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Alguns pensamentos às margens do mar da Galiléia

Da edição de fevereiro de 1985 dO Arauto da Ciência Cristã


Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: ... amas-me mais do que estes outros? ... Apascenta os meus cordeiros. ... Pela segunda vez: ... Pela terceira vez: ... tu me amas? ... Apascenta as minhas ovelhas.

João 21:15–17

Amanhecia às margens do mar da Galiléia. Contra a tênue luz da aurora, via-se a silhueta dos barcos carregados com a pesca noturna dirigindo-se silenciosamente para Tiberíades. Na margem ocidental do mar, reunidos à volta da fogueira em cujas brasas se assavam pão sírio e peixes de S. Pedro, ouvíamos um amigo ler trechos do vigésimo primeiro capítulo do Evangelho de João.

Que momento de inspiração! Uma oportunidade de recordar e reviver individualmente o acontecimento inesquecível do Jesus ressurrecto que, em pé nesta mesma praia, tendo preparado a refeição matinal, chamou seus discípulos, cuja pesca durante a noite toda havia sido em vão.

Ninguém se manifestou quando foram proferidas as últimas palavras: “Apascenta as minhas ovelhas.” A interpretação daquele momentoso acontecimento bíblico foi deixada à inspiração individual de cada um dos presentes. Com o imenso desejo de preservar aquele instante e de acalentar plenamente o significado e a compreensão espiritual que continha, nosso pequeno grupo começou a dispersar-se silenciosamente.

Absorta em pensamentos, eu caminhava a sós ao longo da praia e os anos que separavam os dois acontecimentos pareciam se desvanecer, restando apenas a pergunta que agora me era feita, assim como o fora a Pedro: “Tu me amas?”

Na mesma intensidade com que Pedro talvez a tivesse sentido, a pergunta apresentava-me, de modo claro, o ditame indelevelmente escrito em cada coração: o desejo de conhecer a Deus, de amá-Lo e de amar o Seu Cristo. Este desejo se intensifica cada vez mais enquanto o estudo de Ciência Cristã revela a possibilidade de nos tornarmos hoje discípulos do Cristo.

Quando o coração anseia compreender definitivamente o que significa esta relevante pergunta: “Tu me amas?” vem-nos à lembrança que as idéias espirituais transmitidas pelos acontecimentos bíblicos aproximam os séculos, são infinitas em seu alcance e eternas em sua aplicação.

Não conteria a mensagem do Mestre algo de essencialmente espiritual, que precisa ser compreendido espiritualmente e aplicado humanamente? Ao estudarmos os evangelhos, constataremos ser esta a forma que Jesus usou para ensinar: traduzia idéias espirituais em termos compreensíveis humanamente, elevando, muitas vezes, o significado de palavras bem além de seu uso comum.

A carreira terrena do Mestre ilustrou sua natureza crística. Exemplificou o domínio, que Deus deu ao homem, a que se refere o capítulo inicial da Bíblia, tal como o domínio de Jesus sobre as condições do tempo (ao acalmar a tempestade), domínio sobre a carência (ao alimentar cinco mil pessoas), domínio sobre a doença (inúmeras curas), domínio sobre a morte (ao ressuscitar Lázaro).

A pergunta de Jesus: “Tu me amas?” não estaria se referindo ao Cristo, a Verdade, que traz à luz o único homem real, o filho de Deus?

Naquele momento, talvez pisando o mesmo solo pisado por Pedro, eu escutava o urgente apelo do Mestre com percepção espiritual bem mais ampla, jamais obtida anteriormente, e conseguia uma compreensão mais clara do “me” ao qual me competia amar.

O que significa, realmente o que significa, amar? Cada vez que Pedro respondeu afirmativamente à indagação do Mestre: “Tu me amas?” Jesus acrescentou: “Apascenta os meus cordeiros” ou “apascenta as minhas ovelhas”. Amar, portanto, deve estar, de alguma forma, irrevogavelmente ligado a apascentar as ovelhas e, como conseqüência, a todo o profundo significado do que constitui ser discípulo.

Ah! que desejo — que compassivo anelo de ser discípulo de Jesus no século vinte — de apascentar suas ovelhas! Interpretei a pergunta de Jesus como uma ordem: Reconhecer a natureza crística do homem, a ponto de perceber minha própria identidade nessa luz. Amar e viver esse conceito de homem “mais do que estes outros”, mais do que todas as aparências exteriores do homem como um mortal pecador, sujeito à doença e destinado a morrer.

Neste caso não estaria implícito que reconhecer a individualidade espiritual do homem é concomitante com o ato de apascentar as ovelhas? Não podemos apascentar as ovelhas sem a convicção, a inabalável compreensão, da individualidade espiritual. O reconhecimento da individualidade espiritual apascenta o “cordeiro”, seja ele quem for (quer sejamos nós mesmos, quer outrem), com o amor do Cristo. O resultado desse abnegado amor cristão é sempre regeneração e cura.

Simultaneamente com o rápido aumento da luz do dia, despontou em minha consciência mais clara compreensão da carreira do discípulo. Eu havia percebido que a verdade sobre a individualidade espiritual do homem fornece a base para o trabalho do discípulo. A lição, porém, não ficaria ali. Eu diminuíra os passos até parar completamente à beira da praia. Voltei o olhar para a água e detive-me a observar o mar, em direção ao leste. O sol, que anteriormente estivera escondido atrás das montanhas de Gadara, havia emergido.

A radiante bola alaranjada despontava e um brilhante facho de luz refletia-se diretamente do mar até onde eu me achava parada. Ainda sentindo o arrebatamento da inspiração pura, esqueci-me por alguns momentos do fenômeno da luz refletida na água, luz que chegava até quem observasse a cena e pensei, ao invés, naquele brilhante facho como num símbolo do verdadeiro relacionamento entre Deus e o homem — a indissolúvel ligação do homem com seu criador.

Naquele instante ocorreu-me com nitidez o conceito crístico acerca do homem, revelado por Mary Baker Eddy: “O homem não é Deus, mas tal como um raio de luz que procede do sol, o homem, a emanação de Deus, reflete Deus.”Ciência e Saúde, p. 250. “Assim como uma gota dágua é uma com o oceano, um raio de luz um com o sol, do mesmo modo Deus e o homem, o Pai e o filho, são um no ser.”Ibid., p. 361. “O homem é a expressão do ser de Deus.”Ibid., p. 470.

Com a alegria que inevitavelmente acompanha o despertar espiritual, eu queria partilhar aquele momento com alguém. Chamei meu esposo. Quando ele estava se aproximando, disse-lhe: “Há um facho de luz que vem direto até onde estou.”

Ele respondeu: “Não, vem em minha direção.”

Ao nos aproximarmos, porém, logo descobrimos que não se tratava de dois fachos diferentes, mas da emanação da mesma fonte de luz, vista de ângulos diferentes, pois, quando caminhávamos em direções opostas, cada qual via um só facho de luz. Que lição inesquecível e objetiva sobre companheirismo!

Por vezes, o anseio de companheirismo ou a impressão de que é somente pelo companheirismo de alguém que encontramos a própria identidade, tentam convencer-nos a procurá-lo ou a orar para ter o que pensamos estar-nos faltando.

Quando nos lembramos, porém, da ilustração dos raios de luz no mar da Galiléia, naquela inesquecível manhã, o pensamento se eleva e percebe que o companheirismo verdadeiro é apenas como comungar juntos na alegria e na luz da única Mente. Em tal companheirismo há a consciente compreensão de que não estamos obtendo nossa “luz” (alegria, segurança, suprimento) de outra pessoa, nem, em realidade, fornecendo “luz” a outrem. Individualmente estamos deixando que brilhe a nossa luz, como Jesus ensinou. Ver Mateus 5:16. Então, “brilhamos” lado a lado. Nossa luz, no entanto, provém da mesma fonte.

O companheirismo que verdadeiramente satisfaz e pelo qual o coração humano anseia, resulta natural e inevitavelmente de amarmos o “me” que Jesus exigia amássemos — o Cristo que revela o filho gerado pelo Pai. Esse amor que reconhece e respeita em cada um a individualidade espiritual conferida por Deus, quando se expressa humanamente, vem a ser discipulado genuíno e contribui proporcionalmente para a qualidade de nossos relacionamentos. Esse amor “apascenta as ovelhas”.

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