem da inveja em cada caso é uma das maneiras de romper o hábito da crítica hostil, e a maioria das pessoas que percebem ter caído nele desejam romper esse hábito. Muitas vezes quando acendemos a luz da honestidade sobre um caso em que existe boa dose de crítica, podemos inicialmente negar à inveja qualquer presença. “Mas de qualquer maneira eu não desejaria isso”, ou, “não gostaria de ser assim”. Talvez não. A posse específica de algo, quer coisa quer qualidade, poderá não nos deixar invejosos, mas o sentimento generalizado de que outra pessoa possui o que a nós foi negado será terreno da inveja e adubo da crítica.
Podemos sempre dar o passo simples de nos volvermos para o bem e de o prezarmos. Tendo em vista que não se pode manter duas atitudes contrárias ao mesmo tempo, a crítica e a inveja desaparecerão. Isto é mais que mero exercício mental. Expressa a ação do Cristo a trazer salvação ao mundo. Pois um dos elementos mais destrutivos de que indivíduos e grupos, e até mesmo nações, necessitam livrar-se é o da inveja.
Nunca há para nós ameaça na afluência que Deus forneceu a outrem, nem pessoa alguma está ameaçada pelo bem que Deus nos deu. E as excelências, cuja origem se encontram no ser perfeito, já existem na experiência de cada um no momento em que o reconhece. Apreciando o bem, nós o temos — para todos.
