Quantas vezes temos de resistir à tentação de agir de modo inferior ao nosso mais elevado sentido do que é correto? Quantas vezes temos de rejeitar as alegações do mal de que este seja real, influente ou atraente? Quantas vezes temos de dizer não ao diabo?
Tantas quantas forem necessárias para ficarmos ao lado de Deus.
Foi a essa resposta que cheguei, após rever mentalmente, pela qüinquagésima ou sexagésima vez, uma ocorrência desagradável. Eu sabia que nada de bom viria de repisar o incidente mas lembrança voltava sempre. Após vários dias miseráveis, resolvi enfrentar essa lembrança com um firme não! Comecei a dizer sim à verdade de que não há ocorrência fora do controle bondoso de Deus. Disse sim à esperança e não ao desespero; sim ao desvelo altruístico, não à crítica inútil; sim à humildade, não ao egotismo. Alinhando dessa maneira meu pensamento com Deus, venci a tentação de ficar remoendo o triste acontecimento. Em dois dias, surgiu uma solução curativa que inverteu completamente a situação.
Essa experiência identificou, para mim, uma das supostas características do mal: redundância ou repetição sem propósito. O mal desejaria que o revisássemos e o repetíssemos continuamente. O mal apreciaria que reafirmássemos regularmente que a vida está confinada à matéria, que o bem está aí só para alguns e que o medo e a doença são realidades das quais não podemos escapar. Quando cooperamos com o mal, como eu estivera fazendo, este pode nos parecer bastante real e terrível. Mas, por meio de uma recusa, espiritualmente fundamentada, a reafirmar e recriar as pretensões do mal, descobrimos invariavelmente que o mal não é real nem terrível.
É claro, nem todos os pensamentos que nos tornam a voltar são necessariamente maus. Há ocasiões em que uma idéia inspirada por Deus continua a bater à porta da consciência humana até ser admitida.
Como podemos, então, distinguir entre uma sugestão espúria do mal e uma idéia persistente dada por Deus? Temos de começar por volver-nos com sinceridade a Deus, a fim de obtermos a visão espiritual necessária para diferençar o que é real daquilo que apenas aparenta ser verdadeiro. À medida que praticamos ouvir a Deus para obter definições práticas daquilo que é verdadeiro, a contrafação se sobressai num contraste gritante.
Tomemos, por exemplo, o jardineiro inexperiente que semeia um canteiro de vegetais. Ao aparecerem as plantas, surgem também várias ervas daninhas. Algumas são facilmente identificáveis, outras, porém, parecem, aos olhos do novato no ofício, exatamente iguais aos vegetais. Para corrigir tal coisa, este procura saber qual é a aparência do vegetal e tira tudo o que for diferente dele. Dentro em pouco, raramente se enganará.
Da mesma maneira, familiarizamo-nos com o que é espiritualmente autêntico por meio de diligente estudo da Bíblia e das obras da Sra. Eddy e por meio da prática diária de distinguir entre as incitações repetitivas, infundadas, do mal e a orientação firme, vivificante, de Deus.
Por meio de contínuo trabalho em oração, reconhecemos que o mal de fato não é capaz de nos confundir, pois Deus é por demais bondoso e inteligente para conferir autoridade, identidade ou realidade ao mal. A verdade de que o mal não tem sequer o direito de sugerir a si mesmo, começa a ser mais persuasiva.
Fazemos bem em perguntar-nos regularmente: “Como é que Deus está me guiando neste momento?” É animador lembrar-nos de que os pensamentos de Deus são inteligíveis, uma vez que Deus é a Mente que está sempre se comunicando; de que Seus pensamentos são reais, já que Deus é Verdade pura; e de que sempre nos beneficiam, uma vez que Deus é Amor. O que Deus está partilhando deveria tornar-se mais importante para nós, a cada dia que passa. Após discernir a mensagem de Deus, temos de obedecê-la lealmente e viver de acordo com ela.
Como criação amada de Deus, somos Seu efeito. Deus nos fez inteligentes, não obtusos; leais, não voluntariosos; firmes, não vulneráveis. A criação de Deus, o homem, é a própria expressão de Sua bondade. Nunca enganado nem confundido, o homem é exatamente o que Deus diz que ele é: imagem harmoniosa.
Na Bíblia, encontramos um registro autêntico da comunicação entre Deus e a humanidade. As Escrituras incluem relatos de indivíduos que resolutos obedeceram às diretrizes inspiradas por Deus, bem como exemplos do que acontecia quando caíam nas armadilhas das agressões do mal.
Neemias foi homem que estava ocupado, seguindo sua missão inspirada por Deus de reconstruir Jerusalém, quando recebeu uma mensagem dos líderes das comunidades vizinhas, pedindo que comparecesse a um encontro para discutir o projeto de construção. Neemias recusou o convite. Percebeu que os motivos e intenções dos líderes eram falsos e potencialmente destrutivos. Os líderes lhe enviaram segundo convite, terceiro, quarto e quinto, mas cada vez Neemias disse não ao encontro sem finalidade e sim à atividade progressiva. Na verdade, Neemias disse não às incitações do mal que queriam desviá-lo de sua missão, e respondeu sim ao trabalho construtivo de Deus. A persistência de Neemias culminou na bem sucedida reconstrução de Jerusalém.
Pôncio Pilatos, por outro lado, pressionado pelas repetidas incitações do mal, sucumbiu. Um estudo atento do capítulo 23 de Lucas mostra que Pilatos decidira, no mínimo por três vezes, não crucificar Cristo Jesus. Aparentemente Pilatos não capitulou com facilidade frente ao ódio e á injustiça. Mas, quando a sugestão assassina mostrou-se repetidamente e gritou cada vez mais alto, Pilatos cedeu. A insistência do mal destruiu seu apego à justiça.
A comparação entre Neemias e Pilatos mostra que nosso apego ao bem tem de ser firme, não vacilante. Não importa o quanto o mal nos importune, podemos apegar-nos tenazmente ao fato de que Deus cria apenas a harmonia. Percebemos que, se a pretensão do mal está errada na primeira vez em que aparece, também está errada na segunda, na terceira ou na décima vez em que surge. Como a Sra. Eddy salienta: “Resistindo ao mal, tu o superas e provas sua nulidade.” Ciência e Saúde, p. 446.
Na Ciência Cristã, resistir persistentemente é nossa maneira de enfrentar o mal. Nunca temos de aturar o pecado e a doença nem de “negociar” com eles. Quer o mal venha como lembrança obsessiva, doença crônica ou deficiência de caráter longamente aceita, podemos obter a liberdade, respondendo com um inspirado não ao mal, embora tenhamos de fazê-lo inúmeras vezes.
Alinhando-nos lealmente com a verdade de que Deus e Sua criação não podem estar separados, vemos que as pretensões do erro são bem menos críveis. A rejeição direta do mal fica mais fácil e a fazemos com mais confiança. O pensamento centraliza-se tanto em Deus, que o mal é progressivamente silenciado.
Será que o mal pode ser silenciado de uma só vez? Na visão do autor do Apocalipse, um dragão maléfico tenta, várias vezes, conquistar o homem, a idéia inocente de Deus. “O dragão é afinal ferido de morte por sua própria maldade; mas quantos períodos de tortura serão necessários para acabar com todo pecado, dependerá da obstinação do pecado” Ibid., p. 569., explica a Sra. Eddy. (Um dicionário define “obstinação” como: “Embrutecimento contra a influência moral ou do bem; impenitência tenaz.”)
A batalha só é vencida quando percebemos que o dragão e suas pretensões são ilusão carente de poder, derrotada pelo amor de Deus. Nossa função é viver, atentando vigilantemente para os pensamentos de Deus, porque Sua mensagem-Cristo, levada em consideração, remove de nossa vida tudo que o mal pretenderia dizer. A batalha não termina em trégua ou armistício, mas em vitória total. Como João o registra: “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo.” Apoc. 12:9.
Nossa batalha contra o mal pode ser travada com grande alegria e confiança, porque, com Deus, nossa vitória está assegurada. De fato, algumas de nossas vitórias virão instantaneamente. Outras poderão exigir persistência resoluta. Qualquer que seja o caso, podemos marchar adiante, até chegarmos ao auge da visão como a de João, em que todo o mal é destruído.
