Há uma história no Antigo Testamento eivada de desafios ao espírito humano. No entanto, ela é, ao mesmo tempo, uma história cheia de lições de devoção inabalável, de amor paciente, de triunfo na adversidade.
O livro de Jó fala nos sofrimentos físicos que Jó enfrenta após perder quase tudo o que lhe é precioso. No entanto, ele permanece leal em seu amor a Deus; e, à conclusão do relato bíblico de sua experiência, ficamos sabendo que a saúde de Jó foi restaurada, sua vida renovada. A Bíblia oferece o seguinte comentário esclarecedor: “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra.” Jó 42:10.
Talvez esse versículo do Antigo Testamento contenha lição valiosa para muitas pessoas necessitadas de cura, as quais ainda não conseguiram se libertar do sofrimento. Será que a experiência de Jó não revela uma exigência fundamental à cura espiritual: fazer o possível para afastar de nossas próprias preocupações o pensamento, e voltarmo-nos para Deus, orando de uma maneira tão altruística que abençoe toda a humanidade?
Em orar por nossos amigos, orar pela humanidade, por certo estaria a revelar-se uma humildade profunda, um crescente espírito de amor e compaixão, um altruísmo genuíno. Também haveria de indicar o reconhecimento mais amplo do poder universal de Deus, da aplicabilidade da Sua lei. Não resta dúvida, esses elementos todos cooperariam para que nos tornássemos mais receptivos à ininterrupta graça divina sanadora.
Deus verte sobre nós continuamente o bálsamo curativo de Seu amor. No entanto, talvez seja necessário prepararmos o coração para recebê-lo. Orar em favor da humanidade é por certo uma força em prol do bem no mundo. E, quando nosso motivo é puro, quando verdadeiramente desejamos abençoar os outros e dar glória a Deus — a atividade de orar pela humanidade serve também para preparar o nosso próprio coração a fim de receber a cura.
Em todo o seu ministério, Cristo Jesus dedicou-se a altruística solicitude pelos outros. Jesus vivia o que ensinava, e jamais foi superado o registro das curas que ele realizou. Jesus disse aos seus discípulos que eles seriam conhecidos como seus seguidores em razão do amor crístico recíproco que tivessem. Lavou-lhes os pés, e com isso ensinou uma lição profunda de humildade e amor altruístico. E certa vez disse: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.” João 15:13.
Com Jesus, essas não eram palavras ocas. Ele demonstrou o amor que tinha, ao fazer justamente o que dizia. Entregou literalmente sua vida por amor de seus amigos. E, não teriam a sua solicitude altruística pelos outros e a sua oração por eles, o seu inabalável devotamento a levar à salvação a humanidade, sido essenciais à cura mais profunda em sua própria experiência? Jesus foi crucificado. E, no entanto, venceu a morte. Ressuscitou, e ascendeu. Certamente, maior amor que o de Jesus nenhum outro homem teve. E certamente não há poder curativo maior que o do amor crístico expressado por Jesus.
A Ciência Cristã ensina que Deus é Amor imparcial, infinito. O Amor divino é onipotente. Tem o poder de dividir o mar, fazer jorrar água da rocha no deserto, acalmar a assoladora tempestade, curar todo tipo de doenças, ressuscitar mortos. A Bíblia revela que o poder de Deus concretizou todas essas coisas.
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, acha-se escrita muita coisa a respeito do poder curativo do Amor divino e de como valermo-nos desse poder. Claro está que um requisito importante é o de deixar de pensar em matéria e corporalidade como realidades substanciais (quer dolorosas quer aprazíveis), e perceber a realidade espiritual do reino de Deus. Deus é Amor, é Espírito sempre presente, e o homem é a expressão do Amor, inteiramente espiritual, puro, completo.
O livro-texto faz uma observação importante a respeito das conseqüências limitadoras de um modo de pensar que se atém ao estado do corpo, e a respeito da liberdade que se obtém, quando se inverte esse modo de pensar centrado no eu. Ciência e Saúde declara: “Se procuramos no corpo o prazer, achamos a dor; se a Vida, achamos a morte; se a Verdade, achamos o erro; se o Espírito, achamos seu oposto, a matéria. Agora inverte esse processo. Desvia o olhar do corpo para a Verdade e o Amor, o Princípio de toda felicidade, harmonia e imortalidade. Mantém o pensamento firme nas coisas duradouras, boas e verdadeiras e farás com que elas se concretizem na tua vida, na proporção em que ocuparem teus pensamentos.”
Três parágrafos mais adiante, em Ciência e Saúde, encontra-se uma frase que talvez ofereça um paralelo à solução do ordálio de Jó. O livro-texto declara: “Deveríamos esquecer nossos corpos, ao lembrar-nos do bem e da raça humana.” Ciência e Saúde, pp. 260—261.
A algumas pessoas, poderá parecer impraticável dizer, àquele que sofre, que se esqueça do corpo. Mas a Ciência Cristã não nos recomenda com isso nenhum truque mental nem auto-sugestão. Antes, em consagrada oração, permitamos ao Cristo, à Verdade, que transforme o pensamento. Voltemo-nos para Deus de todo o coração; olhemos para além de nós mesmos e expressemos, em nossas orações, solicitude pelos demais; acolhamos algo da identidade espiritual do homem como a semelhança de Deus. Muitos constataram que, em assim agindo, depararam-se com uma coisa notável: o corpo tornou-se servo, ao invés de senhor. O sofrimento desapareceu. Houve cura.
Lembremo-nos da vitória de Jó: “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos.”
 
    
