Um pastor luterano, ao fazer um discurso de formatura, salientou que era hora de cada um de nós aceitar nossa verdadeira identidade como filho de Deus. Disse que bastava de ouvir sermões sobre “fogo e enxofre”.
Durante um almoço com um pastor batista, conversamos vivamente sobre a importância que tinha a religião para cada um de nós. Concordamos que era importante orar diariamente por nossas famílias.
Li nos jornais dois relatos de curas maravilhosas, pela oração, de graves doenças. Uma foi a cura de câncer dum sacerdote episcopal.
A caminho duma reunião do “United Campus”, em companhia de uma freira católica, concordamos que a grande necessidade de hoje em dia é preencher o vazio espiritual na vida das pessoas.
Um ministro metodista contou-me o quanto estava gostando de ler Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy (o livro-texto da Ciência Cristã) e como o livro o estava ajudando.
Esse foram incidentes isolados e aconteceram em épocas diferentes, num período de vários anos. Pensando neles, porém, vi um elo comum que os ligava: Deus estava a revelar o bem a todos nós.
Ninguém tem o monopólio de Deus ou de Sua bondade. Deus fala a todos, transmitindo só o bem e, assim, todos podemo-nos valer de Deus para obter dEle ajuda, conforto, iluminação espiritual e cura.
A Ciência Cristã ensina que, à medida que aprendemos a valorizar o bem na vida dos demais e a perceber que esse bem tem sua origem em Deus, que é todo o bem, obedecemos, em certo grau, à exortação de nosso Mestre, Cristo Jesus, “que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” João 15:12.. Esse bem que podemos aprender a ver expressado em outros, é o elo que pode ligar-nos a todos com amor e compreensão.
Jesus amava a todos de modo imparcial e igual. É certo que era mais severo para com alguns do que para com outros, mas o que quer que dissesse e fizesse tinha sempre o propósito de despertar o pensamento das pessoas a um maior discernimento espiritual, ajudá-las a ver o bem que Deus cria. Jesus as ajudava a crescer espiritualmente. E, como sabemos muito bem, para termos crescimento espiritual às vezes precisamos de um empurrão ou dois, ou três ou quatro.
Ora, Jesus disse: “Não julgueis segundo a aparência, e, sim, pela reta justiça.” João 7:24. Não nos poderemos ater a isso se nos apegarmos a crenças ignorantes, divisórias, malévolas ou enganadoras sobre quem quer que seja. Teremos de concentrar-nos em amar como Jesus amava, ver cada pessoa como Deus a criou: amada, sempre unida ao Pai.
Quando o fazemos, descobrimos que conseguimos respeitar o bem visto na vida dos demais, especialmente o amor a Deus. Afinal, o bem, por ter sua origem em Deus, merece apreço e reconhecimento, não desprezo e desconsideração. A Sra. Eddy o diz de modo bem simples e franco: “Eu não discutiria com uma pessoa por causa de sua religião, assim como não o faria por causa de sua arte.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 270.
À medida que vemos o homem como Deus o vê — perfeito, santo e abençoado — vai-se abrindo para nós a porta da comunicação com maior número de pessoas de outras religiões. Isso não significa termos de aceitar as crenças religiosas de outrem, nem termos de diminuir as nossas ou transigir com elas. Mas podemos tornar-nos mais tolerantes e respeitar mais as outras pessoas.
Tive a oportunidade, certa vez, de falar sobre rituais de igreja com um clérigo meu conhecido. Foi ele quem trouxe o assunto à baila. Então, expliquei-lhe o que significam, por exemplo, comunhão e batismo para o Cientista Cristão. Disse-lhe que para nós são experiências religiosas que se dão a cada momento, são a humilde atenção à palavra de Deus, a purificação de pensamentos e de ações, o empenho em seguir o Mestre. Notei que ele pensava sobre isso e tentava compreender a situação do ponto de vista do Cientista Cristão. E, ao falar com ele, vislumbrei, pela primeira vez, o que significam para tanta gente os rituais. Estávamos partilhando idéias, não discutindo. E vai nisso uma grande, uma enorme, diferença. Estávamos abrindo portas de comunicação.
E o que acontece, então, quando de fato desejamos amar-nos uns aos outros e para tanto oramos com grande sinceridade? O Cristo entra na consciência. O Cristo, sendo de Deus, transmite a única compreensão verdadeira de Deus. E o Cristo está sempre se anunciando à consciência humana. Sentimo-lo cada vez mais em nossa vida diária, na proporção em que ficamos mais iluminados espiritualmente.
O que nos está dizendo o Cristo? Fala na bondade que Deus está sempre revelando a todos nós, o elo comum que mencionei antes. E, de que consiste esse bem? Da verdade acerca da identidade real do homem. Por exemplo, diz-nos que o homem é espiritual, cheio de amor e justiça, sabedoria e discernimento espiritual. É sempre completo e sadio, livre de qualquer discórdia, doença e engano. Esse homem — espiritual e imortal — é o ser real de cada um de nós. Tal homem é criado exclusivamente por Deus, o Espírito, “o grande arquiteto” A Sra. Eddy nos diz em Ciência e Saúde: “Algum dia compreenderemos como o Espírito, o grande arquiteto, criou homens e mulheres na Ciência. Devemos enfadar-nos do fugidio e do falso, e não acalentar nada que cause empecilho à nossa mais elevada noção do eu.” Ciência e Saúde, p. 68.
Hoje em dia, um número cada vez maior de pessoas, adeptas ou não de alguma religião, estão se enfadando “do fugidio e do falso”. Quer o reconheçam quer não, esse enfado é, muitas vezes, o primeiro passo para uma compreensão mais profunda do Cristo.
O Cristo sempre esteve conosco e sempre estará. Jesus ensinou e viveu o Cristo, revelando a verdade do ser: que o homem é a expressão imortal e perfeita de Deus. O Cristo apresenta a união do homem com o Pai, suprindo, hoje como no passado, toda força e conhecimento espiritual de que precisamos para enfrentar e vencer quaisquer desafios ou limitações humanas.
Paulo, um dos mais fervorosos seguidores de Jesus, com sabedoria viu que “tudo posso naquele [em Cristo] que me fortalece” Filip. 4:13.. Quando nós, em nossos pensamentos e contatos com outrem, nos atemos só ao Cristo, quando amamos nos demais só o seu eu real, fazemos o que nos cabe em receber o Cristo na consciência humana. O que isso requer de nós?
Bem, requer que, entre outras coisas, permaneçamos firmes, pela oração, em saber o que é o homem de Deus, o homem do Espírito, o homem da Verdade, nosso ser genuíno. Temos de recusar-nos a reconhecer qualquer qualidade dessemelhante de Deus, como teimosia ou materialismo, como fazendo parte de alguém. Temos de encorajar e acalentar o bem onde quer que o vejamos ou dele ouçamos. Temos de ser compassivos com as pessoas, não ter preconceitos. Temos de amar o próximo como Jesus amou. Temos de interessar-nos pelos demais e estender-lhes a mão, não com afogá-los num mar de palavras, mas com maneiras que possam entender e aceitar.
A Sra. Eddy certamente exemplificou-o em sua vida. Em seus últimos anos, por exemplo, ainda que ocupada em estabelecer firmemente sua Igreja, permanecia sempre atenta e pronta a ajudar o próximo quando se apresentava a oportunidade. Doou, por exemplo, sapatos a grande número de crianças pobres e contribuiu generosamente para o melhoramento das ruas de sua cidade, Concord, no Estado de New Hampshire, E.U.A. Ver Lyman P. Powell, Mary Baker Eddy: A Life Size Portrait (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1950), p. 213. Contribuiu financeiramente para um orfanato, uma sociedade de prevenção à crueldade contra crianças, as vítimas dum terremoto na Sicília e para outras religiões passando por dificuldades. Ver Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Authority (Nova Iorque: Holt, Rinehart and Winston, 1977), p. 468.
Mas a Sra. Eddy deu muito mais à humanidade. Percebeu a que Jesus se referia quando nos prometeu o Consolador. Ver João 16:7–15. Compreendeu que o Consolador é a Ciência Divina, a revelação de Deus e Sua verdade salvadora a esta época. E com compreendê-lo de modo tão claro, suas obras de caridade tinham alcance mais amplo.
Numa ocasião, por exemplo, um jovem pastor metodista visitou-a com a finalidade de falar sobre uma doação que ela fizera à igreja dele, para reformas necessárias. Durante a conversa, a Sra. Eddy perguntou por que ele usava óculos. Sem óculos ele não enxergava nada.
Ao voltar para casa, porém, descobriu que não conseguia ler com os óculos. Nunca mais precisou usá-los. Cinqüenta anos depois, a esposa relatou que a visão do marido permanecera perfeita desde aquele dia, por toda a vida dele. Ver Peel, p. 469.
Não foi essa cura um exemplo do efeito de amarmos como o Mestre nos instruiu a amar? De não acalentarmos outra senão a identidade genuína do homem? Ver o homem só como Deus o fez — imortal, perfeito, completo e sadio — é de fato confortar a humanidade dum modo profundamente cristão.
A Sra. Eddy nos diz em Ciência e Saúde: “Milhões de mentalidades sem preconceitos — que com simplicidade procuram a Verdade, viandantes fatigados, sedentos no deserto — aguardam, atentos, o repouso e o refrigério. Dá-lhes um copo de água fresca em nome de Cristo, e nunca receies as conseqüências.” A seguir, no mesmo parágrafo, continua: “Aqueles que estão preparados para a bênção que concedes, darão graças. As águas serão aquietadas, e o Cristo terá autoridade sobre as ondas.” Ciência e Saúde, p. 570.
Quando deixamos o Cristo ter “autoridade sobre as ondas” em nossos contatos com os demais, quando vemos que a Ciência Divina é o Consolador prometido, temos melhores oportunidades de partilhar idéias, de curar e de amar como Jesus e seus primeiros seguidores o fizeram. E, na proporção em que perseverarmos nisso, como Jesus esperava que fizéssemos (ver João 14:12), perceberemos cada vez maiores evidências desse elo comum — Deus a revelar o bem, e só o bem, a todos nós — ligando toda a nossa vida, inclusive o nosso mundo.
 
    
