O relato bíblico acerca de Neemias e seu retorno a Jerusalém e de seus triunfos sobre os estratagemas de inimigos (ver Neemias, capítulos 1–6) tem inspirado inumeráveis membros de igreja no decorrer dos tempos, ao traçarem estes um paralelo entre seus próprios problemas e os que afrontavam aquele patriota destemido.
O muro de Jerusalém, de cuja reconstrução Neemias foi instrumento, servia à cidade como proteção contra forças estrangeiras. Protegia a santidade do lugar em que o povo adorava — seu templo — situado em Jerusalém. Acreditava-se que este templo era o único lugar em que se devia orar.
Mais tarde, Cristo Jesus apresentou a verdade referente à adoração quando disse, à mulher samaritana convicta de encontrar-se em determinado monte o lugar de oração: “A hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.... Vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade.” João 4:21, 23. E, então, Paulo, que levou os ensinamentos do Mestre a lugares muito além desse monte de adoração ou da própria Jerusalém, mostrou que adorar o Pai em espírito e em verdade é uma experiência individual que se realiza internamente: “Sois santuário de Deus” 1 Cor. 3:16., disse.
É a partir deste ponto de vista que os membros das Igrejas de Cristo, Cientistas, inspiram-se em Neemias para defender a própria consciência de pensamentos intrusos que representam inimizade contra Deus e o homem. Essa defesa constitui-se de idéias espirituais.
O quanto é importante orar-se de maneira conscienciosa para si mesmo, ficou demonstrado para uma amiga minha logo depois de ela haver feito o Curso Primário de Ciência Cristã. Cedo, a cada dia, dentro de sua escala ativa, preparava-se primeiramente estudando a lição bíblica delineada no Livrete trimestral da Ciência Cristã, e então dando tratamento devoto para si, sua família, a igreja e o mundo. Entre suas responsabilidades domésticas estava a de aprontar um filho para ir à escola antes de ela mesma sair para o trabalho.
Certa manhã, quando estava para sair, sentiu forte dor no abdômen. Seu primeiro pensamento foi: “Ó, não tenho tempo para fazer mais trabalho metafísico!” A seguir veio-lhe o pensamento: “Já fiz o trabalho metafísico; não tenho tempo é para um problema!” Instantaneamente, a dor cessou. Ela ficou curada. Seu pensamento, já receptivo à realidade espiritual, rejeitara espontaneamente as sugestões de dor e enfermidade. Percebera mais do que nunca o valor do trabalho diário defensivo. O tempo que havia utilizado anteriormente em estudo e oração fora construtivo; salvara-a de sofrimento desnecessário e talvez de um dia desperdiçado.
A oração científica baseia-se na verdade absoluta a respeito de Deus e o homem. Aquele que ora sabe que seu trabalho não estará concluído enquanto não se dê conta, com tal alegria e convicção, da bondade imutável de Deus e de Sua idéia, o homem, que não pode deixar de ter certeza dela. Está consciente da clareza da Mente divina, do vigor do Espírito divino, da santidade da Alma imortal. Sabe que, como idéia de Deus, cada qual reflete as qualidades divinas e que nenhuma é deixada fora. No entanto sabe também que, até haver experimentado salvação completa, precisa defender seus pensamentos contra a crença de que alguma força estranha possa vir perturbar a santidade de seu lugar de adoração.
De que defendeu Neemias a si mesmo e a Jerusalém? De Sambalá e dos amigos deste, de um rumor, de um estratagema? Essas pessoas e circunstâncias meramente representavam a agressividade e a sutileza daquilo a que a Sra. Eddy se refere como magnetismo animal. Neemias não reagiu. Sua bela obra não podia ser detida, porque ele mesmo não se deixara deter.
No Manual de A Igreja Mãe a Sra. Eddy cita: “Vigilância quanto ao dever.... Será dever de todo membro desta Igreja defender-se diariamente contra sugestão mental agressiva, e não se deixar induzir ao esquecimento ou à negligência quanto ao seu dever para com Deus, para com sua Líder e para com a humanidade.” Man., § 6° do art. 8°. Por que necessitamos nos defender numa base diária? Implica isto que além de Deus há outro poder — um poder ímpio — que deve ser temido? Esta é a questão. Magnetismo animal não é poder, e estamos melhor preparados para refutar as sugestões de que ele é, quando mantemos nossos pensamentos em linha com a realidade espiritual.
A oração científica inclui o reconhecimento da lei de Deus em ação, a afirmação dela e a negação de que alguma coisa possa interferir com esta lei. A oração não pode fazer com que as leis de Deus entrem em ação. As leis que mantêm a harmonia do universo já estão atuando. O indivíduo que ora torna-se simplesmente receptivo à comunicação ativa, inteligente, legal, de Deus para Suas idéias.
Orando regularmente deste modo, o Cientista Cristão sorve continuamente dos seus recursos espirituais e constrói com eles. Ao entrarem seus pensamentos em harmonia com a verdade de seu ser, sente naturalmente que Deus está disponível. Esta consciência espiritual leva ao seu “templo” a calma certeza, a inspiração natural, uma intuição enaltecida. Constata estar ele mesmo expressando mais profundamente em sua vida estas qualidades derivadas de Deus.
Embora possamos orar em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias, a forma de orar a que nos estamos referindo como trabalho de defesa diário é tratamento específico que damos a nosso próprio favor. É mais do que ater-se meramente a um bom pensamento. É mais do que o simples ler do Estatuto “Vigilância quanto ao dever”. É fazer o que o Estatuto diz que se deve fazer — defender-nos diariamente contra sugestão mental agressiva. E podemos começar, conscientizando-nos de que existe uma só Mente — nossa Mente única e adorável.
O tratamento em espírito de oração enfoca o poder de Deus nas atividades de qualquer dia. Tal tratamento pode ser comparado a uma poderosa luz enfocada em determinada área do palco, chamando a atenção para um aspecto particular da apresentação.
No tratamento, reconhece-se Deus como a fonte do poder espiritual. Sua idéia, Cristo, é a luz que revela Seu poder. A Ciência Cristã é a lente pela qual consegue-se ver a imagem correta. O brilho do Cristo divino, influenciando divinamente a consciência humana, aviva os pensamentos do indivíduo de modo que o bem já presente vem a ser discernido.
No tratamento diário nossa compreensão de Deus torna-se mais clara. Percebe-se a verdadeira natureza do homem como o reflexo de Deus. Reconhece-se a impossibilidade de existir outra fonte, alguma força estranha a interferir no perfeito relacionamento entre Deus e o homem. Defende-se o direito de crer que Deus cura de fato, assim como o ter-se direito à cura.
Porque sabemos que há uma única Mente, o Espírito, não acreditamos que existe uma mente oposta, chamada mente mortal, a sugerir a existência de um oposto ao Espírito, oposto chamado matéria. Sabendo que há uma única Alma imortal, a fonte da imortalidade, não acreditamos haver, em realidade, uma força oposta chamada pecado ou mortalidade. Como sabemos que existe um só Princípio legítimo e do qual podemos depender, refutamos a sugestão de existir oposição real a ele, oposição que se chama anarquia, desordem, desgoverno ou desobediência. Sabendo que existe uma só Vida, uma úniaa Verdade, um só Amor, não acreditamos existir morte na Vida, erro na Verdade, variação ou ódio no Amor.
A pretensão de que o magnetismo animal tenha poder é anulada pelo fato divino de que Deus, o bem, é o único poder. O magnetismo animal, não tendo autorização nem poder para agir, só pode propor que aceitemos suas sugestões como se fossem nossos próprios pensamentos. Se nos recusamos a ceder ao mesmerismo de crer que tais pensamentos sejam os nossos próprios, não podemos ser ludibriados e levados a agir segundo eles sugerem.
A natureza do magnetismo animal é sempre maligna. O método — sua maneira de agir — é o de disfarçar-se, mediante sugestão, com a aparência de nossos próprios pensamentos. Precisamos estar especialmente em guarda contra os graus sutis do maligno que operam utilizando-se de propensões mortais. Portanto, é nisto que precisamos acentuar nossa luta contra o magnetismo animal, quer este tome a forma de raiva, preocupação, mágoa ou medo. Mediante a Ciência, nossos olhos abrem-se para ver que estes pensamentos não são os nossos próprios, porque não se relacionam com a única Mente. E precisamos certificar-nos de que não fazemos deles os nossos próprios pensamentos por lhes darmos guarida.
“Por que é tão importante a defesa diária?” poderia alguém indagar. Porque resulta em cura. Curas são marcos que indicam o progresso do Cientista Cristão como indivíduo e o da própria igreja. Estas curas são físicas, muitas vezes, mas nelas também se inclui a correção de dificuldades financeiras e de problemas sociais. Tudo requer regeneração.
Outrem talvez diria: “Por que eu haveria de me preocupar com o progresso da igreja? Será que não posso curar sem que participe da igreja como organização?” Trabalhar para o bem de todos suscita a qualidade essencial de desprendimento que nos torna melhores sanadores e é uma prancha que nos impulsiona para o crescimento espiritual individual contínuo. Aqueles que estão dispostos a participar das atividades da igreja começam a ver surgir a família do homem. Impelem a humanidade a progredir de maneira mais eficaz, porquanto progridem mais sistemática e continuamente eles mesmos.
O crescimento não se dá todo de uma vez. Vem mediante o desenvolvimento natural decorrente de realizar as “obras”. “Segundo as suas obras será julgado — e justificado ou condenado”, é a frase com que a Sra. Eddy conclui o Estatuto “Vigilância quanto ao dever”.
Hoje temos como responsabilidade, para com esta e as gerações futuras, defender nosso próprio pensamento no que diz respeito à igreja. A igreja é tão forte quanto o é a defesa que os membros fazem dela e o seu amor por sua missão. O Estatuto dado pela Sra. Eddy, “Vigilância quanto ao dever”, significa muito mais do que um pedido.
Podemos rejubilar-nos em que, mediante a experiência de igreja, começamos a manifestar nossa verdadeira individualidade. Devemos apreciar não só o que podemos fazer pela igreja, mas o que a igreja faz por nós. Podemos ver que os intentos do mal, no que diz respeito a um ataque à igreja como organização, não se restringem a tirar da igreja a humanidade, mas a tirar da humanidade a igreja.
A Ciência Cristã mostra-nos meios pelos quais podemos proteger nossa igreja, como organização, contra os ataques de fora, ao mesmo tempo em que a fortalecemos de dentro. O fortalecimento decorre de participarmos nas atividades da igreja, enquanto nos fortalecemos individualmente com uma maior compreensão de Deus e do homem como Seu reflexo perfeito. A oração diária desempenha papel central nesse fortalecimento.
Quão grande deve ter sido a alegria de Neemias ao ver completado seu muro protetor à volta de Jerusalém! Ele e todo o povo reconheceram que “por intervenção de nosso Deus é que fizemos esta obra” Neemias 6:16., e isso ficou óbvio aos seus inimigos.
Na análise final, o crescimento da igreja depende do êxito individual na obra de cura. Acaso significaria isto que a igreja como instituição realmente não tem conseqüência? Por certo que tem. Tem grande conseqüência curativa e redentora para todo o mundo, bem como para cada adepto da Ciência Cristã.
Sem o esforço de que é símbolo a obra de Neemias, estamos perdendo a parte mais característica de nosso desenvolvimento espiritual individual. Contudo há mais ainda: uma finalidade que compele, interior, de que cada indivíduo hoje em dia, e nas gerações por vir, possa sentir o ímpeto de nossa construção espiritual e ser inspirado a fazer a sua própria. Pensemos no que as gerações precedentes construíram para nós! Será que não podemos construir para a nossa atual e para as gerações que virão depois de nós?
