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Democracia na igreja

Da edição de agosto de 1983 dO Arauto da Ciência Cristã


Governo democrático é necessidade absoluta para o progresso de qualquer filial da Igreja de Cristo, Cientista. No entanto, muitos Cientistas Cristãos vivem em países com pouca ou nenhuma tradição democrática. Por vezes, a elaboração de procedimentos democráticos pode, então, tornar-se um problema. Muito mais importante, porém, do que os próprios procedimentos é o espírito de democracia que está por trás deles. Sem esse espírito, as mais antigas tradições de democracia podem ser solapadas, e não existe garantia de que até mesmo os melhores estatutos sejam democraticamente executados.

Mary Baker Eddy, Fundadora da Ciência Cristã, não estipulou cláusula alguma admitindo algo menos do que democracia plena na igreja filial. Afirma inequivocamente no Manual de A Igreja Mãe: “Na Ciência Cristã, cada igreja filial será nitidamente democrática na sua forma de governo, e nenhuma pessoa e nenhuma outra igreja deverá interferir nos seus assuntos.” Manual, § 10 do art. 23.

A democracia não é mistério. Basicamente não se trata de nada mais do que colocar em prática a lei bíblica recomendada por Cristo Jesus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:39. Quando percebemos algo da identidade espiritual do homem à imagem e semelhança de Deus, que é Amor divino, somos forçados, por mera questão de honestidade e de amor cristão, a admitir a universalidade desse fato. Todas as pessoas, em sua natureza espiritual individual, são iguais perante Deus. Por ser essa igualdade espiritual a verdade absoluta, estamos dotados de poder agora mesmo, no cenário humano não-tão-perfeito, para aceitar e praticar a igualdade de direitos, oportunidades e tratamento que é o espírito e a essência da democracia.

Na Ciência Cristã, compreendemos que Deus é Mente infinita, consciente e incorpórea. Essa Mente divina expressa-se em idéias espirituais que constituem a identidade real e espiritual de todos os homens. Cada idéia individual tem seu próprio relacionamento com Deus e atende sem errar à orientação da Mente divina. Todas as idéias estão unidas com essa Mente. E, porque essas idéias estão inseparavelmente ligadas a Deus, existem em perfeita harmonia. O relacionamento da idéia com Deus não pode ser usurpado, solapado ou importunado por qualquer outra idéia. Esse relacionamento não obstruído é a herança indestrutível de cada homem, mulher e criança e é a base espiritual da democracia.

Demonstrando nossa unidade individual com Deus como Sua idéia, obedecemos natural e prazenteiramente às leis morais e espirituais constantes do Decálogo, do Sermão do Monte, do início ao fim da Bíblia e dos escritos da Sra. Eddy. Essa obediência abre-nos o caminho para que sejamos continuamente supridos do sentido espiritual — da percepção, inspiração, compreensão e sabedoria necessárias para glorificar Deus. O sentido espiritual é a base de nossa capacidade para tomar decisões corretas e para sentir a orientação e a instrução divinas em todos os aspectos de nossa vida, inclusive na experiência em nossa igreja filial.

Dotados do sentido espiritual discernimos e respeitamos os direitos, a igualdade e a individualidade espirituais de nossos colegas, os membros da igreja (e eles os nossos!) mesmo quando temos opiniões divergentes. Dotados do sentido espiritual podemos discernir com exatidão cada vez maior se alguma proposta ou opinião estão de acordo com a Ciência Cristã, se promovem a espiritualidade ou se dificultam a atividade espiritual. Ou quando, carecendo de uma opção bem definida, podemos tomar a decisão que sob as circunstâncias nos parece ser a melhor possível. Exercitando o sentido espiritual, somos capazes de deixar de lado o pensamento estereotipado, os preconceitos, as inibições, o orgulho e “odiar o mal, amar a retidão. ...” Hinário da Ciência Cristã, n° 69.

Se nossa igreja filial não é um modelo exato e perfeito de democracia em ação, talvez necessitemos captar com maior força as verdades absolutas a respeito do relacionamento inviolável entre o homem e Deus e afirmá-las vigorosa e repetidamente. Não só em palavras, mas em ações. As verdades espirituais precisam tomar forma na própria contextura de nosso pensamento e de nossa vida. Acreditaremos teoricamente, por exemplo, que homens e mulheres são espiritualmente iguais, e, no entanto, preferimos invariavelmente ter um homem em certos cargos de igreja e uma mulher noutros? Será que teoricamente aceitamos a igualdade de todos perante Deus e, no entanto, preferimos invariavelmente os pontos de vista do presidente da diretoria aos de outros membros? Ou os pontos de vista dos membros mais velhos aos dos membros mais jovens, e vice-versa? Será que reconhecemos a direção infalível de Deus e, no entanto, por questão de conveniência, votamos continuamente para manter as coisas como estão? Ou, então, votamos para mudar algo com o mero objetivo de fazer algo diferente?

Nossas afirmações da verdade absoluta precisam tornar nossas ações e nossas respostas mais amáveis e inteligentes, colocando-as mais em linha com a vontade de Deus, caso queiramos que elas sejam realmente eficazes e dignas de fé.

Além de praticar e afirmar as verdades positivas subjacentes à democracia, talvez precisemos negar vigorosamente os argumentos do sentido pessoal — a crença numa identidade e numa vontade pessoal fora da Mente divina. Essa crença haveria de usurpar o relacionamento individual entre Deus e o homem e assim governar erroneamente outras pessoas. Precisamos negar que qualquer pessoa esteja disposta a ceder, a esse sentido pessoal de existência, os direitos que lhe foram outorgados por Deus. Reconhecer que a Mente divina é a única Mente do homem apaga a crença nalguma inteligência oposta, limitada ou má, dominante ou dominada.

As pretensões da teologia escolástica também devem ser negadas com firmeza, particularmente a crença de que o homem é, por natureza, um pecador e precisa ter um mediador pessoal ou institucional entre ele próprio e Deus. A identidade espiritual do homem não pode pecar, porque é para sempre inseparável de Deus. Precisamos conhecer essa verdade com tanta clareza que a unidade do relacionamento entre o homem e Deus torne-se-nos uma realidade. Só isso, em vez de um intermediário pessoal, é que nos salva do pecado. Num dado momento, alguns dos membros, é claro, podem estar demonstrando mais dessa unidade com a Mente divina do que outros, mas nunca podem substituir o relacionamento individual entre outra pessoa e Deus.

Não existe a dualidade leigo/sacerdote numa Igreja de Cristo, Cientista. Espera-se que todo membro, quer seja praticista público ou não, seja Cientista Cristão praticante. Como o diz o livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, a respeito do Princípio divino da Ciência: “Para esse Princípio não há dinastia, não há monopólio eclesiástico. Sua única cabeça coroada é a soberania imortal. Seu único sacerdote é o homem espiritualizado. A Bíblia declara que todos os que crêem são feitos ‘reis e sacerdotes para Deus’.” Ciência e Saúde, p. 141.

A influência sutil da teologia escolástica pode se manifestar na crença de que ser membro da igreja é em si mesmo e de si mesmo garantia de salvação. Novamente, só a compreensão da unidade do homem com Deus pode salvar. Essa compreensão manifesta o Cristo ativo na consciência humana. A instituição humana, igreja, só pode agir como o meio de levar essa compreensão à humanidade.

Um sentido errado de democracia baseado na teologia escolástica argumentaria a favor do afrouxamento das exigências morais e espirituais para filiação na igreja a fim de ampliar os benefícios de uma mal concebida “salvação institucional”. Os que não demonstraram sua unidade com Deus em grau suficiente para atender às exigências de abstinência de bebidas alcoólicas, fumo, drogas e conduta imoral não estão prontos para tirar o máximo de benefícios da filiação na igreja. Poderiam se sentir arrasados ao tentarem atender às exigências espirituais da filiação na igreja antes de estarem prontos para elas. Além de ser metafisicamente duvidoso, seria inevitável que tal norma levasse ao enfraquecimento da espiritualidade nas igrejas e a um maior pendor material e ao conseqüente embotamento do espírito democrático na igreja.

Igualmente enervante é a hipótese de que algum membro ou uns poucos membros estejam numa posição de tomar todas as decisões pela congregação inteira. Essa crença coincide com a definição de “Levi” que consta no livro-texto e que diz em parte: “... negação da plenitude da criação de Deus; despotismo eclesiástico.” Ibid., p. 590. Entreter a crença tipo Levi pode levar a uma redução significativa da plenitude da nossa própria experiência na igreja, à justificação própria, à apatia ou a um falso senso de responsabilidade.

Um dos modos pelos quais a crença de Levi atua é o de fazer considerar a diretoria de uma igreja filial a versão em miniatura ou a representante, no nível local, do Conselho de Diretores da Ciência Cristã. Esse ponto de vista errado empresta à diretoria local uma aura de autoridade que esta simplesmente não possui. Viola o espírito, se não a letra, do Manual de A Igreja Mãe, que define a estrutura da organização desta Igreja e de suas filiais. No Manual, sob o título “A Igreja Mãe é única”, a Sra. Eddy estabelece uma clara distinção entre o governo de A Igreja Mãe e o das igrejas filiais: “Em relação a outras igrejas da Ciência Cristã, A igreja Mãe é única quanto aos seus Estatutos e à sua autonomia; ocupa uma posição que nenhuma outra igreja pode ocupar. Portanto, seria desastroso para a Ciência Cristã, se uma igreja filial assumisse tal posição. Nenhuma Igreja de Cristo, Cientista, conseqüentemente, será considerada fiel, se tiver filiais ou se adotar a forma de governo de A Igreja Mãe, exceto nos casos especialmente permitidos e mencionados neste Manual.” Manual, § 3° do art. 23.

A diretoria da igreja filial sempre presta contas à assembléia de membros que a elegeu. Não deve ser considerada como um painel de pessoas altamente abalizadas ou uma elite espiritual, possuidores de aptidões e visão negadas aos membros em geral. Sua função primordial é a de executar a vontade da assembléia de membros, e não a de tomar decisões arbitrárias.

Se estivermos ocupados em demonstrar a “plenitude da criação de Deus” reconhecendo a inviolabilidade da unidade de cada membro com Deus, temos uma base sólida para negar o sentido pessoal e a teologia escolástica. Ao se fazer sentir o nosso próprio amor e o nosso próprio respeito pela individualidade de cada um de nossos colegas, os membros, as sugestões de incompetência e frieza se desfazem. Seremos menos influenciados por quem apresenta uma proposta do que pelos méritos daquilo que foi proposto na assembléia. Estaremos menos conscientes do “cargo” e menos hesitantes em servir como recepcionista ou plantonista da Sala de Leitura depois de termos sido Primeiro Leitor. Saberemos que no espírito de servir com altruísmo que levamos para a atividade da igreja há um índice muito mais digno de confiança acerca de nosso progresso espiritual do que no grau de importância atribuído a algum cargo. Como diz a Bíblia: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.” Tito 3:5.

A atmosfera de camaradagem que predomina entre os membros que praticam a verdadeira democracia faz assembléias mais harmoniosas e fortalece o sentimento de que todos os membros são necessários, queridos e respeitados. Permite que as riquezas de Cristo floresçam em toda a sua diversidade.

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