De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí.
(Jeremias 31:3.)
A despeito de sua aparente renitência, um problema de dor, luxúria, rivalidade ou pesar não pode sobreviver ao amor perene de Deus, a Vida eterna, pois o amor de Deus transcende a obra do tempo. A Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss) declara, nas palavras de sua Descobridora e Fundadora, Mary Baker Eddy: “O que exprime a idéia de Vida é a eternidade, não o tempo, e o tempo não faz parte da eternidade. Um cessa na proporção em que o outro é reconhecido.” Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 468.
Não é o tempo que pode curar todo tipo de feridas. É inútil esperar que o tempo cure os próprios males que esse erro perpetuaria. Seja qual for o bem que um mortal espera encontrar no além-túmulo, tal bem pode ser descoberto e usufruído antes do túmulo. A ninguém é permitido deixar de revestir-se do novo homem, feito à imagem imortal de Deus.
Marcar o tempo enterra-nos mais fundo na crença em matéria e no medo à ela, cujos conseqüentes são doença, pecado e morte. Jesus ressurgiu do túmulo por subordinar o tempo. A Sra. Eddy define a sublime ressurreição de nosso Mestre da seguinte forma: “Seu trabalho de três dias no sepulcro imprimiu o selo da eternidade ao tempo. Ele provou que a Vida é imorredoura e que o Amor é senhor do ódio.”Ibid., p. 44.
O amor de Deus é instantâneo
O amor perene de Deus é espontâneo. O tique-taque de um relógio não pode atrasar o aparecimento de Seu amor, nem pode verificar a vinda imediata da luz divina. Ao entrarmos num quarto escuro e acendermos a luz, a escuridão não recede palmo a palmo, repelindo a luz que resiste desesperadamente em um canto qualquer. A emissão da luz e a submissão das trevas são ocorrências simultâneas e instantâneas. A natureza predeterminada da luz e das trevas — sendo uma algo e a outra nada — estabelecem de antemão o resultado. O mesmo se dá com o hipotético conflito entre a Verdade e o erro,a inteligência e a ignorância.
Um engano qualquer, creia-se nele por um minuto ou por um ano, continua sempre um engano. Não passa gradualmente a ser menos falso. Como simples ilustração, digamos que por cinco minutos, ou cinco dias, meses ou anos, você acreditou que as ilhas Aleutas ficassem na costa da Austrália (e não na do Alasca). É claro que o erro na sua geografia não iria poder, de forma alguma, mudar as ilhas de seu lugar (ainda que pudesse atrapalhar seus planos de viagem!).
Ora, pergunto: Seria necessário um período equivalente de tempo — cinco minutos, dias, meses ou anos — para desfazer seu erro? Claro que não. Qualquer fato, uma vez conhecido e utilizado, desfaz todo erro contrário imediatamente. Aplique-se esta lógica à prática da me tafísica cristã e descobrir-se-á a lei divina de cura e salvação.
A regra libertadora apontada por Cristo Jesus é: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” João 8:32. Quando nosso Mestre curou instantaneamente um homem que, devido aos efeitos do pecado, havia sofrido de uma enfermidade por trinta e oito anos, não houve necessidade de trinta e oito anos de compensação: um ano de correção para cada ano de crença errônea. A noção de que cura e redenção exijam um equivalente arbitrário de tempo — um minuto adicional de sofrimento por um minuto inicial de erro — opõe-se à lei do amor transcendente de Deus e favorece um código bárbaro e falso de retribuição tipo “olho por olho, dente por dente” Mateus 5:38.. Sofrer por algum erro além do ponto de ter-se corrigido esse erro não recebe a sanção da lei divina do perdão. Esta só castiga o pecado enquanto este perdurar. A obsessão com um prolongado sentimento de culpa por causa de erros do passado, agora corrigidos, perde-se no fulgor de uma consciência reformada pelo Cristo.
É bem verdade que poucas orações, desde aquelas de Jesus, chegaram às soluções instantâneas obtidas pelo Mestre. Mas esta declaração, feita com toda honestidade e humildade, não é uma admissão de fracasso divino nem motivo de desânimo. Ainda que uma cura não seja instantânea, deixa de dar prova do amor perene de Deus. O Cristo eterno, a Verdade, sustenta toda cura cristã cientifica, quer a cura seja percebida de forma gradual ou imediata. Em ambos os casos, o metafísico parte de uma única premissa cristã: a de que este momento de oração, dando testemunho da constante disponibilidade do Amor para curar todos os males, pode ser o momento da cura instantânea.
Preocupar-se com o tempo que decorrerá até que se conheça a verdade, passa de largo a questão metafísica: o bem que se desdobra em nossas orações não pode ser medido. Sempre que estamos conscientes da verdade espiritual, este conhecimento existe fora e à parte da crença no tempo; manifesta algo de nossa natureza imortal como a expressão, ou ideia, da Mente que tudo sabe, a Verdade divina. A oração na Ciência Cristã traz à luz a lei eterna. A beleza do Amor perpétuo está em que a verdade espiritual é tão demonstrável no mundo de sonhos do tempo, quanto o é no reino consciente da eternidade. Quando nos inunda o amor de Deus e carrega embora a crença na validade do erro, o que na realidade é espontaneamente verdadeiro revela-se em cura instantânea.
O amor de Deus é imortal
O amor constante de Deus — infinito e espontâneo — também não tem idade. Como o receptáculo da eterna benignidade de nosso Pai-Mãe, o homem nunca envelhece. A inocência do homem não é o resultado da imaturidade, nem resvala sua sabedoria para a senilidade. Sue vida de filho da Vida divina é imortal.
A única maneira de vencer o último inimigo, chamado morte, e de provar a imortalidade do homem, está em desfazer a primeira mentira, chamada nascimento material. Esse processo de “desnascer” constitui um renascimento espiritual. Tal como Nicodemos, talvez pensemos que seja impossível nascer de novo. Mas nunca é tarde para retificar os erros ligados ao passado. De fato, tal retificaçāo é exigência divina. Lemos em Eclesiastes: “Deus fará renovar-se o que se passou.” Ecles. 3:15. E o Apóstolo Paulo nos explica para que fim: “para que o mortal seja absorvido pela vida.” 2 Cor. 5:4.
Mas como é que isso pode se dar? Quem dentre nós está pronto para rejeitar a vida mortal — com sua acumulação do passado ao presente — de um única golpe? Nem mesmo nosso Modelo pôde deixar de beber o cálice da auto-imolação. Ele passou toda a sua vida preparando-se para o ato do Calvário, em que desafiou a morte, e para a subseqüente demonstração de vida na ressurreição e ascensão. De fato, Jesus tragou a mortalidade ao beber cada gota de seu cálice terreno.
Só na medida em que bebemos do cálice de Jesus — quando consumimos cada representação mortal que aparece em nossa vida — é que podemos esperar seguir nosso Mestre e, finalmente, tragar a mortalidade na vida imortal. Nenhuma fase da matéria, inclusive as alegações cumulativas de velhice e morte, pode escapar de ser inevitavelmente consumida pela Vida eterna.
O que envelhece a humanidade não é o passar dos anos, mas a repetição dos erros. Contestando, de forma consistente, os argumentos populares acerca de influências pré-natais nocivas, hereditariedade, acidentes, condicionamento ambiental e outros temores enraizados no passado — e baseando as ações em verdades tão eternas e fixas como as da atual perfeição, pureza, saúde e imortalidade do homem — podemos desfazer os maus efeitos dos anos que passaram. Este momento de agora da realidade divina não tem ligação com um passado lastimoso, um presente infeliz ou um futuro temido.
Com remover de nosso amor o elemento temporal, a Ciência Cristã refuta a alegação dos mortais de que o amor possa terminar em tristeza. A morte nos confronta com a crença de que o amor possa estar perdido e o pesar perpetua essa mentira. Ora, isso é impossível. O Amor é eterno. O amor genuíno que sentimos por nossa família e amigos, e o amor que estes têm por nós, emana do criador de todo o bem, do próprio Deus, e partilha de Sua natureza eterna.
Embora o pesar exiba-se como memória do passado, demonstra ele a ignorância do bem presente. O pesar enterra o bem que uma pessoa faz junto com o corpo e depois erige uma lápide para homenagear a ambos como se fossem um. O mal é honrado de modo semelhante. Na verdade, a mente humana geralmente se recorda de tragédias e fatalidades. A maioria das pessoas logo se lembra do dia em que Pearl Harbor foi bombardeado ou dos detalhes do assassinato de um presidente, mas por que não é tão rápida em lembrar, de forma igualmente vívida, algo de bom que tenha ocorrido em sua vida no mesmo dia em que se deram esses trágicos acontecimentos? Não seria porque o mal alega impresionar mais do que o bem? Já não fomos tentados, vez ou outra, a reviver mentalmente um mau dia — um acidente, uma discussão, uma perda? E se persistirmos bastante em recordar um mal, acabamos comemorando seu aniversário: o dia da morte de alguém, o início de uma doença prolongada, a vez em que Fulano disse isso e aquilo ao Beltrano.
No entanto, o pesar é uma paródia da memória genuína, que é imortal. É tão impossível, no universo eterno do Amor, conhecer o mal ou lembrar-se dele, como é esquecer-se do bem. A ressurreição de transgressões mentais exige memória correta. Pensamentos tristes são tão inaceitáveis a Deus quanto pensamentos maus.
Chorar, sofrer, apegar-se ao passado, falsificam a memória genuína, a qual, vista espiritualmente, pode representar nosso contínuo amor por outra pessoa. A Sra. Eddy dirige-nos de maneira correta quando fala na “memória, fiel ao bem” Pulpit and Press, p. 5.. Esse tipo de memória “fiel ao bem” é o único que vale a pena ter! É o único que nos habilita a perceber o ser imortal. A metafísica científica define o bem que associamos ao passado como o fato presente e eterno da criação espiritual. O bem de outrem não cessa apenas porque uma visão indistinta da existência perde de vista a representação de uma idéia imortal. O sentido espiritual, num ato de verdadeira memória, relembra toda expressão do bem, não em retrospecto, mas em perpetuidade.
No monte da transfiguração, Jesus demonstrou que tudo quanto faz parte da criação de Deus é imediato. No fulgor do estado de pensamento espiritualmente transfigurado de nosso Mestre, Moisés, Elias e Jesus — cada um representando, para o sentido humano, um século diferente — encontravam-se igualmente presentes e perceptíveis a Pedro, Tiago e João. O fato de que um evento como aquele não se repita hoje, não torna a lição de imortalidade menos exata. Quando do falecimento de um de seus alunos, a Sra. Eddy escreveu que ele “está aqui agora tão verdadeiramente quanto estava ao visitar-me há um ano. Se despertássemos para esse reconhecimento, vê-lo-íamos aqui e perceberíamos que nunca faleceu; demonstrando assim a verdade fundamental da Ciência Cristã” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 297..
À luz dessa “verdade fundamental”, o objetivo primordial de um Cientista Cristão não é erigir lembranças de seu amor pelo bem de outrem, mas demonstrar a eternidade do amor genuíno e do valor individual. A casa de nosso Pai divino não é um mausoléu. “Se Cristo, a Verdade, veio a nós em demonstração,” explica a Sra. Eddy, “nenhuma outra comemoração é necessária, pois a demonstração é Emanuel, ou Deus conosco; e se um amigo está conosco, por que, então, precisamos das recordações desse amigo?” Ciência e Saúde, p. 34.
O único caminho que nos leva à ressurreição de um passado infeliz é a avenida do Amor imortal. Por nenhuma outra vereda podemos entrar no céu, sentir o amor eterno de nosso Pai-Mãe Deus e encontrar a vida repleta do bem, que vale a pena viver aqui e agora.b
