Como em Boston eu morasse com Joseph Mann e a irmã, antes de se mudarem para Pleasant View, Joseph contou-me de sua primeira cura na Ciência Cristã. Visto que foi muito valiosa para mim, por ter sido prova do poder da Verdade, e também devido ao interesse pessoal que a Sra. Eddy tomou pelo caso, eis o relato dessa cura.
Essa cura ficou amplamente conhecida na época em que ocorreu, pois foi apresentada em audiência perante uma Comissão de Médicos e Farmacêuticos que tentavam, por meio de legislação, impedir a prática da cura pela Ciência Cristã. A Liga Nacional de Liberdade Constitucional de Boston e Nova Iorque publicou um panfleto que incluía “O Caso da Ciência Cristã” tal como fora preparado pelo Juiz Septimus J. Hanna, então Redator da revista The Christian Science Journal. Nesse artigo, o testemunho de Joseph Mann foi publicado como segue:
“Depoimento
“Estado de Massachusetts,
Condado de Suffolk. }ss.
“Joseph G. Mann, devidamente sob juramento, declara solenemente:
“Em novembro de 1886, recebi acidentalmente um tiro com um revólver de calibre trinta e dois, entrando a bala pelo lado esquerdo do peito, perto do mamilo. Fiquei imediatamente inconsciente, fui carregado para dentro de casa e deitado na cama mais próxima. Depois da chegada de nosso médico, a família foi informada de ter eu recebido um ferimento fatal; ele considerava o caso, de fato, tão sério que não estava disposto a assumir sozinho a responsabilidade. Portanto, foram chamados às pressas mais três médicos bem conhecidos e eminentes. Um deles era conhecido na cidade de onde vinha, como cirurgião muito habilidoso. Todos os quatro estão hoje em dia na prática profissional médica, e o seu conceito é considerado tão bom quanto o de qualquer outra pessoa dessa profissão, e na comunidade na qual vivem são conhecidos como homens honestos. Examinaram o ferimento cuidadosa e minuciosamente e chegaram à conclusão de ser inútil sondar o ferimento para procurar a bala, pois se o tentassem, ou de qualquer maneira me movessem, eu morreria nas mãos deles. Concluíram ademais que, a julgar pela excessiva hemorragia, tanto interna como externa, e pela cor esquisita do sangue, a bala havia tocado o coração e estava provavelmente alojada no pericárdio.
“Os médicos informaram à família que não podiam estancar o fluxo de sangue e se o tentassem externamente, eu ainda estaria sangrando internamente, e continuaria a sangrar até morrer.
“Depois de algumas horas realizaram uma conferência num quarto contíguo e então disseram à família que não havia esperança, dizendo a meu pai: ‘Sr. Mann, lamentamos muito, mas não podemos fazer coisa alguma pelo seu filho.’ Na sua tristeza e desespero meu pai lhes implorou que não deixassem de tentar nada daquilo que o dinheiro pode proporcionar, que procurassem qualquer outro auxílio que pudesse trazer esperança; mas eles disseram que seria inútil.
“Com esse veredicto os três partiram. Enquanto isso o nosso médico da família ainda deixou-se ficar, mantendo a família informada de que eu estava morrendo aos poucos; o corpo estava esfriando, e antes que ele saísse de casa os olhos estavam ficando vidrados e o suor da morte brotava da fronte. Quando saiu, disse aos nossos amigos consternados que a morte estava tão perto, a ponto de mal se perceber o meu pulso. Toda ajuda humana tinha agora desaparecido, e a última esperança abandonara a família. Os médicos estavam tão certos de minha morte que eles mesmos disseram, de passagem, aos nossos amigos e parentes, que nunca me veriam outra vez com vida. Prepararam-se telegramas para estarem prontos e espalharem a notícia de que eu havia morrido.
“Neste último momento a Ciência Cristã foi providencialmente trazida à nossa porta. Os membros da família nunca haviam ouvido falar desse (para eles) novo método de cura e recusaram-se a admitir o Cientista; pois, como diziam, não queriam ninguém para fazer experiência no moribundo a quem os médicos haviam desenganado.
“Assegurou-se-lhes, todavia, que o paciente não seria tocado e que também não receberia remédio; e que ‘a extrema necessidade do homem tem sido (é) a oportunidade de Deus’. Dentro de cerca de quinze minutos depois de terem admitido a Ciência Cristã em nossa casa, meu corpo, com o tratamento, começou repentinamente a recuperar o calor. Minha respiração reavivou-se outra vez e se tornou normal. Recuperei a consciência, abri os olhos e sabia que não morreria, mas viveria. Na mesma noite, sentei-me na cama e comi um pequeno bife e torradas. A dor cruciante que eu sentira durante os momentos de consciência, enquanto estava morrendo, tinha desaparecido e eu estava constante e rapidamente recuperando as forças e a saúde. Apesar da grande perda de sangue, senti-me no dia seguinte suficientemente forte para que minhas roupas encharcadas de sangue (as quais haviam secado durante a noite e tiveram de ser cortadas para poderem ser tiradas) fossem trocadas por roupas limpas. A não ser o ato de lavar o ferimento e o corpo, a fim de limpá-los do sangue, nenhuma atenção maior se lhes deu. Os médicos, ao saber que eu não tinha morrido, predisseram que ainda se manifestariam a gangrena e outros males, especialmente devido à excessiva hemorragia interna, e que isso certamente produziria a morte. No entanto, eu continuava a melhorar. O mesmo poder que me tinha trazido a este ponto de recuperação, evitou também os maus resultados que os médicos esperavam. No segundo dia, eu me levantei da cama e fiquei vestido durante a maior parte do tempo; e a manhã do terceiro dia encontrou-me sadio e logo cedo com a família, como se o acidente nunca tivesse ocorrido.
“É verdade que, de fato, nossa mágoa foi convertida em alegria; e para provar aos meus muitos visitantes que eu estava realmente curado e que em tão curto tempo eu era novamente eu mesmo, cantei com a família nossos conhecidos hinos da igreja; todos concordaram que minha voz era forte e sadia. Parentes que tinham vindo para assistir ao enterro, em vez disso se alegraram comigo. O ferimento sarava interna e externamente sem qualquer aparente inflamação, inchação ou supuração; e, nesse ínterim, a partir do quarto dia, saí de casa para visitar amigos, passeei de carruagem e de trenó com a família, por estradas em mau estado, com bom ou mau tempo, sem que isso me produzisse qualquer efeito prejudicial.
“A Ciência Cristã não só me curou completamente depois que os doutores em medicina tinham falhado e me haviam desenganado, mas através da compreensão que adquiri tenho me sentido de boa saúde desde então. Logo depois de haver sido curado eu sentia uma pequena sensibilidade durante as primeiras semanas em que me dediquei às minhas ocupações, mas em breve isso desapareceu inteiramente, e desde então não tive qualquer sensibilidade no ferimento.
“Na aldeia que testemunhou minha cura está a casa de meu pai, John F. Mann, onde ele reside há mais de quarenta anos. Não tenho dúvida de que ele, ou qualquer homem honesto, que seja cidadão de Broad Brook, cidade de East Windsor, Condado de Hartford, Connecticut, onde minha cura ocorreu, dará seu testemunho a qualquer leitor que queira outras provas além de minha declaração.
“A qualquer pessoa que queira inquirir-me pessoalmente sobre este caso, faço um amistoso convite para me procurar no número 418, Columbus Avenue, Boston, Massachusetts.
“
“Assinado e jurado diante de mim neste dia 27 de fevereiro, A. D. 1894 (Sinete)
“Walter L. Church, Tabelião.”
Por ocasião da cura relatada na declaração precedente, o Sr. Mann tinha vinte e dois anos de idade. Quando os médicos deram seu veredicto de que a morte era inevitável, a tristeza da família foi ainda mais intensa pelo fato de ter sido um cunhado dele quem o baleara acidentalmente, quando os dois jovens praticavam tiro ao alvo com revólveres calibre trinta e dois. Quando a vida lhe voltou, a família celebrou com grande alegria, e sua gratidão por essa cura pela Ciência Cristã foi profunda. Isso fez com que três irmãos e duas irmãs tomassem interesse ativo pela Ciência Cristã.
A primeira coisa que Joseph Mann disse, quando recuperou a consciência, foi: “É isto algo que eu possa aprender e fazer pelos outros?”
Ele começou imediatamente a estudar o livro-texto da Ciência Cristã, e muitas pessoas, ao tomarem conhecimento de sua cura, procuraram-no em busca de ajuda, e ele as curou.
Quando a Sra. Eddy foi informada desse trabalho de cura, ela convidou Joseph Mann a participar de seu Curso de Ciência Cristã, o que ele fez em 1888. Pouco depois, ele estabeleceu sua prática em Boston e a irmã, Pauline, veio morar com ele e tomou conta da casa. Dez anos mais tarde, ao ter conhecimento de que a Sra. Eddy necessitava de um administrador para sua propriedade de Pleasant View, ele ofereceu os seus préstimos e deixou uma bem-sucedida prática, a fim de ajudá-la. Naquele mesmo ano, a Sra. Eddy o convidou a integrar sua última classe de alunos, a renomada “classe dos setenta”.
Um dia, quando a Sra. Eddy conversava com Joseph Mann, ela o inquiriu pormenorizadamente sobre sua notável experiência e especialmente acerca da regeneração que nele se processara enquanto esteve às portas da morte, uma mudança que resultara de uma experiência quase igual a ter morrido e ressuscitado.
A Sra. Eddy resumiu o incidente conclusivamente, como me foi dito, nestas palavras: “Joseph, você teve uma maravilhosa experiência; você foi arremessado violentadamente para fora de casa, e, do lado de fora, você se levantou; não volte mais para dentro dela.”
Comecei a servir a Sra. Eddy, fazendo compras para ela e para pessoas que trabalhavam em sua casa. Logo depois, fui incumbido de levar mensagens ao Conselho de Diretores em Boston. Mais tarde, servi como Assessor desse Conselho. Esse trabalho veio dar-me a oportunidade, sob a direção da Sra. Eddy, de encontrar e recomendar Cientistas Cristãos para servirem como auxiliares em sua casa. Em 1901 fui nomeado por nossa Líder como um Primeiro Membro. (Em 1903, o nome “Primeiro Membro” foi mudado para o de “Membro Executivo” e assim continuou até que esse corpo de membros foi desfeito em 1908.) Em 1902, por voto unânime do Conselho de Diretores da Ciência Cristã, fui eleito Superintendente da Escola Dominical de A Igreja Mãe, cargo que mantive durante quatorze anos. Por recomendação da Sra. Eddy, em dezembro do mesmo ano os Diretores me nomearam membro da Comissão de Finanças de A Igreja Mãe. Servi nessa Comissão durante quase quarenta anos.
Tantas eram as exigências feitas à Sra. Eddy que, em certas ocasiões, era-lhe preciso ter vários secretários para atender à correspondência. Para atender aos secretários residentes e demais trabalhadores, era preciso um grande número de auxiliares domésticos. O trabalho de cosinheira, garçonete, camareira, de lavanderia, costura e o de camareira pessoal tinha de ser feito por Cientistas Cristãos abnegados e sinceros. Todos os que eram chamados a Pleasant View e ali empregados eram trabalhadores experientes em Ciência Cristã. Muitos tinham sido Leitores em igrejas filiais, e alguns deles eram professores e praticistas. Era um privilégio incalculável viver em Pleasant View e estar sob a instrução e supervisão de nossa Líder. A esse respeito, a Sra. Eddy escreveu no Christian Science Sentinel de 25 de abril de 1903: “É verdade que Cientistas Cristãos leais, chamados à casa da Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, podem obter num ano a Ciência que de outra forma lhes poderia custar meio século” (Miscellany, p. 229).
Contudo, a Sra. Eddy confrontava-se continuamente com o problema de manter o quadro de auxiliares de que necessitava. Algumas das pessoas que começaram a trabalhar cheias de inspiração, constataram ser difícil reter sua alegria e visão espirituais, especialmente quando a tarefa que lhes era atribuída era de natureza doméstica. Outras, viam-se impossibilitadas de continuar devido aos fortes laços de família ou por outros motivos de caráter pessoal.
Durante mais de dois anos, fiquei inteiramente encarregado de encontrar pessoal para trabalhar em Pleasant View. Mais tarde, foi formada uma comissão com essa finalidade, e passei a fazer parte dela.
Em conexão com esse trabalho, a Sra. Eddy disse-me que, ao procurar auxiliares, eu deveria dirigir-me primeiramente aos seus próprios alunos — àqueles que haviam feito um Curso de Ciência Cristã com ela. Instruiu-me que, se esses alunos estivessem fisicamente capacitados, seriam eles os que deviam servir em sua casa, pois ela conhecia o que Deus havia plantado no pensamento deles, por meio de seu ensino, e que, na hora oportuna, ela poderia despertar esse ensino e fazer uso dele. Disse ela: “Encontre alguém que goste de trabalhar pela Causa e esteja disposto a tomar a cruz por ela, tal como eu o fiz.” Eu sabia que entre as qualidades mentais exigidas por nossa Líder em seus auxiliares, incluíam-se amor, ordem, presteza, atenção, exatidão, veracidade, fidelidade, consagração e humildade. A Sra. Eddy congratulou-se comigo quando, numa de minhas entrevistas com ela, eu lhe disse: “Mãe, ao procurar auxiliares para a senhora não procuro encontrar alguma personalidade aprazível. Procuro a qualidade mental que reflete a grande revelação dada pela senhora ao mundo.” Em suas entrevistas pessoais com futuros auxiliares, tomei conhecimento de muitos casos em que, na primeira entrevista, ela foi capaz de discernir claramente o modo de pensar e o caráter dos candidatos. Isso prova sua compreensão da Mente divina. A Sra. Eddy sabia imediatamente se uma pessoa podia ou não podia qualificar-se como membro de seu corpo de auxiliares. Nunca houve qualquer dúvida a esse respeito. Aprendi que ela sempre estava certa, fosse lá o que fosse que eu pudesse ter pensado a respeito do potencial de um candidato. Vendo sua grande intuicão e sabedoria manifestarem-se repetidamente, cheguei à conclusão de que sua capacidade de julgar estava tão perto da perfeição quanto seria possível neste mundo.
Um dia, quando eu estava na companhia da Sra. Eddy, ela chamou sua camareira pessoal e pediu que esta lhe trouxesse determinada coisa. A camareira voltou, trazendo algo totalmente diferente do que aquilo que a Sra. Eddy lhe havia pedido. A Sra. Eddy encarou-a firmemente e disse: “Querida, isto não é o que lhe pedi para trazer; eu lhe disse para trazer [e citou o que pedira], e lhe disse onde a encontraria. Agora, vá buscá-la.”
Voltando-se para mim, a Sra. Eddy comentou, tanto quanto me recordo: “É isso o que o magnetismo animal faz aos membros de minha casa, e dirão: ‘A Mãe às vezes esquece!’ ” Alguns momentos mais tarde, a capacidade que a Sra. Eddy tinha, de ler o pensamento acuradamente, evidenciou-se mais uma vez, pois pouco tempo após eu tê-la deixado, encontrei a mesma camareira no saguão, e ela me disse: “A Mãe às vezes esquece o que ela pediu!”
Numa carta, a Sra. Eddy me escreveu: “Nunca podemos saber quem é realmente um Cientista Cristão até que seja testado no fogo; então, o que resta é escória sem uso até que seja purgada e purificada, ou são qualidades que o mal não será capaz de destruir, e são mantidas pelo poder de Deus.” Ela explicou ainda que, em alguns casos, o resíduo não passava de mera vontade humana que cega a si própria ou é sensual, enquanto que somente o oposto disto constitui o indivíduo e, ainda mais, o Cientista Cristão.
Em certa ocasião, a Sra. Eddy disse-me, em substância: “A primeira coisa que faço de manhã ao acordar é declarar que não terei outra mente diante da Mente divina, e me tornar plenamente consciente dela, e aderir a isso durante o dia inteiro; então o mal não me pode atingir.” Muitas vezes ela me disse: “Todas as minhas horas são Suas.”
Revelando a glória de sua descoberta, ela me escreveu, numa carta datada de 2 de agosto de 1906:
Pleasant View,
Concord, N.H.
2 de agosto de 1906.
Muito querido da Mamãe:
Se você souber de quem se trata, saberá também por que é assim. Sua querida carta me fortalece. Estou passando por muitas das experiências que mencionou, mas numa base completamente oposta: “Quando primeiro aprendi a conhecer o meu Senhor” eu estava tão certa da Verdade, minha fé era tão forte na Ciência Cristã como então a descobri, que eu não tinha lutas a enfrentar; mas permanecia na altitude dessa glória como um monarca coroado, triunfante sobre o pecado e a morte. Mas contemple-me agora a lavar essa compreensão espiritual com minhas lágrimas! Aprendendo aos poucos a totalidade da Mente Onipotente; e a nulidade da matéria, sim a nulidade absoluta do nada e o algo infinito do TUDO. Ó, agüente comigo, meu querido, até que eu alcance a altitude, a profundidade, a luz do Horebe da Vida divina — o Amor divino, a saúde, a santidade e a imortalidade divinas. Não só o caminho parece ser longo, mas muito reto e estreito. Com todo o amor em Cristo, Sua para sempre,
Mary Baker Eddy
A quarta parte deste artigo por Calvin C. Hill
será publicada no próximo número.
¹ Boston: A Sociedade Editora da Ciência Cristã, 1979.
